Francisco Barbosa de Sousa
ReproduçãoO morador de rua Francisco Barbosa de Sousa, 49 anos, foi encontrado morto no rio Tamanduateí, no bairro do Bom Retiro, região central de São Paulo, no final da tarde de 17 de julho.
Na última vez que foi visto com vida, Francisco estava em um centro de acolhimento da Prefeitura de São Paulo, onde, segundo documentos aos quais o R7 teve acesso, surtou, foi medicado e liberado do espaço que deveria passar a noite.
Ele estava em situação de rua há pelo menos 10 anos e passava as noites no Complexo Prates, também no Bom Retiro.
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Documento interno do albergue datado do dia 18 de julho, obtidos pela reportagem, apontam que na noite de 15 de julho, dois dias antes de ser encontrado morto, o “usuário surtou no espaço durante o plantão da noite de 15 de julho, foi levado ao AMA [Assistência Médica Ambulatorial], medicado, porém a partir deste dia não apareceu mais no espaço”. A observação, manuscrita, é assinada por uma assistente social.
Francisco foi atendido pelo AMA mesmo com a unidade tendo sido fechada às 19h, três horas antes dele ter passado mal.
Outro documento, este digitado e impresso e datado do dia 24 de julho, afirma que, no dia 15, Francisco fez refeições no complexo e “às 22h sentiu-se mal e pediu para os orientadores permissão para sair do Centro de Acolhida”. O relatório é assinado pela mesma assistente social.
Um albergado ouvido pela reportagem confirmou que Francisco estava “fora de si”, reclamando de um possível abandono familiar, e que pediu para deixar o local.
Amigo de Francisco, o morador de rua Elias da Silva, 36 anos, afirma que estava em frente ao albergue naquele dia, e viu Francisco foi acompanhado por seguranças do local até o portão do espaço. Elias confirma a versão apresentada nos documentos de que o parceiro estava em surto e ainda afirma que não houve violência na retirada.
Documento afirma que usuário surtou
Reprodução/R7O amigo também conta que Francisco começou a reclamar de estar com o corpo esquentando. Mesmo com a noite fria, o homem teria tirado a roupa, saído correndo pelado pela Rua Prates e entrado na Rua Rodolfo Miranda. Foi a última vez que os amigos se viram.
Sem roupa
Boletim de Ocorrência registrado no 2º DP (Bom Retiro), no dia que Francisco foi encontrado, diz que o corpo estava preso em entulhos do rio e sem vestimentas.
O laudo pericial do IML (Instituto Médico-Legal), assinado pelo médico legista Ricardo Temponi Scuotto, datado em 8 de agosto, aponta que Francisco teve “morte natural”, causada por pancreatite necro-hemorrágica, e não havia sinais de agressões em seu corpo.
Outro lado
Questionada sobre o caso, a Prefeitura afirmou que, "de acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde, Francisco foi atendido nos dias 13 e 14 de julho na AMA localizada no Complexo Prates."
Apesar de o termo surto constar em documento que a reportagem teve acesso, a Prefeitura afirmou que "não há qualquer registro ou relato de surto nesses atendimentos".
"Nas duas ocasiões, o paciente relatou dores musculares, foi medicado e liberado em seguida de acordo com os protocolos médicos. Os orientadores sociais dos serviços da rede socioassistencial não medicam os conviventes", afirma a nota.
*Colaborou Kaique Dalapola, estagiário do R7