Era por volta de 15h30 quando uma forte explosão no Polo Petroquímico do ABC, localizado na divisa dos municípios de Santo André e Mauá, iniciou um grande incêndio na fábrica da Braskem.
“Foi forte o estouro, a gente achou que ia explodir tudo”, relatou a estudante Nathalia Genoveza, de 24 anos. Moradora do Parque Capuava, em Santo André, sua casa fica a cerca de 400 metros da planta da fabricante de produtos químicos e plásticos.
— Eu estava em casa assistindo televisão quando aconteceu. Eu levei um susto na hora da explosão, até tremeu a minha casa. Na hora, o barulho da tocha estava muito alto. Todo mundo foi para a rua e vimos que estava pegando fogo o largo da Petroquímica. Nesse meio tempo, veio um cheiro muito forte de gás.
De acordo com os moradores da região entrevistados pelo R7, o toque de sirenes dentro do complexo de indústrias é comum, inclusive durante a madrugada. Nathalia conta que, desde segunda-feira (12), a chaminé da fábrica estava trabalhando com mais intensidade do que de costume. No entanto, ela diz não se lembrar de um acidente tão significativo quanto o de ontem.
— Minha avó falou que teve uma explosão assim há muitos anos, mas sempre está acontecendo alguma coisa de errado lá na Braskem. A gente acabou acostumando, mas ficamos com medo porque nunca se sabe quando vai acontecer de novo. É complicado, a gente mora bem de frente.
Incêndio atinge fábrica petroquímica no ABC Paulista; veja vídeo
Especialista em segurança, Ulisses Nascimento, 56, também é morador do Parque Capuava e estava em casa na hora da explosão. Ele relata ter escutado um forte estrondo, acompanhado de um forte cheiro de gás, que, segundo ele, já é característico da região.
— É uma situação insustentável de muitos anos. O Ministério Público pressiona a Petroquímica para diminuir os impactos ambientais e eles alegam que seguem os padrões internacionais. Eu fiz uma denúncia para a CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e eles nunca me responderam.
Nascimento reclama dos efeitos nocivos dos materiais liberados pela indústria no ar. Um estudo do laboratório de poluição da USP (Universidade de São Paulo) revelou que os moradores da região têm uma incidência cinco vezes maior de doenças relacionadas à glândula tireoide do que o resto da população.
— Minha mulher mesmo tem problemas de tireoide. É uma situação desumana. Virou o que, uma Chernobyl aqui?
Odor sufocante
A auxiliar de escritório Roberta Lima, 24, relata que o cheiro de gás na região “está insuportável”. Ela disse que a sensação, nesta quinta-feira, é de sufocamento e ardência nos olhos.
— Eu acho que é até perigoso ficar inalando isso. Para quem tem rinite e problemas respiratórios, é complicado.
Trabalhando há poucos metros do Polo Petroquímico, Roberta diz já estar acostumada com o cotidiano de pequenas explosões dentro do complexo de indústrias. Mas quem não é da região acaba estranhando o barulho.
— Teve um rapaz novo que trabalhava aqui no posto. No dia da explosão, ele saiu correndo.
Procurada pela reportagem do R7, a assessoria de imprensa da Braskem afirmou que o odor sentido pelos moradores dos entornos do Polo Petroquímico é comum em indústrias do tipo e ocorre quando há paralisações nos processos produtivos. A empresa alega que o cheiro não oferece nenhum tipo de risco para a população.
A Braskem também afirma que a unidade do ABC teve sua produção paralisada “para garantir a integridade e a segurança tanto dos trabalhadores quanto da comunidade local”. Seis pessoas ficaram feridas no acidente, e uma continua hospitalizada.
Em relação à pesquisa que aponta um maior número de casos de Tireoide de Hashimoto nos entornos do Polo Petroquímico, a Braskem afirmou, em nota, que "não existe estudo conclusivo, reconhecido por órgão de saúde ou autoridade médica, que comprove relação entre as atividades industriais e a eventual incidência de doenças da tireoide na região. As empresas do Polo Petroquímico do ABC operam estritamente dentro das normas existentes nas áreas de saúde, segurança e meio ambiente”.
(*Colaborou o jornalista Luis Jourdain)
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Veja o vídeo do incêndio ocorrido ontem na Braskem:
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