Greve paralisou cerca de 2.400 ônibus ontem
Nelson Antoine/Fotoarena/Estadão ConteúdoEsperançosos de que o prefeito vá convencer as empresas de ônibus a renegociar o acordo coletivo de motoristas e cobradores, grevistas suspenderam a paralisação iniciada na terça-feira (20) na capital. O motorista Paulo Martins Santos, que representa funcionários da viação Gato Preto, disse na noite desta quarta-feira (21) que, se Fernando Haddad (PT) não intermediar, São Paulo voltará a enfrentar falta de ônibus. Na manhã desta quinta-feira (22), nem todas as garagens haviam voltado a funcionar.
— Se ele [prefeito] não abrir as negociações, os trabalhadores que estão lá fora voltam a parar. Nós estamos sem pudor mesmo. Há tantos anos defasagem e nada vem para o trabalhador. [...] O que foi pedido desde a convenção foi 13,5% [de reajuste salarial], R$ 22 no nosso VR [vale-refeição], PLR, participação nos lucros e resultados, de R$ 1.500. O que ofereceram não chegou nem perto. A PLR foi de R$ 850, o VR aumentou R$ 1,20.
Greve de ônibus em São Paulo é encabeçada por “sindicato paralelo”
Santos faz parte do grupo de trabalhadores contrários ao acordo coletivo aprovado em assembleia do sindicato, na segunda-feira (19), e que organizou uma paralisação que pegou todos de surpresa. Ônibus ficaram enfileirados em importantes corredores da cidade, 16 terminais e o Expresso Tiradentes foram fechados, mais de 1 milhão de usuários foram prejudicados. Segundo o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, motoristas foram ameaçados por homens armados. Os coletivos tiveram pneus furados e correias cortadas. A polícia vai investigar o caso.
A decisão de levar o problema ao prefeito foi tomada em uma reunião entre o movimento grevista e os sindicatos da categoria e patronal, na tarde de ontem. As empresas se negam a rever o que foi aprovado na assembleia. O debate foi mediado pelo superintendente regional do Trabalho, Luiz Antônio Medeiros. Ele admitiu que não há garantia de que a paralisação terá fim.
— Nós estamos correndo um risco. Estamos pedindo. Ninguém tem certeza de nada. Eu tenho convicção que os trabalhadores vão voltar porque nós estamos na iminência do julgamento da greve, que será amanhã [nesta quinta-feira] à tarde. Eles [Tribunal Regional do Trabalho] vão julgar a greve ilegal e aí o empresariado vai mandar embora todo mundo por justa causa. E a greve, em vez de ser um movimento vitorioso, poderá ser um movimento derrotado em função do que o empresariado quer. O empresariado, infelizmente, parece que quer sangue. Mas nós não vamos deixar chegar a esse ponto.
Na noite de quarta-feira, o SPUrbanuss, sindicato patronal, conseguiu na Justiça do Trabalho uma liminar que obriga 75% da frota de todas as linhas a operar nesta quinta-feira (22). Segundo o advogado das empresas, Antônio Roberto Pavani Júnior, a decisão prevê multa para quem descumpri-la.
— Nós entendemos que as negociações já houveram, foi devidamente aprovado em assembleia e em virtude disso nós não aceitamos esse tipo de movimento. Se não, você não tem mais segurança nenhuma. Você aprova em uma assembleia do sindicato, amanhã outra facção vem com outro entendimento.
Até o fim da noite de quarta-feira, o prefeito Fernando Haddad não havia se posicionado sobre a possibilidade de interferir na briga entre empregados e patrões. Segundo a SPTrans, ontem, a greve atingiu 30% das linhas. Aproximadamente 2.400 ônibus não circularam.