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27 de Maio de 2016

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Caso Adrielly: médico é indiciado por estelionato e falsidade ideológica por faltar a plantões

Na noite de Natal, menina esperou 8 horas por cirurgia e morreu dias depois

Do R7 | 11/01/2013 às 14h30 | Atualizado em: 10/01/2013 às 16h38
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Além do crime de omissão de socorro, o neurocirurgião Adão Crespo também responderá por estelionato contra administração pública e falsidade ideológica. Isso porque, segundo a Polícia Civil, o médico assinava as folhas de ponto no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, zona norte do Rio, sem comparecer ao trabalho e ainda recebia os salários. Crespo faltou ao plantão na noite Natal quando a menina Adrielly dos Santos Vieira, dez anos, esperou oito horas por uma cirurgia e acabou morrendo dias depois.

Na terça-feira (10), a delegada Izabela Santoni, da Delfaz (Delegacia Fazendária) esteve no Salgado Filho, onde constatou que o médico, durante todo o mês de novembro, faltou ao trabalho, porém assinou a folha de ponto com apenas uma falta. A delegada quer ouvir o chefe da emergência do hospital, que não comunicou as faltas do neurocirurgião lançadas no livro de ocorrências à direção da unidade.

Procurado pelo R7, assessoria de imprensa do neurocirugião informou que, até as 14h desta sexta-feira (11), Crespo não havia recebido a comunicação oficial do indiciamento e, por isso, não se manifestará sobre o assunto.

Médico diz que seu erro foi "se demitir"

Na quarta-feira (9), em entrevista ao R7, o neurocirurgião disse que faltava aos plantões para ser demitido do Salgado Filho, o que, segundo ele, era de conhecimento da direção do hospital.

Ele contou que decidiu pedir demissão porque não concordava com a realização de neurocirurgias com uma equipe constituída somente por um neurocirurgião, o que colocava em risco a vida dos pacientes. O médico argumentou, no entanto, que o processo burocrático de demissão é longo, de vários meses, e que, durante esse período, ele teria que continuar trabalhando e fazendo o que não achava correto. 

Segundo o médico, ele optou por abandonar o emprego, que se caracteriza pela falta de 30 dias, e deixou de comparecer aos plantões a partir de dezembro de 2012.

— Não omiti socorro. Meu único erro foi a maneira como escolhi para ser demitido. E o erro da minha chefia foi saber que eu estava em processo demissionário — não compareci ao hospital no mês de dezembro — e, sem me avisar, me incluiu na escala.

Procurada pelo R7, a SMSDC (Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil) informou que o pedido de demissão é feito diretamente junto à SMA (Secretaria Municipal de Administração) pelo próprio servidor. Segundo a nota divulgada pela secretaria, "a partir do momento que o profissional protocola seu pedido de exoneração, não há mais necessidade de comparecimento ao local de trabalho. A falta por um período de 30 dias acarreta o início de processo administrativo de afastamento por abandono de plantão".

A secretaria informou ainda que as faltas devem ser comunicadas à chefia da emergência ou à direção para que algum procedimento possa ser tomado, de acordo com a avaliação da situação, que podem ser, por exemplo, desde a convocação de um profissional de sobreaviso, remanejamento de profissional, transferência imediata do paciente ou direcionamento de novos pacientes a outras unidades da rede.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

R7 - Há quanto tempo o senhor trabalhava na unidade?

Gonçalvez - Desde 1987, ou seja, 25 anos. Fui um dos fundadores do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Salgado Filho junto com cerca de 20 colegas.

R7 - Quais os motivos que o levaram a pedir demissão do Hospital Municipal Salgado Filho?

Gonçalvez - Não concordava com a realização de neurocirurgias com uma equipe constituída somente por um neurocirurgião, colocando em risco a vida dos pacientes e aumentando a possibilidade de complicações cirúrgicas, pelas quais eu seria o único responsável. Nunca pratiquei neurocirurgia sem uma equipe completa na clínica privada, não vejo porque faria diferente no hospital público.

R7 - A formalização da demissão já havia acontecido quando ocorreu o incidente com a menina Adrielly? Quando foi a última vez que o senhor trabalhou no hospital?

Gonçalvez - O processo burocrático de demissão de um médico estatutário é longo, de vários meses e, durante este período, eu teria que continuar trabalhando e fazendo exatamente aquilo que não achava correto. Assim, após comunicar a minha chefia imediata, dr. José Renato Ludolf Paixão, chefe do serviço de neurocirurgia do HMSF, deixei de comparecer aos plantões a partir de dezembro de 2012. Com isto, após 30 dias de falta, seria iniciado um processo administrativo de abandono de emprego e demissão.

R7 - A unidade procurou pelo senhor na noite de Natal, uma vez que o seu nome aparecia na escala?

Gonçalvez - Não recebi nenhum contato, tanto pelo telefone celular como residencial. Eu não sabia que estava na escala. Não era para estar. Não passou pela minha cabeça que meu nome pudesse estar nesta escala, haja visto a minha comunicação prévia ao chefe de serviço dias antes.

R7 - Como o senhor avalia, em termos de organização e responsabilidade do hospital, o ocorrido com a menina Adrielly?

Gonçalvez - É evidente que o prognóstico de vida da menina era bastante reservado em função das características da lesão, uma cirurgia mais precoce não alteraria o resultado, já que 99% dos pacientes com este tipo de lesão ou morrem ou ficam em estado vegetativo. Naturalmente, o poder público não supriu o melhor tratamento médico possível, existem vários fatos que não foram esclarecidos quanto a não remoção da menor ou contato ao chefe de serviço, mas é evidente que a demora de atendimento ocorreu. Embora a menor provavelmente não se beneficiasse de um tratamento mais adequado, a carga de sofrimento e revolta da família seria muito menor com um atendimento correto.

R7 – Como o senhor avalia a acusação de omissão de socorro?

Gonçalvez - Eu sou médico, não advogado. No meu raciocínio de médico, para ser omisso eu precisaria saber que a menina havia sido baleada e que eu tivesse condições de ajudá-la. Talvez um criminalista pudesse definir melhor o que é omissão de socorro. Sinceramente, não entendo como posso ser culpado por um problema que eu desconhecia. Ninguém me telefonou, ninguém pediu minha ajuda ou colaboração. Se tivessem me ligado, teria ido imediatamente para o hospital.


 
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