Sininho ganhou a liberdade após ficar 12 dias detida em Bangu
Sandro Vox/Ag. O DiaAcusada de liderar uma "quadrilha armada para a prática de atos violentos em protestos" no inquérito policial que fundamentou a denúncia do Ministério Público contra 23 militantes no Rio, a produtora cultural Elisa Quadros Sanzi, a Sininho, de 28 anos, afirma:
— Por mais que mirem em mim, estão destruindo uma pessoa, mas não vão destruir o movimento.
Elisa foi presa na véspera da final da Copa do Mundo e ficou 12 dias em uma cela da penitenciária de Bangu, zona oeste carioca, até ser beneficiada por habeas corpus na quinta-feira passada (24).
Perguntada pelo jornal O Estado de S.Paulo sobre a acusação de ser uma das lideranças da FIP (Frente Independente Popular), ela afirma:
— Historicamente, o Estado, o poder, precisa criar um líder para matar e criminalizar o movimento. É isso o que estão fazendo. E vão fazer com todos. Vão destruir as identidades através da mídia, para depois justificar prisão, tortura e assassinato. Eles precisam disso. Mas o movimento é espontâneo, não aceita esse tipo de coisa. Não adianta tentar criar o que não existe.
Elisa classificou de "abobrinha e história surrealista" o conteúdo do processo de 15 volumes contra os 23 acusados. "Somos perseguidos políticos", diz ela, que usa como perfil no Facebook uma foto de Maria Auxiliadora Lara Barcelos, a Dora, presa, torturada e banida para o Chile durante a ditadura, que suicidou-se em 1976, em Berlim, no exílio.
— Vão fazer 5.000, 20 mil páginas de abobrinhas, de história surrealista. Porque não existe, são 23 pessoas que mal se conhecem. Nunca falei com a maioria dessas pessoas. Que líder é esse que não fala com os seus? Não existe liderança.
Orientada pelo advogado Marino D'Icarahy, Elisa não comentou trechos do inquérito policial, como o depoimento de uma testemunha que a acusa de ter incitado manifestantes a incendiar o prédio da Câmara de Vereadores do Rio — o suposto plano teria sido abortado por outros militantes.
Ela não se diz anarquista, mas "libertária".
— A polícia não sabe o que é anarquismo. Dentro de um movimento espontâneo, de massa, que a gente está vivendo no Brasil, existem várias linhas de pensamento político diferentes, e cada um atua da forma que acredita. É isso o que faz [o movimento] ser horizontal. Tem anarquista, tem comunista, tem socialista e tem até capitalista no meio desse povo querendo destruir o sistema, como eu não sei. Eu sou uma libertária.
Elisa afirmou ter presenciado "torturas psicológicas" e ter sido impedida por agentes penitenciárias de cantar palavras de ordem e músicas de Chico Buarque e Geraldo Vandré, entre outras, no período em que ficou presa em Bangu.
— Elas falavam: canta hino de louvor ou pagode. Você ali é refém, aí não canta.