Está preso o sargento reformado da Polícia Militar de São Paulo José Aparecido Ferreira, de 58 anos. Conhecido como Banana, ele era o policial militar mais procurado do Estado de São Paulo. Ferreira é réu em um processo no qual é acusado de participar de uma chacina, em 2007, contra três vizinhos, no Jardim Brasil, zona norte da capital paulista.
A prisão do sargento Ferreira foi feita pela Corregedoria (órgão fiscalizador) da PM, em São José dos Campos, a 89 km de São Paulo, no dia 12 deste mês, 31 dias após o R7 revelar que o policial militar, integrante da própria Corregedoria por nove anos, estava foragido havia mais de sete anos.
Ao saber da reportagem do R7, o sargento Ferreira começou uma articulação para fugir de São José dos Campos, segundo integrantes da Corregedoria da PM, mas não teve tempo e foi preso pelos P2, como são chamados no jargão policial os PMs que, disfarçados e à paisana, têm a missão de investigar e prender outros militares suspeitos de crimes e os criminosos comuns que matam policiais.
Também acusada de participação na chacina contra três vizinhos, uma das quatro filhas do sargento Ferreira, a auxiliar de enfermagem Isabelle Cordeiro Ferreira, 33 anos, vivia com o pai em São José dos Campos até a publicação da reportagem, mas escapou do cerco feito pelos policiais da Corregedoria da PM e segue foragida.
Acusada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público como pivô da discussão que motivou a chacina contra Vera Cristina Molina, 39 anos, sua filha, Thamirys Molina Keid, 19, e o namorado da garota, Rafael da Rocha e Silva, 22, a ex-policial militar Adriana Cordeiro Ferreira, 38, outra filha do sargento Ferreira envolvida no crime, foi condenada a 45 anos de prisão pela chacina.
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Vera Cristina, Thamirys e Rafael Silva foram mortos a tiros, segundo o Ministério Público e Polícia Civil, por conta de uma briga com as duas filhas do sargento Ferreira.
Horas antes da chacina, Vera, motorista de carteira nova, ainda enfrentava dificuldades para manobrar e guardar seu carro na garagem de casa quando, por volta das 14h daquele domingo, não conseguiu evitar um solavanco do veículo exatamente quando a ex-policial militar Adriana passava perto. Apesar de não ter sido atingida, Adriana, segundo testemunhas narraram à polícia, xingou Vera de “vaca” e perguntou se a dona de casa queria matá-la.
Depois da discussão entre Adriana e Vera, o sargento Ferreira, ainda segundo testemunhas, disse para Vera: “Hoje vocês vão ver o que vai acontecer. Eu vou calar a boca de vocês”.
Questão de honra
O sargento da PM de SP José Aparecido Ferreira foi preso, após passar sete anos foragido, em São José dos Campos (SP)
ReproduçãoPrender o sargento Ferreira era considerada questão de honra entre os policiais do P2 da PM de São Paulo. Foragido desde julho de 2007, quando pediu para ser reformado (aposentado) da PM, o sargento vivia com um salário bruto mensal de R$ 5.086,58, pago pela SPPrev (São Paulo Previdência), órgão previdenciário do Estado de São Paulo, e com o dinheiro resultante da venda da casa onde morava com a família até ser acusado da morte dos vizinhos.
Quando determinou a suspensão do pagamento da aposentadoria ao sargento, em junho de 2012, o juiz Alexandre Andreta dos Santos, do 2º Tribunal do Júri, escreveu: “Criou-se um paradoxo. O Estado que está à procura do réu no intuito de fazer cumprir a ordem de prisão [preventiva] e a citação [sobre o processo pelas três mortes], agora está financiando sua fuga por meio do benefício da aposentadoria. Para resolvê-lo, deve-se sopesar quais dos direitos em análise devem ceder, isto é, a eficácia do processo e da ordem judicial, ou o direito ao benefício do INSS [Instituto Nacional do Seguro Social]”.
A suspensão do pagamento do benefício de Ferreira aconteceu efetivamente pela primeira vez em julho de 2013, quando o coronel David Antônio Godoy, diretor de benefícios militares da SPPrev, informou que o valor seria retido em uma conta bancária da entidade previdenciária.
Apenas dois meses após a retenção do benefício previdenciário do sargento Ferreira, a 8ª Câmara de Direito Criminal, formada por cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo, concedeu liminar favorável ao foragido e ele voltou a receber a aposentadoria da SPPrev.
E essa suspensão do pagamento do benefício previdenciário do sargento Ferreira fez com que o militar e seus familiares contraíssem algumas dívidas e tivessem seus nomes negativados no mercado. Ao rastrear os comércios credores da família de Ferreira, a Corregedoria da PM conseguiu alguns locais onde ele tinha passado e o localizou em São José dos Campos.
Apesar da gravidade dos crimes atribuídos ao sargento Ferreira pela Promotoria e pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, na página de procurados da polícia paulista nunca existiu nenhuma menção ao PM. Da mesma forma, não há nada sobre Isabelle, a filha do militar foragida.
O sargento Ferreira está agora no Presídio Militar Romão Gomes, no Jardim Tremembé, na zona norte de São Paulo, e deverá ser levado ao Tribunal do Júri em 2015.