Sessenta dias depois de quatro jovens terem sido cercados e mortos a tiros na rua Radamés Cretti, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, a rotina no bairro ainda não voltou ao normal. Moradores da região vivem clima de tensão e evitam ficar na rua até tarde, conforme relata Anderson, tio de uma das vítimas.
— Está bem tenso, ninguém confia de ficar na rua. A rua antes era animada e todo mundo ficava brincando e conversando, reunido. Hoje em dia não tem mais isso. Deu certo horário e todo mundo vai pra dentro de casa porque ficar na rua é complicado hoje.
Além do clima tenso, os moradores e familiares ainda brigam para defender a memória das vítimas. Na época, as investigações policiais indicaram que Douglas Vieira e Matheus Silva, de 16 anos, e José Carlos da Costa, de 17, e Carlos Eduardo Montila de Souza, de 18 anos, teriam assaltado e agredido a mulher de um policial militar. A morte dos jovens teria sido uma vingança do PM.
No entanto, amigos das famílias discordam dessa versão. Patrícia e Eloisa, vizinhas das vítimas, afirmam que os jovens não eram envolvidos com o crime.
— Eles eram meninos que estudavam e trabalhavam e ficaram como bandidos. Eles não eram.
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Os jovens foram mortos por volta das 0h40 do dia 19 de setembro. Os quatro tinham feito entregas para uma pizzaria durante toda a noite anterior e aguardavam o dono do estabelecimento para receber pelo dia de trabalho, como lembra Anderson.
— No que estavam aguardando, veio o carro com quatro elementos dentro abordando eles, fazendo com que deitassem de bruços com a mão na cabeça e executando eles. Foi uma ação de alguns segundos, onde a maioria dos tiros foi nas costas e na cabeça. Uma execução fria.
As vizinhas dizem acreditar que houve uma confusão em relação à autoria do assalto da mulher do policial, que teria se vingando das pessoas erradas.
— Quem roubou a mulher trabalhava nessa pizzaria e quando roubou estava com a bolsa [do estabelecimento]. Só que fomos informados de que o dono da pizzaria ficou sabendo e demitiu esse menino.
Agora, as famílias continuam na briga para esclarecer o caso, como conta Anderson.
— Queremos correr atrás de limpar o nome dos nossos meninos. Eles foram julgados como maloqueiros. Nada dói mais do que ver um familiar julgado como um marginal sem ele ser.
Em nota enviada ao R7, a Secretaria da Segurança Pública informou que "três policiais militares foram presos temporariamente — um deles é acusado pelas mortes e outros dois foram detidos por adulterarem a cena do crime. A Polícia Civil e a Corregedoria da PM prosseguem com as investigações, que estão sob segredo de Justiça".
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