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Motorista compra roupa de Natal, brinca com a filha e é morto pela PM

Jovem de 22 anos foi baleado 4 vezes; PM diz que houve troca de tiros

São Paulo|Kaique Dalapola, do R7

Guilherme havia homenageado a filha com uma tatuagem no peito
Guilherme havia homenageado a filha com uma tatuagem no peito Guilherme havia homenageado a filha com uma tatuagem no peito

O motorista Guilherme de Sousa Oliveira, 22, já tinha comprado roupas e alugado uma casa na praia para passar o primeiro Natal da filha, que tem cinco meses de vida. No sábado (9) à tarde, pela primeira vez ele levou a menina para rua, já que tinha pouco tempo livre entre seus empregos de entregador de verduras e ajudante de obras na região de Osasco, na Grande SP.

Poucas horas depois de curtir a tarde com a filha, no início da noite, o rapaz foi morto por policiais militares com quatro tiros no peito. Na versão dos PMs, Guilherme resistiu e atirou contra os policiais.

A reportagem do R7 conversou com pessoas próximas de Guilherme, que não quiseram se identificar com medo de represálias. Elas afirmam que a presença de carros da Polícia Militar na região onde o rapaz foi morto aumentou desde o dia da ocorrência.

Moradores do Jardim Recanto das Rosas, em Osasco, região metropolitana de São Paulo, dizem que Guilherme saiu para comprar pão e cigarro em um bar do bairro onde morava. No estabelecimento, alguns amigos pediram para ele usar as habilidades de motorista para levar um carro até a rua de baixo. O rapaz não sabia que o veículo era roubado.

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O motorista não recusou fazer o favor aos amigos. Quando chegou na rua, um carro da PM estaria esperando para interceptar. Segundo os moradores, Guilherme desceu do carro e, rendido, levou quatro tiros na região do tórax e abdôme.

Na versão dos PMs no 5º DP de Osasco, onde o caso foi registrado, o rapaz “desembarcou do veículo com uma arma em punho e passou a efetuar dois disparos contra a guarnição, a qual revidou, atingindo o autor/vítima”.

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O último dia

Guilherme foi morto com quatro tiros da polícia
Guilherme foi morto com quatro tiros da polícia Guilherme foi morto com quatro tiros da polícia

Guilherme morava na casa dos pais, no bairro onde foi morto, em Osasco. Com eles também moravam a esposa do rapaz e a filha.

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Durante a manhã do sábado (9), Guilherme foi com a família no centro de Osasco se preparar para o Natal. Ele havia comprado roupas para ele, filha e esposa, além de dois óculos da Oakley — um para ele e outro para o pai — que desejava.

O rapaz já havia alugado uma casa no litoral paulista para passar o feriado na praia com a família.

Depois de ser morto, ainda houve tumulto na rua da ocorrência. Os policiais militares que participaram da ação não teriam deixado os familiares nem sequer olhar a vítima. A ambulância teria chegado no local duas horas depois e, mesmo com a população dizendo que Guilherme já estava morto, os PMs teriam dito que o rapaz estava vivo.

Informações da Polícia Civil apontam que o rapaz chegou no Pronto-Socorro Jardim D’Abril já sem vida. Segundo os PMs, Guilherme foi baleado às 19h50. No entanto, os mesmos policiais comunicaram a ocorrência quase cinco horas depois, à 0h46.

Os policiais que participaram da ação foram o sargento Vagner da Silva, os cabos Ricardo Castanharo de Oliveira e Gustavo Araújo de Moura e um PM identificado apenas como soldado Eder, que não foi qualificado na delegacia.

Três dias depois da morte, a esposa de Guilherme publicou no Facebook uma tatuagem que fez em homenagem ao rapaz. 

Esposa de Guilherme tatuou nome de jovem no braço
Esposa de Guilherme tatuou nome de jovem no braço Esposa de Guilherme tatuou nome de jovem no braço

Letalidade policial

A morte de Guilherme deve entrar para as estatísticas da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo), na seção de "mortes decorrentes de oposição à intervenção policial" — quando a polícia diz que o morto resistiu à prisão e trocou tiros.

Entre janeiro e outubro deste ano, 530 pessoas foram após esses supostos confrontos com policiais militares em serviço. O número representa um morto a cada 13 horas em supostas resistências à abordagem da Polícia Militar paulista.

De modo geral, 785 pessoas foram mortas pelas polícias Civil e Militar do Estado de São Paulo durante os dez primeiros meses de 2017. Em todo ano passado, 857 pessoas foram mortas por policiais.

Outro lado

A reportagem questionou a assessoria de imprensa da SSP-SP sobre a ocorrência, o possível aumento de policiamento na região e o tempo entre o jovem ser baleado e a comunicação à Polícia Civil. A pasta respondeu enviando a seguinte nota:

"A Polícia Civil informa que o caso está sendo investigado por meio de inquérito policial pelo Setor de Homicídios de Osasco. O atendimento da ocorrência foi feito por policiais do Baep, logo após constatação de que o carro usado era produto de roubo. Há também apuração do episódio por IPM (Inquérito Policial Militar)."

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