Cansada dos furtos no túmulo dos seus parentes, a aposentada Vera de Carvalho Enderle, 58 anos, decidiu contratar um artista para grafitar a lápide da família Fernandes da Costa, no Cemitério do Araçá.
Os cemitérios municipais de São Paulo registram cerca de 100 violações de túmulo por mês, aponta relatório de inspeção publicado em setembro pelo TCM (Tribunal de Contas do Município).
"Eu mandei grafitar porque há três anos roubaram as letras de bronze", conta. "A única maneira de não roubarem era pintar o nome. Aí veio a ideia: ‘Ah já que vamos pintar o nome, por que não grafitar o tudo?’ A minha tia, que é dona do túmulo topou, e eu chamei um grafiteiro para fazer a arte."
O artista responsável pela obra foi o grafiteiro Catota, indicado pelo filho da aposentada.
O desenho é inspirado na avó materna de Vera, que gostava muito de margaridas e flores. Ela, o avô materno, o avô paterno, os pais de Vera e um tio-avô estão sepultados no local.
Placas de carro
Pouco tempo depois que a família revitalizou o túmulo as placas de bronze também foram furtadas, o que fez com que a Vera decidisse colocar placas automotivas, uma opção menos atraente economicamente para os furtos e diferente das tradicionais placas de pedra.
"Roubaram as placas de bronze com o nome dos falecidos e agora a gente colocou placas automotivas. Eu acho aquelas placas de pedra que ninguém rouba muito feias, aí a gente achou essa alternativa que é mais em conta ainda", explica.
A aposentada propõe ainda que a ideia do grafite seja expandida para outro túmulos, o que melhoraria a segurança e a conservação do local sem perder a noção de respeito, segundo Vera.
1.702 violações
De acordo com o TCM, 1.702 casos de violação de sepulturas foram registrados de janeiro de 2016 a maio de 2017 nos 22 cemitérios municipais da cidade.
O relatório do órgão aponta que o Cemitério do Araçá, com 239 casos, é o terceiro em termos de violação da sepultura, atrás dos cemitérios municipais da Consolação, com 680 casos, e da Vila Mariana, com 391 casos no mesmo período.
O documento fiscalizou também a situação da conservação dos muros. No Araçá, alguns pontos de muro baixo e outros em que as lanças de segurança foram quebradas foram identificados.
Recentemente, o prefeito João Dória lançou a proposta de privatizar os cemitérios municipais. O processo, porém, está suspenso pelo TCM desde setembro.
Prefeitura prevê câmeras
Procurada, a Secretaria Municipal de Serviços e Obras afirmou que o "Serviço Funerário conta com o apoio da Guarda Civil Metropolitana (GCM) para realizar a segurança nos 22 cemitérios municipais e no crematório da cidade" e que prevê a instalação de câmeras e a melhoria da iluminação nos locais.
"Duas novas ações para a ampliação da segurança estão sendo tomadas: a instalação de câmeras do projeto City Câmeras, parceria com a SMSU (Secretaria Municipal de Segurança Urbana), que começou pelas agências do SFMSP e irá se estender para os 22 cemitérios municipais e o crematório e a melhoria da iluminação, em parceria com o Ilume (Departamento de Iluminação Pública), para os cemitérios e seus respectivos estacionamentos", afirma a pasta.
De acordo com o órgão, a GCM realizou, no primeiro semestre desse ano, mais de 11 mil rondas nos cemitérios públicos. "Quase o dobro em todo o ano de 2016, que totaliza 6.926 rondas."
Ainda segunda a pasta, o serviço Funerário do Município de São Paulo registra Boletins de Ocorrência em todos os casos de furtos. "As placas dos túmulos recuperadas ficam nas administrações dos cemitérios à disposição das famílias."
Sobre o caso específico do Cemitério do Araçá, a secretaria afirma "que foi feita a reconstrução em uma extensão de 77 metros do muro". E completa: "além da reforma, já há um processo aberto para o fornecimento e instalação de concertinas (cerca de arame) nos muros dos 22 cemitérios municipais. Muito ainda precisa ser feito. Por este motivo, a atual gestão entende que a melhoria significativa na qualidade dos serviços prestados à população será obtida com a concessão dos serviços ao setor privado."
Vera fotografou diversos dos túmulos violados no cemitério, veja:
Vera registrou diversos dos túmulos violados no Cemitério do Araçá, onde está a cripta da sua família, que após diversos furtos teve as letras de bronze transformadas em letras pintadas que inspiraram um grafite. As placas de bronze também foram substituídas por placas automotivas personalizadas.
*Com supervição de Alvaro Magalhães, editor de Cidades do R7