Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Documentário desvenda empreendedorismo e sucesso mercadológico do funk em São Paulo

Dirigido por Pedro Gomes, "Back to Baile de Favela" mergulha na cena e seus protagonistas

São Paulo|Juca Guimarães, do R7

Pedro, de óculos e camiseta com estampa verde, dirigiu o filme
Pedro, de óculos e camiseta com estampa verde, dirigiu o filme Pedro, de óculos e camiseta com estampa verde, dirigiu o filme

O crescimento meteórico do funk em São Paulo e as cifras, igualmente astronômicas, que o mercado movimenta impressionam. Distante da grande mídia e da órbita de influência das grandes gravadoras, os artistas, produtores, diretores e divulgadores do funk criaram praticamente do nada um rentável negócio. 

O diretor de cinema Pedro Gomes, a pedido da marca Red Bull, escreveu e dirigiu o documentário "Back to Baile de Favela" com depoimentos dos MCs Bin Laden, 2k, Nego Blue e MC Tha, Fezinho Patatyy, Natinho, o diretor de clipes Kondzilla e o jornalista e produtor Renato Barreiros - que trabalhou nos primeiros festivais de funk em São Paulo.

São dois episódios - "Sobe e Desce" e "Rompendo as Barreiras" - que revelam, na fala dos próprios personagens, a essência e a dinâmica do funk,tanto como fenomeno comportamental como negócio de sucesso. Alguns MCs paulistas já projetam carreira internacional, após shows em festivais fora do país. Confira entrevista exclusiva com o diretor Pedro Gomes, autor do documentário "Freestyle: um estilo de vida" (2008); sobre as batalhas de rimas de rap e a cultura hip-hop, com depoimentos e performances de KL Jay (Racionais MCs), DJ Primo, Max B.O., Kamau, Emicida, entre outros.

R7: Quanto tempo durou todo o projeto e execução do documentário?

Publicidade

Pedro Gomes: O projeto inteiro durou uns oito meses desde a concepção, a aprovação, a produção e a entrega. Mas, as filmagens foram entre junho e setembro de 2016.

R7: Somando os dois episódios dá menos de 10 minutos de documentário. Como foi condensar um assunto tão amplo e instigante em um tempo tão curtinho?

Publicidade

Pedro Gomes: Esse é o processo do criador, do contador de histórias, pegar toda uma realidade e condensá-la de forma natural e capaz de passar a mensagem desejada. Sempre dá trabalho essa fase, mas é uma das mais prazerosas já que estamos, de fato, vendo nascer a história que desejávamos. O importante é sempre vir do macro-cosmos para o micro e ter um viés bem claro a seguir. Escolher e delimitar bem seu tema de abordagem. Além dos dois episódios que já estão no ar, temos mais um extra a ser lançado, contando a origem do movimento aqui no estado de São Paulo.

R7: Você escreveu nas redes sociais que se orgulha de ter trabalhado com a equipe que fez o documentário, como foi a seleção do pessoal e o trabalho em equipe?

Publicidade

Pedro Gomes: Falando dos personagens né? Durante a escrita do roteiro, elegi alguns tipos que precisaríamos ter no filme, exemplos: "um mc mais da antiga", "uma mc mulher", "produtor de eventos" e claro "o mc mais bombado do ano". Tendo elencado essa galera (tem vários outros perfis também) fomos atrás de personagens reais, por se tratar de um doc, que se encaixavam ali. Desse processo começaram a surgir os nomes. Como eu já conhecia uma galera, fui transitando pelos meus contatos e chegamos em um "casting" super bacana e fácil de trabalhar. Já falando da equipe, cinema é uma arte coletiva, sempre repito essa máxima, então procuro me cercar de pessoas talentosas e bacanas no trato, não gosto daquele perfil talentoso, porém, arrogante. Busco, sempre que possível, trabalhar com as mesmas pessoas. O Rogério Che, diretor de fotografia, por exemplo, fez esse projeto comigo e está em quase todos os meus outros também, ou seja, temos um time já bem entrosado.

R7: Você já tinha uma ideia do nível de profissionalismo e da visão de mercado que existe no funk paulista? E principalmente com personagens tão jovens?

Pedro Gomes: Sim, acompanho bem de perto essa cena. O tema do empreendedorismo me chama muito atenção, e enxergo isso em muitos dos meus pares pelas quebradas do Brasil. Por esse motivo, a cena funk me chama bastante atenção, até mesmo mais do que pela música, em muitos casos. Tenho uma série de restrições pessoais com alguns temas que o funk aborda, mas isso se aplica a todos os gêneros musicais. Se reparar no nosso projeto procuramos não estigmatizar ninguém, pra nenhum dos lados. A ideia, desde sempre, foi mostrar o processo que fez esses garotos virarem estrelas. E, até em alguns casos, empresários bem sucedidos, Kondzilla é o maior exemplo disso. O Bio G3, que é pouco lembrado nesse quesito, também é um homem de negócios.

R7: No premiado documentário "Freestyle: um estilo de vida" você abordou a cultura hip-hop em um momento também de franca expansão e mudança da paradigmas. Você vê alguma relação entre os dois filmes?

Pedro Gomes: A resposta prontamente seria: sim. Mas, confesso que ainda não parei para pensar neles enquanto projetos co-irmãos. O que sei é que o realizador é o mesmo e, sempre estou buscando jogar a luz, o foco onde os garotos e garotas das periferias estão sendo protagonistas. Se você pegar meus filmes, verá essa linha de atuação entrecortando-os.

R7: Como você definiria essa revolução do funk. Quais os pontos fortes do crescimento do funk?

Pedro Gomes: Não tenho condições de definir, apenas observar e tirar minhas conclusões. Os garotos são fenômenos midiáticos, isso foi possível por conta de uma conjunção de fatores, que é justamente o que a série diz. O barateamento das tecnologias somado ao alcance global que a internet proporcionou, resultou nos números absurdos que o funk paulista atingiu. O canal do Kondzilla, no youtube, tem quase 10 milhões de inscritos, um dos maiores do mundo. MC Bin Laden tem 1,5 milhões de seguidores no instagram. E, por aí vai. O ponto forte da cena é produzir muito enquanto a onda esta surfavel. Gerar muito conteúdo, muita oferta. Vencer pela quantidade.

R7: Qual a importância do audiovisual e dos clipes no funk?

Pedro Gomes: Digamos que sem o audiovisual, os clipes, o funk ficaria restrito ao gueto. Bem ao gueto mesmo. Os clipes, papel fundamental aqui do Kondzilla, impulsionaram as músicas e as colocaram ao alcance de todos com a internet (leia-se youtube). Sem o audiovisual, entendo, que o funk seria um forte movimento de raíz, mas muito localizado. Como temos vários desses movimentos nas periferias Brasil a fora. Existe um universo de ritmos que fazem muito sucesso em determinados locais e não chegam para o resto do país. Posso citar o pagodão na Bahia e, também, o tecnobrega, este quando "aconteceu" para o Brasil, já era sucesso absoluto em Belém.

Confira aqui os dois episódios da série sobre o funk paulista

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.