-
No dia 20 de maio, uma jovem moradora da Taquara,
zona oeste do Rio, saiu de casa para ir a um baile funk no morro da Barão. Dois
dias depois, foi vítima de um estupro coletivo no alto da comunidade. A
violação do corpo da vítima foi registrada em vídeo e foto, e divulgada em
redes sociais. O crime chocou o País e teve repercussão internacional. O R7 refaz os passos da investigação até agora
e aponta o que falta ser explicado sobre o caso.
Rede Record / Estadão Conteúdo
-
20/05: A adolescente sai de casa em direção ao morro da Barão para um baile funk. Acompanhada de uma vizinha, que já se apresentou à polícia, de Lucas Perdomo dos Santos e de Raí de Souza, de 22 anos, a jovem vai a noite na festa. A vizinha diz que o grupo consumiu maconha e 'cheirinho da loló'
Reprodução
-
21/05: A menina vai a uma casa com os três por volta das 7h. Por volta das 10h, os dois meninos e a vizinha saem do local e deixam a adolescente desacordada. Um traficante identificado como Moisés Lucena entra na residência e leva a vítima desacordada para o 'abatedouro', casa abandonada onde foi estuprada, segundo a polícia. A vítima acredita
que alguém colocou alguma droga em seu nariz ou boca, porque não se lembra do
momento em que teria dormido ou sido levada para o 'abatedouro'. Segundo a polícia, Moisés, conhecido como Canário, foi o primeiro homem a estuprar a jovem. Ao menos seis outros traficantes teriam estuprado a vítima.
22/05: No momento em que a vítima desperta, quatro
homens estão sobre o seu corpo, segundo ela. No local, cerca de outros 30, portando fuzis e
armas, riem e xingam a menina, conforme o primeiro depoimento. Na noite do dia 22, Raí, um traficante identificado como Jefinho e Raphael Assis Duarte Belo, de 41 anos, abusam da vítima pela segunda vez. No celular de Raí, ao menos dois vídeos com a jovem nua e desacordada são produzidos. Ainda não está claro sobre o horário e de que forma a adolescente saiu do 'abatedouro'.
Divulgação/Polícia Civil do Rio de Janeiro
-
23/05: A jovem chega à casa em que mora com os pais, o irmão e o filho, em um condomínio de classe média, vestida com as roupas masculinas e sem o telefone celular.
24/05: Ela sai de casa em direção ao morro da Barão para tentar recuperar o celular. Na comunidade, a adolescente descobre que aparece desacordada e nua em um vídeo de cerca de 40 segundos. Nas imagens, um homem toca suas partes íntimas e outro diz a frase “Mais de 30 engravidou”, em alusão a uma música de MC Smith. Ainda é possível ouvir a risada de uma terceira pessoa no vídeo. O vídeo, segundo a Polícia Civil, foi feito após a vítima ser estuprada por um grupo de traficantes. Não há esclarecimento sobre o que acontece depois da gravação das imagens
Reprodução
-
25/05: Os
usuários “juninhopierre” e “michelbrasil7” divulgam no Twitter as imagens. Em
uma imagem congelada do vídeo, o primeiro diz: “Amassaram a mina, entendeu ou
não entendeu?”. Na foto publicada por “michelbrasil7” é possível ver um homem
ao lado da vítima desacordada e as suas partes íntimas expostas, com a legenda:
“Estado do Rio de Janeiro inaugura o novo túnel para a passagem do trem bala do
Marreta”. Marreta é um dos traficantes mais importantes da maior facção
criminosa do Estado, e foi preso em dezembro de 2014.
O Ministério Público do Rio de Janeiro recebe cerca de 800
denúncias em relação à divulgação das imagens.
Reprodução
-
25/05: A adolescente é levada para casa por um homem que se identifica
como agente comunitário. Ele diz que a levou para casa depois que viu a
repercussão do vídeo e a encontrou “mal” pela comunidade. Ainda não há
informações sobre o local em que a vítima passou a madrugada de quarta.
