Carta foi entregue por Orlando aos advogados no presídio de Bangu
Reprodução/Record TV RioApontado por uma testemunha como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando da Curicica, redigiu uma carta na qual afirma não ter envolvimento no crime.
A mensagem, escrita de próprio de punho, foi entregue na tarde desta quarta-feira (9), aos advogados, durante visita ao Complexo Penitenciário de Bangu, onde Orlando cumpre pena.
Na mensagem, ele cita o nome da testemunha, que seria um policial militar, e diz que o mesmo faz parte de uma milícia no Itanhangá, zona oeste do Rio de Janeiro. “Informo que a testemunha que supostamente me aponta como mandante [cita nominalmente o PM] não tem qualquer credibilidade, haja vista o referido chefia a milícia do Morro do Banco em conjunto com o tráfico de drogas da região”.
A reportagem do R7 questionou os advogados de Orlando, Renato Darlan e Pablo Andrade, como ele teve acesso à suposta identidade da testemunha, que tem sido mantida em sigilo pela Polícia Civil. A defesa informou que “pelos fatos relatados ele induziu que fosse esse policial da ativa”. O mesmo, segundo os advogados, faria parte de uma milícia.
Orlando e a suposta testemunha trabalharam juntos como segurança em eventos, mas teriam rompido após denúncias de que o policial estava envolvido com milícia e tráfico de Drogas.
Ainda de acordo com a defesa, Orlando exerce um papel de liderança em Curicica, mas não pertence a milícia.
Reuniões com o vereador
"Nunca tinha ouvido falar dela"
Record TV RioDe acordo com a denúncia, Orlando da Curicica e o vereador Marcelo Siciliano (PHS) teriam se encontraram algumas vezes. O tema das conversas seria a atuação de Marielle Franco na zona oeste cidade, área com forte presença de milícias e de grande interesse eleitoral ao parlamentar, segundo informações passadas pela testemunha em depoimento.
Ontem, em uma entrevista coletiva, Siciliano negou que houvesse disputa política entre ele e a vereadora do PSOL. Afirmou ainda que mantinha uma boa relação com Marielle e disse não conhecer Orlando da Curicica.
Na carta, Orlando também nega os encontros com o parlamentar. “Nunca estive com o vereador Siciliano em nenhuma oportunidade”. Em outro trecho, ele acrescenta: “com todo respeito à vereadora Marielle, eu nunca tinha ouvido falar dela”.
O ex-policial militar, que cumpre pena desde outubro do ano passado em Bangu, também negou o suposto envolvimento com a milícia. Em depoimento, a testemunha referiu-se a ele como chefe de grupo paramilitar que atua na Curicica. “Não há contra minha pessoa mandado de prisão por envolvimento com a milícia”, escreveu.
Um processo aponta Orlando como mandante de um assassinato ocorrido em 2015. Na ocasião, o presidente da escola de samba União do Parque Curicica, Wagner Rafael de Souza, foi morto a tiros dentro de um carro em Jacarepaguá, na zona oeste.
Ao fim da carta, Orlando se coloca à disposição para prestar esclarecimentos às autoridades e diz esperar que “a DH [Divisão de Homicídios] apure o fato mais rapidamente possível e que não acredite nessa versão armada e direcionada”.
Segundo os advogados Orlando se mostrou surpreso e triste com a denúncia e disse ter “convicção que se trata de uma armação para mantê-lo preso”.
Leia carta na íntegra:
Eu, Orlando Oliveira de Araújo, venho por meio desta esclarecer sobre os fatos que estão sendo veiculados na imprensa sobre o assassinato da vereador Marielle e de seu motorista Anderson, que não tenho qualquer envolvimento nesse crime bárbaro.
Coloco-me a disposição de todas as autoridades que apuram esse caso para pessoalmente prestar esclarecimentos. Informo que a testemunha que supostamente me aponta como mandante [cita nominalmente um policial militar] não tem qualquer credibilidade, haja vista o referido chefiar a milícia do Morro do Banco em conjunto com o tráfico de drogas da região.
Informo também que nunca estive com o vereador Siciliano, em nenhuma oportunidade e nunca estive em nenhum restaurante em sua companhia. Pois, com todo respeito a vereadora Marielle eu nunca tinha ouvido falar dela.
Não há contra minha pessoa mandado de prisão por envolvimento com a milícia e que nunca tive qualquer envolvimento.
Espero que a DH apure o fato mais rapidamente possível e que não acredite nessa versão armada e direcionada.
*Estagiária do R7, sob supervisão de Raphael Hakime