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Família de jovem morta por engano em SP denuncia intimidação de PMs

Pais e namorado relatam ameaças de policiais em depoimento na Ouvidoria de Polícia. Órgão pede investigação pela Corregedoria Geral da PM

São Paulo|Fabíola Perez, do R7

Rhuan e Sueli: mãe e namorado da vítima relatam ameaças na Ouvidoria de Polícia
Rhuan e Sueli: mãe e namorado da vítima relatam ameaças na Ouvidoria de Polícia Rhuan e Sueli: mãe e namorado da vítima relatam ameaças na Ouvidoria de Polícia

Ainda sem assimilar o que, de fato, havia tirado a vida de sua filha, Brenda Silva de Oliveira, 20 anos, Adnaldo caminhava pela rua onde a garota foi baleada até ser interrompido por um policial “o que você está fazendo aí?”. “Respondi que estava só olhando para as câmeras. E ele rebateu: está olhando muito”, afirmou o pai da garota morta na segunda-feira (2), no Jardim Santo Antônio, em Poá, região metropolitana de São Paulo.

Na terça-feira (3), Adnaldo foi à rua Pedro Martins para novamente observar as câmeras das casas mais próximas do local em que Brenda morreu. Até que, no trajeto de volta para casa, uma viatura de policiais militares o seguiu até sua casa, em São Miguel. Na quarta-feira (4), a mãe de Rhuan Carlos dos Santos, namorado de Brenda atingido pela mesma bala que matou a garota, recebeu ligações de amigos e conhecidos para relatar que a Polícia Militar havia abordado moradores do bairro e pedido os celulares para “fazer vistorias”.

A série de supostas intimidações fez com que, na tarde da quinta-feira (5), os pais e o namorado de Brenda comparecessem à Ouvidoria de Polícia do Estado de São Paulo para relatar ameaças que família e amigos vem sofrendo desde a morte da jovem. Ao R7, o pai de Brenda e a mãe de Rhuan, Adriana Pereira dos Santos, afirmaram que viaturas da polícia militar fazem rondas ostensivas na casa da avó da jovem, cerca de 3km de distância de onde foi morta.

O suspeito de ter atirado na garota é um policial militar de 21 anos, que teria confundido a vítima com uma pessoa que o estaria ameaçando. De acordo com o boletim de ocorrência, o policial Johnatas Almeida Lima e Lima registrou possíveis ameaças de morte que vinha sofrendo desde quinta-feira (28). Depois disso, passou a observar um casal de moto trafegando nos arredores de sua casa.

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Quando, às 22h do domingo (1º), o policial foi surpreendido com uma bomba que foi arremessada para dentro de sua casa. Em seguida, ele teria ficado atento da sacada de sua casa. Nesse momento, um casal em uma moto passou pela rua e, segundo o PM, o condutor teria feito um gesto similar ao de sacar uma arma. Como consequência, atirou no casal.

Familiares

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Em depoimento à Ouvidoria de Polícia de São Paulo, Adnaldo afirmou que Rhuan trabalhava como entregador de pizza e que, por volta das 23h45, buscou a namorada na casa da avó para jantarem. Na sequência, ele a levaria para conhecer a casa que havia alugado para começarem a viver juntos.

Dias depois do ocorrido, Adnaldo relata que viaturas da polícia passam em frente a casa da avó de Brenda. “Eles ficam querendo amedrontar”, disse. “Só quero justiça, ele é um homem fardado, mas criminoso.”

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Afastada do trabalho de telemarketing, a mãe de Rhuan, Adriana também relatou intimidações por parte de policiais na região. “Aqui no bairro nunca houve policiamento, depois do que aconteceu, os amigos de Rhuan ligaram para avisar que estavam sendo abordados por policiais que queria ver seus celulares.”

“A polícia está com força total no bairro, coagindo mesmo”, diz ela. Adriana afirma que Rhuan está tomando calmantes para dormir e que a família evita deixa-lo sozinho. O garoto, que também foi atingido pelo disparo, está com a bala ainda alojada no corpo. Segundo a mãe, a 2 cm da coluna e a um milímetro do coração. “O médico acha melhor não tirar a bala por enquanto, mas hoje à tarde vamos ao médico para outra avaliação”. Adriana afirma que Rhuan continua muito abalado e sente a ausência da namorada. “Quando lembra que ela morreu em seus braços, ele começa a chorar.”

Investigações

O advogado do Conselho Nacional de Direitos Humanos (Condepe), Ariel de Castro Alves, afirma que a intimidação e o constrangimento relatados pelos familiares devem ser investigados como tentativa de obstrução de eventuais provas. “Se os policiais estão atrás de vídeos para tentarem obstruir as investigações e intimidarem testemunhas, isso deve ser apurado.”

De acordo com o advogado, se comprovada a tentativa de obstrução de provas, os policiais podem ser presos temporária ou preventivamente. Alves diz ainda que assim como o policial suspeito enviou o vídeo com imagens e sons da suposta bomba que teria explodido às 22h, ele também deve enviar à Polícia Civil imagens de câmeras de segurança de sua casa do momento em que ocorreu o disparo contra a jovem. “Se ele não deixou essas imagens à disposição da polícia, mais uma vez pode ser preso por obstrução de provas.”

O advogado afirma também que as roupas da vítima não poderiam ter sido incineradas no IML. “São peças importantes para saber como a bala a atingiu, a roupa é fundamental para a análise pericial”, diz. De acordo com o ouvidor de polícia do Estado, Benedito Mariano, foi encaminhado um ofício na manhã desta sexta-feira (6) para a Corregedoria Geral da Polícia Militar com um pedido de análise dos depoimentos.

“Foi instaurado o inquérito e como o PM estava de folga quem investigará será a Polícia Civil. As possíveis ameaças de policiais da área também serão investigadas”, afirmou Mariano. O ouvidor disse ainda que fará a recomendação para a própria Corregedoria Geral da Polícia Militar e não pelo batalhão em que o policial atuava.

Outro lado

Por meio de nota, a Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo informou que a Polícia Militar está à disposição dos familiares para o registro e a apuração de quaisquer denúncias. “Assim que o ofício da Ouvidoria chegar para a PM, será instaurado um procedimento apuratório para averiguar as reclamações”, declarou.

A SSP afirmou ainda que a Delegacia de Poá instaurou inquérito para investigar o caso, que foi registrado como homicídio simples.

Em relação à incineração das roupas da vítima, a SSP informou que a Polícia Técnico-Científica esclarece que “todo o material, sejam roupas ou objetos da vítima, foram fotografados e catalogados e, como praxe, as roupas sujas ou cortadas, são descartadas por uma questão sanitária.”

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