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No rap e no repente, versos cômicos são marca de artistas de trem em SP

Eles improvisam sobre situações do cotidiano dos passageiros para alegrá-los

São Paulo|Do R7*

Pauê, que improvisava em batalhas de MCs, se apresenta na linha 9-Esmeralda
Pauê, que improvisava em batalhas de MCs, se apresenta na linha 9-Esmeralda Pauê, que improvisava em batalhas de MCs, se apresenta na linha 9-Esmeralda

Versos cômicos dão o tom das apresentações dos artistas que se viram para ganhar a vida nos trens da CPTM e do Metrô de São Paulo.

O R7 acompanhou, nas últimas semanas, performances de alguns desses personagens, que driblam a norma das companhias e recebem contribuições de passageiros em troca de suas artes.

Na linha 9-Esmeralda (Grajaú-Osasco) da CPTM, o rapper Pauê Oliveira, 27 anos, fazia sua apresentação. Após ligar uma caixa com o beat (base da música), ele improvisava versos mexendo com os passageiros:

O artista integra o movimento WuTremClan. O coletivo reúne 12 rappers que se apresentam em diferentes linhas de transporte sobre trilhos em São Paulo — o nome surgiu baseado em um grupo de Hip Hop de Nova Iorque: Wu-Tang Clan.

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Ele, que sobrevive de suas apresentações, diz que seu trabalho lhe dá a possibilidade de "fazer o que gosta". "Além disso, a gente pode folgar um dia que não está muito legal", afirma, comparando o ofício com um emprego fixo com carteira assinada.

Como tantos outros rappers paulistanos, Pauê iniciou a carreira musical em batalhas de MCs, que acontecem pela cidade. Incentivado pelo carioca MC Du Trem, também integrante do WuTremClan, passou a apresentar-se nos vagões.

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Romário, com seu pandeiro, na linha 11-Coral
Romário, com seu pandeiro, na linha 11-Coral Romário, com seu pandeiro, na linha 11-Coral

Repente no trem

Além do rap paulistano, o tradicional repente nordestino leva versos humorísticos aos trens do Estado de São Paulo.

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O cearense Romário Faustino, 22 anos, diz que os paulistanos "são quase todos nordestinos" para explicar o sucesso dos repentes que faz com seu parceiro, o alagoano Lucas Souza, 22. 

"Em São Paulo todo mundo gosta do nosso estilo", diz.

A reportagem acompanhou a apresentação da dupla na linha 11-Coral (Guaianazes-Estudantes):

Ex-palhaço de circo (profissão que exerceu na adolescência, ainda no Ceará, escondido da mãe) e ex-pedreiro (ofício que adotou após chegar a São Paulo), Romário afirma que iniciou sua carreira de repentista após a construtora em que trabalhava falir.

As apresentações em transporte público foi alternativa que encontrou para fugir do desemprego. 

Lucas já fazia apresentações nos trens e incentivou o cearense a se preparar para também entrar no meio musical e, a partir disso, os dois formarem a dupla. Hoje, os repentistas sobrevivem das caixinhas que os passageiros dão e das vendas de seus CDs. 

Quando o assunto é o futuro profissional, porém, a dupla não segue e mesma sintonia. Enquanto Lucas pretende conseguir um emprego com carteira assasinada e benefícios, Romário deseja seguir cantando e "alegrando as pessoas".

Alegrar os passageiros

Seja na improvisação, ou nas "rimas coringas" — versos usados em diversas ocasiões —, rappers e repentistas dizem ter a intenção de fazer os passageiros sorrirem narrando situações típicas do transporte público.

Os artistas contam que, quando alguém não gosta da apresentação, é necessário ter jogo de cintura. "Quando a gente vê que a pessoa não está gostando, a gente dá um jeito de se desculpar e parte para outra", afirma Pauê. Mas Lucas garante que o número de desafetos é pequeno.

Gabriel na estação da Luz
Gabriel na estação da Luz Gabriel na estação da Luz

Violino no Metrô

Não é apenas com versos, no entanto, que artistas tentam alegrar os usuários dos transportes sobre trilhos em São Paulo. O campineiro Gabriel Smith, 21 anos, vem para capital semanalmente com seu violino para se apresentar nas estações Luz ou Barra Funda, do Metrô.

Ele aproveita a viagem que faz para participar de um curso musical e para visitar os parentes em São Paulo para ficar algumas horas nas estações ganhando dinheiro com sua arte.

"Meu trabalho é mostrar a música às pessoas, alegrar a vida delas. Dar a elas a oportunidade de ouvir um instrumento diferente, que não é muito acessível", afirma.

Prática vetada

A atividade dos artistas, porém, é informal: a prática é proibida pelo regulamento do Metrô e da CPTM. Segundo a STM (Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos), "nos trens e estações da CPTM e do Metrô não é permitido ligar rádios ou outros aparelhos sonoros ou tocar instrumentos musicais que causem incômodo ou desconforto aos demais usuários".

A STM afirma que o artista que descumpre as regras é "orientado a cessar as atividades e, em caso de descumprimento, está sujeito à perda do direito de prosseguir viagem".

A STM afirma que "as duas companhias [Metrô e CPTM] apoiam e estimulam manifestações artísticas e mantêm uma vasta programação cultural de apresentações e exposições em datas e espaços previamente agendados de modo a não interferir na operação do transporte bem como na circulação, comodidade e segurança dos passageiros".

*Kaique Dalapola, estagiário do R7

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