A Polícia Civil identifica os dois suspeitos de divulgarem
os vídeos: Marcelo Correa, de 18 anos, e Michel Brazil, de 20 anos.
Divulgação
-
26/05: A vítima
depõe na Polícia Civil e faz exames no Instituto Médico Legal. Ela relata
sentir fortes dores no útero e se declara usuária de drogas como ecstasy e “cheirinho
da loló”, mas ressalta que não fazia uso há um mês.
A DRCI (Delegacia de
Repressão aos Crimes de Informática), do delegado Alessandro Thiers, assume o
caso
WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
-
27/05: A Polícia
Civil divulga o nome de dois homens envolvidos no estupro: o jogador de futebol e 'ficante' da vítima, Lucas, de 20 anos, e confirma Raphael Belo como um dos suspeitos. Ele é o
homem que aparece em uma selfie ao lado da vítima e a levou em casa, se passando
por agente comunitário.
Alessandro Thiers diz não poder afirmar a existência do
estupro. A delegada Cristiana Bento, da DCAV (Delegacia da Criança e
Adolescente Vítima), passa a acompanhar as investigações.
Lucas, Raí e a vítima depõem na Polícia Civil. Lucas afirma em depoimento que não tem relacionamento com a
adolescente, e confirma que na noite do crime transou com outra garota. Raí diz ter
feito sexo consensual com a adolescente de 16 anos e assume a autoria do vídeo.
Ao entrar na delegacia para depor, Raí sorri e acena para as fotos.
A adolescente vítima do estupro se diz constrangida com a
forma com que Alessandro Thiers conduz o depoimento. Acompanhado da namorada,
ele expõe as fotos e vídeos da investigação à adolescente e pede: “conta aí”. Na
sala, outros dois inspetores acompanham a oitiva, mesmo com a reclamação
inicial da jovem de “ter muito homem na sala”. Thiers questiona se a jovem
tinha hábito de fazer sexo em grupo e se foi cooptada pelo tráfico de drogas
WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
-
28/05: O caso de
estupro coletivo ganha repercussão internacional. A vítima recebe manifestação
de apoio nas redes sociais com a campanha “Eu luto pelo fim da cultura do
estupro”.
A advogada da adolescente, Eloisa Samy Santiago, pede ao Ministério Público afastamento de Thiers do caso, por postura machista e criminalização da vítima.
A Polícia Militar faz operação no morro da Barão e localiza
a casa em que a jovem foi violentada.
OAB-RJ passa a acompanhar investigação após críticas ao
delegado Alessandro Thiers
Divulgação/Polícia Civil do Rio de Janeiro
-
29/05: Após críticas, o chefe da Polícia Civil transfere para a DCAV a investigação do caso e da divulgação das imagens.
A família da adolescente entra para o Programa de Proteção à Criança e Adolescente Ameaçados de Morte e dispensa Eloisa Samy
Reprodução / Rede Record
-
30/05: A delegada
Cristiana Bento pede a prisão de seis envolvidos no estupro. Além de Michel,
Marcelo, Lucas, Raí e Raphael, também devem ser presos Sergio Luiz da Silva
Junior, o da Russa, chefe do tráfico no morro da Barão.
Laudo preliminar do IML não aponta indícios de violência
física e sexual contra a adolescente. A titular da DCAV confirma que o vídeo
divulgado nas redes sociais é prova suficiente para confirmar que houve estupro
e diz querer saber qual a extensão do crime e quantas pessoas participaram.
Ministério Público Federal abre procedimento para investigar
a divulgação e compartilhamento das imagens.
Acompanhada da mãe, do pai, do irmão, do filho de três anos
e da avó, a adolescente deixa o Rio de Janeiro após ameaça do tráfico de
drogas
PAULO CAMPOS/ESTADÃO CONTEÚDO
-
30/05: Raí se apresenta à DCAV e Lucas é preso em um restaurante,
antes de uma “entrevista coletiva”. Parentes
e amigos de Raí fazem protesto contra a vítima de estupro.
