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São anos até que crimes que chocaram o País caiam no esquecimento ou um comprador deixe de lado a superstição e as supostas "energias negativas" e aceite descontos que podem chegar a até 30%. Só assim imóveis marcados por tragédias conseguem ganhar novos moradores.
A reportagem do R7 visitou casas e apartamentos em que aconteceram alguns dos crimes mais chocantes da história de São Paulo. Veja como eles estão nas próximas imagens
Texto e apuração: Marcella Franco, do R7Montagem/R7
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Não há mais tela de proteção na janela dos quartos, e a varanda da sala agora é envidraçada. No entanto, o apartamento ainda é o mesmo, e as características do edifício exibido exaustivamente no noticiário continuam lá: as pastilhas azuis, a portaria com grades brancas, o nome London cravado na fachada. Os detalhes dão a entender que há novos moradores no apartamento de onde a menina Isabella Nardoni (foto) foi arremessada para a morte na noite de 29 de março de 2008. A suspeita é confirmada pelo porteiro, assim como por moradores de prédios vizinhos
Werther Santana//Estadão Conteúdo
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“Eles se chamam Fábio e Deise”, diz, pela janela da guarita, um homem que prefere não se identificar, e que se recusa a interfonar no 62 para que a reportagem do R7 tente uma entrevista com o casal. “Já vi um bebezinho no colo de uma pessoa na varanda”, especula uma mulher que vive há anos na mesma rua Santa Leocádia, na Vila Isolina Mazzei, zona norte de São Paulo.
— Tenho o costume de pegar táxi para voltar para casa e, na época do crime, era só dizer o nome da rua que os motoristas já começavam a fazer perguntas. O assédio foi horrível, tinha gente ligando no meu telefone fixo noite e dia. Hoje, a rua já caiu no esquecimentoEduardo Enomoto/R7
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Ao que informam os entrevistados, os novos moradores estariam no apartamento há mais ou menos um ano. Avaliado em cerca de R$ 600 mil, o cenário do crime acabou sendo vendido pelo pai de Alexandre Nardoni por R$ 470 mil — uma desvalorização de mais de 20%
Eduardo Enomoto/R7
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Olhando para cima do térreo, em frente ao portão de ferro da fachada, não é possível ver qualquer detalhe da cobertura onde Elize Araújo Kitano Matsunaga (foto) assassinou e esquartejou o marido, Marcos Kitano Matsunaga, no dia 19 de maio de 2012.
Ainda assim, comerciantes locais dizem que o prédio foi, durante meses após o crime, ponto de visita de curiosos, que tiravam fotos ou apenas paravam para olhar.
Foi esse, aliás, um dos motivos que levaram a administração do prédio a retirar o nome Roma, que antes ficava junto ao número 1.376 colado na portaria. Parece de fato ser um assunto desconfortável para quem trabalha no condomínio, que tem duas torres de apartamentos de 124 m² e coberturas com 280 m²Reprodução/Rede Record
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“Por que você quer saber isso?”, pergunta hesitante a porteira pelo interfone, quando a reportagem do R7 diz estar em busca de informações sobre o imóvel dos Matsunaga.
— Os familiares dele (Marcos) vêm cuidar do apartamento com frequência. Os dela, claro, nunca mais apareceram. Pelo menos para nós, funcionários, ninguém nunca manifestou o desejo de colocar à venda ou alugar. No momento, não há nenhuma unidade comercializável no condomínioEduardo Enomoto/R7
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No entanto, uma breve pesquisa de mercado aponta que um apartamento lá não sai por menos de R$ 980 mil, enquanto as coberturas custariam mais de R$ 2,2 milhões
Eduardo Enomoto/R7
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Embora o inquérito que conclui o que realmente aconteceu na noite de 5 de agosto de 2013 ainda não tenha saído, os vizinhos da casa onde morava a família Pesseghini discordam da linha seguida pela polícia. Para eles, o menino Marcelinho, filho de um casal de policiais, não assassinou nenhuma das pessoas da casa, muito menos cometeu suicídio em seguida.
“É impossível que um menino sozinho tenha feito tudo aquilo”, avalia um homem que mora na casa do outro lado da rua, e que prefere não se identificar. É ele que também informa que o imóvel, embora esteja fechado, não está completamente abandonado.
