Com uma seca atípica de verão — período que deveria chover e assegurar a recarga dos rios e reservatórios —, cidades do interior de São Paulo adotam medidas de racionamento e restrição do uso da água. A prefeitura de Campinas antecipou de julho para fevereiro o período em que é proibido usar água para lavar calçadas, com pena de multa. Na vizinha Valinhos, o racionamento no abastecimento começou nesta segunda-feira (3). Em Amparo, foi registrada mortandade de peixes no rio que atravessa a cidade por causa dessa estiagem fora de hora.
Com o janeiro — mês historicamente mais chuvoso do ano — mais seco da história e o rio Atibaia com baixa-vazão, quem for pego em Campinas desperdiçando o líquido receberá multa equivalente a três vezes o valor da última conta. O decreto, que amplia o período de estiagem, foi publicado nesta terça-feira (4). O prefeito Jonas Donizette (PSB) determinou também que a Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento de Campinas) estude medidas de incentivo à economia de água, nos moldes do sistema adotado pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
Pelo decreto, de fevereiro a agosto, quem for flagrado usando água para limpeza de calçamentos e passeios públicos, residenciais e comerciais, será advertido e depois multado. Só os casos de necessidade extrema, como uso de água para construção de imóvel, realização de reformas e construção de calçamento, estão liberados.
Donizette frisou que "em razão da gravidade do momento, com a falta de chuvas e o calor intenso, decidimos tomar a medida".
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A dona de casa Maria Ercília Freitas, de 74 anos, diz que o calor faz com que ela use mais água.
— Não consigo mais ficar dentro de casa durante a tarde. Para dar uma refrescada, aproveitei para jogar uma água na calçada.
Maria Ercília agora pode ser multada se voltar a praticar a chamada "vassoura hidráulica" — quando é usada água para "varrer" o chão.
Racionamento
O Daev (Departamento de Água e Esgoto de Valinhos) começou o racionamento de água em certas regiões da cidade nesta segunda-feira. O Daev começou a cortar o fornecimento em determinados períodos em bairros onde não falta água para fazer reserva e conseguir manter o abastecimento nas áreas mais elevadas da cidade. O departamento afirma que em todos os bairros da cidade haverá água todo dia, mas em horários diferentes. Outros sequer terão corte.
Em Amparo, a prefeitura registrou a mortandade de peixes, principalmente os cascudos, no rio Camanducaia, que atravessa o centro da cidade. O motivo é a baixa-vazão do manancial. As dificuldades nessas cidades são decorrentes do pior cenário vivido no setor de abastecimento na Grande São Paulo e interior, para janeiro.
As represas do Sistema Cantareira (maior fornecedor de água para a Grande São Paulo e região de Campinas) estão com o mais baixo nível, desde que elas foram construídas, em 1974 — atingiram 21,2% da capacidade. Nas Represas Jaguari e Jacareí — consideradas o coração do Cantareira, por armazenar 850 bilhões de litros de água dos 990 bilhões totais do sistema — choveu em janeiro quase a metade (80,3 milímetros) do que no mesmo mês de 1953 (154,9 milímetros), quando foi registrada a pior seca da história no Estado.