Artistas que ocupam a Casa Amarela, como ficou conhecida a mansão na rua da Consolação, centro de São Paulo, festejam o adiamento da reintegração de posse do local que estava prevista para quarta-feira (1°).
A reportagem do R7 esteve na casa e foi recebida pelos movimentos que organizam a resistência em sair do espaço para transformá-lo em um ambiente cultural permanente para São Paulo. A nova reintegração está prevista para daqui a 90 dias, mas a intenção é apresentar um planejamento de utilização da mansão para ganhar apoio, sobretudo político.
Um dos moradores é Pedro Paulo Rocha, filho do cineasta Glauber Rocha. Ele conta que a conquista do espaço por mais alguns meses foi um triunfo.
— Durante meses fizemos várias ações com arte e política na cidade. Foram necessárias algumas intervenções, como protestar na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), para que essa reintegração fosse adiada.
O filho do renomado cineasta comenta que o espaço é usado apenas para a realização de diversos trabalhos.
— É um movimento autônomo e apartidário que se coloca em defesa da continuidade da casa, que seja um espaço aberto para pessoas morarem na arte, assim como eu, que moro na minha arte. É a chance de trazer a periferia para o centro, de mostrar o que é arte e fazer com que todos possam se expressar através dela. Para que surjam novos artistas, novos líderes, novos movimentos.
A mansão estava abandonada há mais de dez anos e foi uma sede do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social). O imóvel deixou de pertencer à União e passou para a prefeitura da cidade este mês. Os artistas ocuparam há dois anos e desde então existe as tentativas de intermediar uma concessão.
O músico Tiago Tomaz morava com os pais após o divórcio. Ele foi convidado a ir à Casa em uma noite pra tocar violão e conhecer novas pessoas. Ele foi se acostumando com o espaço e há oito meses usa o local como moradia.
— Eu tenho trabalho fixo, mas e quem não tem? Eu tenho uma grana para mim no fim do mês, mas tem várias pessoas aqui que não. Elas usam a Casa para poder fazer seu trabalho e tentar ganhar um trocado.
Artistas serão retirados de casarão ocupado na Consolação nesta quarta-feira
A casa tem 43 cômodos, sendo 27 internos. Ao som de uma música, nossa equipe andou pelo casarão acompanhado do filho de Glauber e conhecendo novos moradores e frequentadores. Entre eles Wanessa Alves, conhecida como Wanessa Sabbath, que relatou como será essa nova fase do casarão.
Ela diz que a proposta dos grupos que tentam organizar as atividades da casa é conversar com os vizinhos e moradores da cidade para que haja uma opinião por parte de todos. Diversos grupos já lideraram o espaço e alguns conflitos surgiram, como festas dadas com som alto que geram reclamações dos vizinhos.
— Nós queremos ter um diálogo com a população. Queremos saber o que eles querem, seja para abaixar ou não ter a música, seja para ter atividades culturais que eles almejam, queremos conversar. O diálogo é fundamental para a Casa Amarela crescer. Não queremos que as pessoas morem aqui. Queremos que seja um espaço totalmente dedicado à arte, vivo, aberto a todos.
Nesta quinta-feira (2), a casa promove um fórum aberto ao público para debate sobre quais atividades devem ser realizadas. Todas as oficinas e programação são gratuitas.
*Texto: Sylvia Albuquerque e Plínio Águiar