Quadrilha invadiu a Prosegur em Ribeirão Preto na madrugada de terça-feira
Fernando Calzzani/Photopress/Estadão Conteúdo
Pelo menos três grandes assaltos a transportadoras de valores ocorreram nos últimos meses no interior de São Paulo. Em todos os casos, uma quadrilha estruturada, fortemente armada e com uso de explosivos consegue levar malotes de dinheiro durante a madrugada. Nesta terça-feira (5), mais de 20 homens atacaram a Prosegur em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. O grupo trocou tiros com a polícia por uma hora e matou um policial militar rodoviário na fuga.
Em abril, uma quadrilha invadiu a empresa Prosegur em Santos com um caminhão e bombas. Os bandidos ficaram posicionados em esquinas e atiraram em todas as direções para impedir a aproximação dos policiais. Dois homens da Polícia Militar Rodoviária e um morador de rua morreram na ação. Já em março, os assaltantes renderam funcionários e invadiram a empresa de valores Protege para explodir cofres em Campinas. Na fuga, os criminosos abriram caminho à bala, atirando com fuzil contra imóveis vizinhos.
Segundo o analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de segurança Guaracy Mingardi, ainda não é possível afirmar que essa é uma nova tendência das quadrilhas, mas o especialista afirma que o crime organizado muda de acordo com a eficácia do crime.
— Os roubos a bancos foram se tornando mais complicados porque você tem alarme, porta giratória, a polícia chega rápido, o banco não tem muito dinheiro lá. Então eles começam a mudar e focam em explosão de caixa eletrônico, por exemplo.
Essa dificuldade maior em roubar bancos não é um acaso. De acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) foram investidos “no aprimoramento da segurança bancária, da ordem de R$ 9 bilhões, o triplo do que era gasto mais de dez anos atrás”. Assim, para garantir lucro e conseguir escapar da polícia, as quadrilhas passam a desenvolver novas metodologias para agir.
— O crime aprende a metodologia e vê o que é melhor, o que funciona, o que dá mais lucro. O criminoso muda rápido e o Estado demora. Quando [o Estado] se preparar para atuar nisso, se é que vão se preparar, aí tende a mudar o tipo de crime. Foi o que aconteceu com sequestro, por exemplo. Dava muito certo até 1999, 2000 e depois passou esse ciclo.
Já em relação à atuação dos criminosos fora da capital paulista, é possível observar que até maio de 2016, segundo dados da SSP (Secretaria de Segurança Pública) foram registrados 61 roubos a banco no Estado de São Paulo. Desses, 40 ocorreram na Grande São Paulo e no interior e 21 na capital. No mesmo período do ano passado os dados indicavam maior atuação de quadrilhas na capital paulista quando quase metade dos roubos ocorreram em São Paulo — 40 dos 79. Isso pode ser explicado pela presença menor de policiais ou pela distância maior dos agentes de segurança dos alvos dos assaltantes.
— Muitas cidades do interior têm policiamento proporcionalmente até maior do que na capital, mas há pouca possibilidade de ter um policial perto [dos locais do roubo]. [As quadrilhas] aproveitam a brecha para atuar onde o estado não está. A segurança pública tem cobertor curto.