A professora suspeita de chamar um aluno de macaco dentro de sala de aula, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, negou à polícia em depoimento que tenha havido injúria racial e afirmou que apenas usou um ditado popular para repreender o estudante.
Nádia Restum, de 58 anos, prestou depoimento na segunda-feira (26) por mais de duas horas. Ela foi acompanhada de dois advogados e do marido. Um funcionário da escola disse que, há dois anos, a professora teria chamado outro aluno de “babuíno”.
A diretora da unidade também prestou depoimento e informou que o aluno tem um histórico de indisciplina na escola e que a mãe dele já havia sido chamada por conta disso. Entretanto, a mãe nega.
— Ela quer justificar um erro com uma calúnia? Ela menosprezou a cor do meu filho, isso é crime.
A professora dá aulas há dez anos, oito na mesma escola. Durante o depoimento, ela disse que está com medo, pois já foi agredida por alunos da escola. Depois da denúncia de racismo, ela pediu licença médica alegando problemas de saúde.
Segundo o advogado da suspeita, Rodrigo Martins, o trecho usado para denunciar a professora está fora de contexto.
— Foi pego um pequeno trecho de várias coisas que o aluno falou e que a professora também falou e o trecho está completamente fora de contexto. A gente vai contextualizar isso para as autoridades policiais e esclarecer que estamos tratando de uma professora de quase dez anos de carreira elogiada pela escola e pelos alunos.
A delegada Raíssa Celles informou que as testemunhas que estavam na sala de aula serão ouvidas. Segundo ela, o estudante e o policial militar que foi chamado à unidade escolar no dia do ocorrido também serão ouvidos novamente.
A denúncia partiu da mãe do menino, Ana Paula de Melo, que não tem dúvidas de que o filho foi alvo de ofensa racial.
— Ele foi discriminado, xingado, chamado de macaco por uma pessoa que estudou duas faculdades, fez dois concursos públicos, como ela mesma diz, para ser professora. O que mais me deixa indignada é que nós estamos no século 21 e uma pessoa que foi preparada para educar, ensinar, tem esse tipo de ato com o meu filho.
De acordo com a mãe, a confusão teve início por causa de um jogo de pingue-pongue dentro da sala. Enquanto a professora não chegava, os alunos juntaram as mesas para jogar pingue-pongue. Segundo o relato, a professora já chegou alterada alegando que a atitude se tratava de um desrespeito com ela. O aluno questionou a forma de falar da educadora.
O estudante disse que na hora não percebeu a proporção da ofensa, mas que, posteriormente, ao ver o vídeo, sentiu-se muito mal. Ele agradece às pessoas conhecidas e desconhecidas que estão prestando solidariedade.
Após o ocorrido, Ana Paula foi chamada pela diretora da escola para comparecer na instituição. Na reunião, a professora estava presente e disse que não chamou o aluno de macaco. Segundo a mãe, ela apenas confessou ter ameaçado ele de morte, mas se desculpou por isso.
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