O time Boavista, em que Lucas atuava, suspende o contrato com o suspeito
WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
-
31/05: O advogado
de Raí aponta Jefinho como autor das imagens, mas
confirma que o vídeo foi gravado no celular do seu cliente.
Raphael Belo divulga carta em que pede desculpa à vítima e a
todas as mulheres. Ele confirma que foi o responsável por levar a jovem em casa
e conta que não teve conjunção carnal com a vítima. O suspeito diz se
arrepender de ter “zombado de alguém naquele estado”
Reprodução
-
1º de junho: Raphael
Belo se entrega à polícia por não querer “viver fugindo de algo que não fez”.
Uma amiga da adolescente se apresenta à polícia, acompanhada
do advogado de Lucas, e mostra mensagens em que a vítima nega participação do
jogador no crime.
Arquivo Pessoal | PAULO CAMPOS/ESTADÃO CONTEÚDO
-
1º de junho: Ministério Público ordena que Corregedoria da Polícia Civil investigue postura de Thiers durante os três dias em que ele conduziu as investigações sobre o caso.
Cristiana Bento diz acreditar que a saída da adolescente do Estado é o melhor para a sua segurança mas lamenta a dificuldade de investigação
PAULO CAMPOS/ESTADÃO CONTEÚDO
-
02/06: Raí e
Lucas são transferidos para Bangu 10. Raphael Belo permanece na Cidade da
Polícia para prestar esclarecimentos.
Cristiana Bento afirma que depoimento de Raphael ajuda a
esclarecer investigação. A delegada pede a liberdade de Lucas Perdomo por não
acreditar que seja necessária a prisão dele, mas o mantém como envolvido no
crime.
A Polícia Civil pede a prisão de mais dois suspeitos:
Jefinho, apontado como autor do vídeo, e Moisés, conhecido como Canário,
identificado pela adolescente como um dos quatro homens que estavam em cima
dela no momento em que acordou
Vinicius Dônola
-
03/06: Lucas Perdomo é solto. A delegada Cristiana Bento diz que não há razões para mantê-lo preso, mas diz que ele continuará sendo investigado.
Raphael Belo é transferido para Bangu.
Polícia conclui que adolescente foi estuprada em dois momentos: após o baile funk e no momento da gravação dos vídeos, na noite de domingo.
Reprodução
-
05/06: A Polícia Civil divulga novo vídeo encontrado no . Nas imagens, a adolescente pede que Raí, Jefinho e Moisés (foto) parem com os atos sexuais e reclama de dores. É a segunda prova material de que houve o estupro contra a vítima.
As buscas pelos dois homens que divulgaram as imagens na rede social, pelo traficante Da Russa e por Jefinho e Moisés continuam.
06/06: Cristiana Bento diz que a adolescente é 'vítima do estupro e da sociedade' e aponta negligência do Estado com a vida da jovem.
As últimas investigações não indicam o número inicialmente divulgado - 30. A polícia acredita que o número era somente uma referência ao funk. Delegada Cristiana Bento acredita que por 'confusão ou trauma', adolescente elevou número de abusadores.
Reprodução
-
09/06: Polícia localiza casa em que vítima esteve antes de ser levada por Moisés Lucena para o abatedouro.
17/06: Polícia Civil indicia sete pelo crime: Raí, Raphael, Da Russa, Moisés, Marcelo, Michel e o adolescente Perninha, antes identificado como Jefinho.
20/06: Ministério Público denuncia Raí, Raphael, Da Russa e Moisés pelo crime. Autos referentes ao adolescente são encaminhados à Promotoria de Infância. Divulgação feita por Marcelo e Michel deverão ser enviadas à Justiça Federal.
23/06: Justiça do Rio não aceita denúncia contra Da Russa, mas pede prisão preventiva dos outros três. Moisés é o único foragido. 2ª Vara Criminal aceita enviar autos de Marcelo e Michel para Justiça Federal.
Divulgação