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Após morte de criança, embaixador pede mais segurança em áreas onde vivem bolivianos

Menino de cinco anos foi morto com um tiro na cabeça no colo da mãe na semana passada

São Paulo|Com Agência Brasil

Embaixador defende mais segurança em áreas onde vivem bolivianos
Embaixador defende mais segurança em áreas onde vivem bolivianos Embaixador defende mais segurança em áreas onde vivem bolivianos

Uma semana depois do assassinato do boliviano Brayan Yanarico Capcha, de cinco anos, por um assaltante em São Paulo, no momento em que era consolado no colo da mãe, o embaixador da Bolívia no Brasil, Jerjes Justiniano Talavera, defendeu uma “reação em dupla direção” por parte do governo brasileiro. Para ele, é preciso punir os responsáveis pela morte da criança e ampliar a segurança nas áreas onde vivem os bolivianos que migram para o Brasil.

— Esperamos uma reação do governo brasileiro, uma reação em dupla direção: a busca pela justiça e a punição e mais proteção nos bairros onde moram os bolivianos porque, geralmente, há ausência policial. Não mataram a criança porque era um menino boliviano. Mataram porque a delinquência não é direcionada aos estrangeiros, mas a todos.

Justiniano Talavera alertou que é preciso redobrar os esforços para tentar uma solução para os bolivianos que são explorados no Brasil. Segundo ele, a desinformação associada ao medo agrava ainda mais a situação. A seguir, os principais trechos da entrevista do embaixador à Agência Brasil.

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Agência Brasil (ABr) — O que o governo da Bolívia espera de reação do Brasil, após a morte do Brayan Yanarico, no último dia 28?

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Jerjes Justiniano Talavera — Esperamos uma reação do governo brasileiro, uma reação em dupla direção: a busca pela justiça, a punição e mais proteção nos bairros onde moram os bolivianos porque, geralmente, há ausência policial. É preciso que se faça justiça para aquele pai e aquela mãe que perderam o filho. Que o Estado brasileiro busque justiça. Mas é preciso também dar maior proteção para os bairros onde moram os bolivianos que vêm buscar oportunidades [no Brasil]. Não mataram a criança porque era um menino boliviano. Mataram porque a delinquência não é direcionada aos estrangeiros, mas a todos na sociedade.

ABr — Mas a morte do Brayan trouxe à tona a fragilidade que envolve os bolivianos que procuram a sorte no Brasil. Como o governo da Bolívia lida com o tema?

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Justiniano — Há aproximadamente 250 mil bolivianos morando no Brasil, mas calculamos que de 14 mil a 15 mil são irregulares. Infelizmente são muito explorados, embora a maioria seja de mão-de-obra qualificada, em geral, excelentes artesãos. A exploração existe pela desinformação por parte dos bolivianos, que não sabem que é possível ser legal no Brasil sem ter de passar por intermediários.

ABr — A exploração dos bolivianos no Brasil é tema constante de discussões de autoridades dos dois países.

Justiniano — Recentemente fiz uma reunião com uma comissão de parlamentares que analisa a questão da exploração e do trabalho escravo. Os parlamentares conversaram com vários bolivianos que vivem em São Paulo e estão em uma situação que nos preocupa. Os deputados ouviram deles que não querem denunciar por medo. Medo das autoridades brasileiras e bolivianas. Tudo isso precisa ser trabalhado no esforço de impedir que essas situações se repitam.

ABr — O senhor tem alguma sugestão para minimizar o problema a curto prazo?

Justiniano — Se as autoridades brasileiras pedissem minha opinião, eu iria propor que os bolivianos trabalhem na região de fronteira da Bolívia com o Brasil, e os brasileiros passem a comprar os nossos produtos [bolivianos] sem impor tarifas elevadas nem taxas. Ao meu ver, é um meio de reduzir o problema e atender a todos. Mas é só uma sugestão pessoal.

O crime

Na madrugada da última sexta-feira (28), o bando invadiu a casa dos pais de Brayan, em São Mateus, na zona leste, para fazer um assalto. Os bandidos já haviam pegado R$ 4.500, quando o menino começou a chorar. Irritado com a reação da criança e com o fato de os pais não terem mais dinheiro, Diego Freitas Campos, de 19 anos, teria atirado na cabeça de Bryan. Antes, o menino implorou: "Não quero morrer, não matem minha mãe". Mas o ladrão, que havia mandado a mãe calar a criança, apertou o gatilho.

Antes de levar um tiro na cabeça, o menino Brayan havia entregado aos assaltantes as moedinhas que mantinha em um pequeno cofre em casa. Segundo a advogada Patrícia Veiga, representante do Consulado da Bolívia que ajudou a família do garoto a resolver a burocracia relacionada ao traslado do corpo, Brayan chegou a dizer "toma la plata (pegue o dinheiro)" aos bandidos ao entregar sua pequena economia — o que não evitou que fosse morto.

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Outros bolivianos que estavam no velório do garoto neste domingo (30), no cemitério São Judas Tadeu, em Guarulhos, fizeram uma vaquinha para arrecadar fundos à família, que voltará para a Bolívia sem um tostão, uma vez que a economia feita em seis meses, R$ 4.500, foi levada. Os conterrâneos dos pais do garoto foram ao velório em ônibus alugados pelo consulado, que também vai arcar com os custos do traslado do corpo de volta à Bolívia. A família embarcou na segunda-feira (1º) para La Paz.

Prisões

No último domingo, a polícia prendeu o terceiro suspeito de participar do bando que matou Brayan. Trata-se de um adolescente de 17 anos, que chegou a ser apontado como o autor do tiro. Mas ele e os outros dois presos afirmaram à polícia que o autor do disparo foi Diego. À polícia, disseram que "não entenderam" a atitude do comparsa, que está foragido. Também confessaram ter tentado matar o comparsa. Ao ser detido, o menor carregava R$ 990.

O outro foragido, além de Campos, é Wesley Pedroso, também de 19 anos. No domingo, a polícia chegou a entrar na casa onde os dois estavam escondidos, perto do Parque do Carmo, na zona leste de São Paulo, mas eles fugiram pulando o muro. A casa tinha três pit bulls, o que dificultou o trabalho da polícia.

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