— O César, irmão da Andréia, vem de vez em quando para regar as plantasReprodução/ Facebook
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De fato, olhando através das frestas do portão de ferro pintado de branco, é possível ver uma mangueira ligada à torneira, e também o bom estado das plantas do pequeno jardim do lado esquerdo da garagem. Não há muita sujeira, e a aparência é de que a casa estaria sem movimento há apenas poucos dias. As correspondências continuam chegando, entre elas um catálogo de um grande magazine, endereçado à cabo Andréia Regina Bovo Pesseghini
Eduardo Enomoto/R7
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As pichações da fachada pedindo justiça foram apagadas. Segundo o vizinho, César teria manifestado desejo de se mudar para a casa, mas até agora nada aconteceu na prática.
— Não sei se ele teria coragem, né? É complicado. De qualquer maneira, ainda acho tudo muito estranho. Afinal, como é que o menino ia tirar o carro da garagem sozinho nessa ladeira movimentada? Passa ônibus, passa tudo. E ele nunca saía de casa. Se saía, era só com os pais ou para ir à escolaEduardo Enomoto/R7
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A locação de uma casa de dois quartos no mesmo quarteirão custa R$ 1.300. A casa dos Pesseghini, por ser um pouco maior, talvez pudesse ser alugada por uma quantia mais alta. O único problema seria, naturalmente, driblar o histórico do crime recente, que marcou o terreno de esquina da rua Dom Sebastião
Eduardo Enomoto/R7
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Fazia pouco mais de dez dias que uma sentença dava a guarda do menor Luís Renato, de cinco anos, à sua mãe, Fabiane Hungaro Menina. Era uma sexta-feira, 17 de abril de 2009, e, mesmo inconformado com a decisão da Justiça, o pai de Luís, o professor de direito Renato Ventura Ribeiro, pegou o menino para passarem juntos o feriado prolongado de Tiradentes. Os dois seriam encontrados mortos na quarta (22), pela empregada doméstica que trabalhava havia nove anos no apartamento 126 do bloco C, no condomínio Jardim das Orquídeas, na Vila Clementino
Eduardo Enomoto/R7
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Pai e filho estavam deitados abraçados na cama de Ribeiro, e já em avançado estado de decomposição. O menino tinha ferimento à bala na nuca, e o professor, na testa. Ambos os tiros foram disparados pelo pai. O apartamento permaneceu fechado por anos, segundo informa o porteiro. Foi alugado no começo de 2013, por “um homem que mora sozinho”, e que estaria viajando no dia da reportagem.
A imobiliária Robotton, que trabalha com frequência comercializando unidades no condomínio, informa que os apartamentos têm três dormitórios e um total de 96 m². Uma locação não sai por menos de R$ 3.000. Morador do edifício há 17 anos, o comerciante José Adilson se lembra bem das vezes em que cruzou com o professor Renato no passado, antes do crime que destruiu a família.
— Ele era uma pessoa meio estranha. Sempre tumultuava as reuniões de condomínio, queria assumir a presidência de tudo. Ainda assim, fiquei surpreso quando soube do que ele fez. Nosso prédio apareceu no noticiário, e todos os moradores estavam em choqueEduardo Enomoto/R7
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Vinte e cinco anos se passaram, e até hoje ninguém sabe quem matou o advogado Jorge Toufic Bouchabki e sua mulher, Maria Cecília. Os dois foram assassinados enquanto dormiam, na véspera do Natal de 1988, em uma casa no Jardim Europa, bairro de classe alta em São Paulo. Se os nomes das vítimas não são facilmente ligados ao famoso crime que parou a cidade na época, seu antigo endereço certamente é: rua Cuba, número 109
Eduardo Enomoto/R7
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O principal suspeito pelo assassinato foi, durante muito tempo, o filho do casal, Jorge Delmanto Bouchabki, que na época tinha 19 anos. Segundo depoimento da empregada doméstica da família, durante uma discussão na véspera do crime, Jorginho teria se desentendido com a mãe, que não aceitava seu namoro com uma estudante. Maria Cecília teria quebrado um taco de sinuca nas costas do filho, que a ameaçou, dizendo que ela se arrependeria da agressão.
O caso foi arquivado em 1991 por falta de provas, e Jorginho, depois de morar no interior e voltar à capital, acabou se formando em direito. A casa em que morava com os pais e que foi cenário do crime ficou fechada por 14 anos. Em 2002, foi vendida para uma família que, mesmo depois de dez anos morando no local, resiste em conversar com a imprensa.
