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Uma horta mudou a realidade e os sonhos da favela Vila Nova Esperança, em São Paulo. A comunidade — que ainda não tem luz elétrica, encanamento, serviço de coleta de lixo, esgoto ou asfalto — planeja ser um bairro totalmente sustentável e referência para o País. O projeto da horta, União pela Urbanização da Vila Nova Esperança, ganhou o primeiro lugar no Prêmio Milton Santos 2014, concedido pela Câmara Municipal, na categoria Consolidação de Direitos Territoriais e Culturais. O troféu animou os moradores, engajados em mudar o cenário em que vivem.
Reportagem: Sylvia Albuquerque, do R7DaiaOliver/R7
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A favela existe desde 1960 e atualmente abriga 600 famílias. Em 2002, a Associação Independente da Vila Nova Esperança decidiu criar a horta para tirar do local o lixo acumulado. A presidente da entidade, conhecida como Lia da Vila Nova Esperança, diz que o governo do Estado moveu uma ação civil pública para retirar os moradores do espaço por ser uma área ambiental que estava muito poluída.
— Decidimos cuidar do terreno e tentar nos firmar como uma comunidade após o medo da desapropriação. Depois da horta, ninguém jogou mais lixo no espaço. O prêmio veio como uma benção e nos encheu de ânimo. Temos sonhos e os dividimos mesmo não tendo o que as pessoas mais prezam, o dinheiroDaia Oliver/R7
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A horta é pequena e os moradores precisam colher as verduras para ter espaço para o novo plantio. No entanto, a Sabesp cedeu um terro ao lado para uso que servirá para a ampliação da horta, construção de uma creche, campo de futebol e um mirante com vista para o pico do Jaraguá. A entidade busca recursos de empresas privadas para a obra da escola e também para a reforma da sede da associação dos moradores. Engenheiros e arquitetos voluntários ajudam a favela e já fizeram o projeto das obras. Falta a verba
Daia Oliver/R7
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A Lia veio da Bahia com os quatro filhos em 1994. Ela diz que deixou para trás um marido ciumento que não queria romper a relação. Precisou refazer toda a vida em terra paulista. Casou de novo, adotou uma criança e chegou a ganhar dinheiro vendendo flores feitas de material reciclável, mas largou tudo para atuar no projeto. Ela mora no bairro desde 2004
— Vamos ter até um jardim vertical aqui na vila. Quero esse lugar lindo sendo referência em todo o País. Ganhamos 30 computadores que serão usados no nosso centro de informática e recebemos também uma sala completa de dentista. Tudo isso só é possível porque acreditamos. Aos poucos, vamos chegar lá. Não é porque moramos nessas condições que vamos nos enterrar no meio do lixoDaia Oliver/R7
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O que sai da horta é distribuído entre os moradores, mas a intenção é, com o novo terreno, que seja possível até mesmo comercializar as verduras
Daia Oliver/R7
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Acima, moradores e voluntários no terreno cedido pela Sabesp. Eles montam mutirões de até 50 pessoas para plantio na horta. No próximo dia 12 de outubro, um grupo de estrangeiros irá à comunidade para semear no novo terreno.
Lucas Fernandes (rapaz agachado) é formado em ciências atuariais e voluntário. Foi ele que quem inscreveu o projeto para o prêmio. Agora, quer também ajuda o local a entrar no OP 2015 (Orçamento Participativo) para a construção da creche.
— Eu moro aqui perto e sabia dos projetos da vila. Um dia, li um edital da Prefeitura bem amplo, que permitia a inscrição do projeto. Não acreditamos quando fomos anunciados como ganhadores. É um sinal assim: estamos no caminho certoDaia Oliver/R7
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Já está em funcionamento o Centro de Inovação dentro da Vila Nova Esperança. Um designer industrial trabalha no local e ensina as crianças a fazer diferentes projetos com madeiras doadas e materiais que seriam considerados lixos
Daia Oliver/R7
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Paletes doados por uma gráfica decoraram o espaço e vão servir para a montagem de cadeiras. As peças serão vendidas e o dinheiro revertido em obras na vila
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As crianças passam pelo menos um período no centro, que funciona o dia inteiro. Na imagem, o pequeno morador faz um cofrinho para levar para casa
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Eduardo Hiroki Shiino, estudante de engenharia mecatrônica da Poli (Escola Politécnica da USP), trabalha no Centro de Inovação para a criação de uma rádio comunitária que não seja considerada 'pirata'.
— Qualquer pessoa poderá ouvir nossa rádio pela internet e ela não será pirata. Estou no último ano da faculdade e está sendo incrível esse contato com os moradores no centro. É diferente de tudo o que eu já fiz e quero muito que a comunidade alcance a conclusão dos projetosDaia Oliver/R7
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Um espaço de lazer da comunidade foi implementado por meio de doações de empresas francesas e mais de 140 pessoas. Tudo é de material reciclável
Daia Oliver/R7
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Durante a visita da reportagem, a Eletropaulo estava na favela para as primeiras instalações que devem levar energia elétrica aos moradores
Confira vídeo sobre a comunidadeDaia Oliver/R7