A Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que a mulher vítima de estupro coletivo em São Gonçalo, na madrugada da última segunda-feira (17), foi conduzida na mesma viatura que os suspeitos, pois os outros veículos da corporação estavam "empenhados em ocorrências". No trajeto, a mulher denunciou ter sido novamente molestada. A Polícia Civil e a própria PM abriram procedimentos para investigar a conduta dos agentes.
Conduzida à delegacia ao lado de seus agressores, a mulher voltou a ser molestada no carro da PM. Na delegacia, o agente escreveu termos vulgares ao registrar a ocorrência, com expressões como "boquete triplo", "fizeram anal e vaginal", "não usaram camisinha, no pelo", e ainda "que a declarante só gritou quando empurraram um galho de árvore na sua bunda". A vítima ficou bastante machucada após o crime, conforme atestou laudo.
A polícia informou nesta segunda-feira (24) que identificou cinco suspeitos de terem participado do estupro coletivo, além dos dois adolescentes que já tinham sido apreendidos em flagrante no dia do crime. A vendedora estava em um bar na comunidade onde vive, na madrugada de 17 de outubro, quando foi abordada pelos suspeitos e levada a um local para ser estuprada.
O crime foi flagrado por policiais militares, que faziam uma operação contra o tráfico de drogas na comunidade. Os dois adolescentes foram detidos e os demais suspeitos conseguiram fugir. A vítima informou que cerca de dez homens participaram do crime.
A delegada titular da Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher) em São Gonçalo, Débora Rodrigues, pediu a inclusão da mulher no Programa de Proteção à Testemunha. Segundo a delegada, ela vem sendo ameaçada de morte pelos criminosos que ainda não foram presos.
— Tendo em vista que ela denunciou traficantes do local, entendo que o caso é muito grave. Depois que fez o registro [da ocorrência] ela passou a ser ameaçada.
O pedido foi encaminhado à subsecretaria de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos, mas a vítima já está afastada de São Gonçalo para que sua segurança seja preservada. Aos 34 anos, a mulher tem três filhas e este foi o quarto ataque que sofreu.
O ataque
O caso foi revelado pelo jornal Extra. A vendedora estava em um bar com um amigo, no bairro Lagoinha, em São Gonçalo, quando quatro jovens ligados ao tráfico da região a arrastaram para o banheiro do bar. De lá, ela foi levada para uma rua deserta e com pouca iluminação, onde passou a ser estuprada pelo grupo. Outros homens se juntaram aos demais agressores. Um carro do batalhão de São Gonçalo (7º BPM) passou pelo local, a encontrou nua e a socorreu.
Os policiais encontraram dois adolescentes no caminho, que foram reconhecidos pela mulher, e detidos. Os dois seguiram na mesma viatura que a vítima e no caminho para a 74ª Delegacia de Polícia eles voltaram a importunar a mulher. O crime só foi encaminhado à delegacia especializada depois que o caso foi revelado pela imprensa.
Ao Extra, a vendedora contou que há quatro anos um ex-namorado divulgou vídeo íntimo gravado sem consentimento na favela onde ela mora. Depois disso, traficantes a estupraram quatro vezes, em quatro anos. Ela não os denunciou por temer pela segurança dela e das filhas.
Na tarde de sábado (22), a vítima prestou novo depoimento e afirmou que participaram do ataque cerca de dez homens. Segundo a delegada da Deam, a mulher está sendo assistida pela Defensoria Pública e a subsecretaria de Políticas Públicas.
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