“O proprietário não fala com vocês”, diz irritada uma voz de mulher no interfone do imóvel, que foi completamente reformado e agora tem muros altos e portão de ferro, impedindo a visão de curiosos. Não se sabe o preço pelo qual foi vendida a casa, mas atualmente o metro quadrado no bairro custa R$ 10 mil — o que conferiria à propriedade um valor de cerca de R$ 3 milhõesEduardo Enomoto/R7
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O número 232 está encoberto pelo mato que toma conta da fachada, mas, mesmo sem vê-lo, não é difícil distinguir a casa da família Richthofen (foto) das demais. Em uma vizinhança de grandes terrenos e construções de classe alta, no Campo Belo, ela é a única com aparência suja, cheia de pichações e completamente abandonada. A campainha foi arrancada, e os fios estão pendurados e cortados. A caixa de correspondências está abarrotada de panfletos de pizzaria e contas. Folhas secas das palmeiras, que antigamente enfeitavam o quintal, agora tomam conta de toda a entrada
Sérgio Castro/Estadão Conteúdo/12/11/2002
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“Esta casa é um grande problema”, define um funcionário do centro de zoonoses da cidade de São Paulo, se referindo à piscina que fica no fundo do terreno, e que, por estar sem uso, acabou se tornando foco de criação de mosquitos da dengue.
— As denúncias eram frequentes, e precisamos até de medidas judiciais para conseguir entrar lá. Lavramos um auto de infração na última visita, no dia 8 de maio de 2013, porque havia muitas larvas. Mas parece que, depois disso, foi tomada uma providência e arrumaram uma pessoa para dar um jeito, porque não tivemos mais ligaçõesEduardo Enomoto/R7
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Duas moradoras da casa em frente à dos Richthofen, que manobravam um carro durante a visita da reportagem, se irritaram com a presença do R7. “Por que sempre param aqui? Até parece que esta casa nunca foi fotografada”, ironizou uma delas. Procurada pela reportagem, a advogada da família não retornou as ligações. As últimas informações obtidas sobre o destino da casa, no entanto, eram de que ela continuaria em propriedade de Andreas, irmão de Suzane, que está presa após assassinar os pais na noite de 31 de outubro de 2002
Eduardo Enomoto/R7
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Caso quisesse vender o imóvel, Andreas, que tinha 15 anos na época do crime, poderia pedir até R$ 10 mil por metro quadrado, preço médio cobrado na região — isso se os interessados não se incomodarem com o estigma que a casa carrega
Eduardo Enomoto/R7
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O venezuelano naturalizado brasileiro Roberto Agostinho Peukert, o Robertinho, cresceu na região da vila Santa Catarina, zona sul de São Paulo, e era o que se podia chamar de um bom rapaz. Prestativo, educado e calmo, fazia sucesso entre os vizinhos. Aos 18 anos, na noite de 6 de janeiro de 1985, Robertinho ouvia música alta quando foi repreendido pelos pais. O adolescente não gostou da bronca e, mais tarde, enquanto todos na casa dormiam, deu um tiro no peito da mãe.
O pai, que acordou com o barulho, também foi atingido. Os dois, no entanto, não morreram com os disparos — Robertinho, então, buscou na cozinha uma faca de serra e um facão, com os quais golpeou a mãe na barriga, e o pai no pescoço.
Paulo, de 17 anos, Cristina, de 16, e André, de oito anos, todos irmãos do jovem, também foram assassinados. Robertinho enfiou os cinco corpos no carro da família, dirigiu até uma rua próxima ao Cemitério de Congonhas, e abandonou o veículo. Voltou para casa girando a chave no dedoEduardo Enomoto/R7
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Pela chacina que promoveu, Peukert foi condenado a 25 anos de prisão. Agora, no entanto, encontra-se recolhido no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Franco da Rocha.
O sobrado palco do crime continua praticamente igual até hoje. Teve inquilinos há cerca de seis anos, mas que ficaram na casa por pouco tempo, nem mesmo um ano. “Hoje tem um pessoal de Itanhaém (litoral sul) que guarda uns equipamentos de piscina aí”, conta o segurança da rua há cinco anos, Antonio Silva de Lima.
— Às vezes eles vêm, colocam coisas na garagem, aí voltam depois de um tempo para tirar. Fora isso, a família do Robertinho manda dinheiro para nós, seguranças, através da conta de uma vizinha. Ela sempre diz que ele era um ótimo menino, que ajudava as senhoras da rua a carregar a sacola da feira.
Caso quisessem vender a casa, os familiares dos Peukert poderiam pedir até R$ 4,7 mil por metro quadrado, preço padrão da regiãoEduardo Enomoto/R7