A Prefeitura de São Paulo irá fechar a última unidade do Atende (Atendimento Diário Emergencial) em funcionamento na Cracolândia, região onde dependentes químicos compram e usam droga a céu aberto, na capital paulista, anunciou a ONG Craco Resiste.
De acordo com a publicação, feita em rede social nesta segunda-feira (19), usuários da unidade instalada na rua Helvetia, a mais próxima do fluxo onde estão os dependentes químicos, estão sendo orientados a procurar outros locais. “O encerramento de serviços que oferecem banho, pernoite e alimentação faz parte do projeto de empurrar a população em situação vulnerável para longe da região”, disse.
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“O próprio governador de São Paulo, João Doria, assumiu na semana passada, durante a inauguração das obras do hospital que será construído na área, que pretende remover parte das pessoas para um novo espaço na zona norte”, acrescentou a organização.
O hospital citado pela ONG é o Pérola Byington, que será transferido da avenida Brigadeiro Luís Antônio para a avenida Rio Branco, próximo à Cracolândia, que teve evento com o prefeito Bruno Covas e Doria no último dia 13. As obras eram uma promessa do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), feita em 2013.
Construído pela empresa Construcap e operado pela Inova, o hospital será resultado de um modelo de PPP (Parceria Público-Privada). A empresa ficará encarregada de manutenção predial e de equipamentos, mediante pagamento mensal ao Estado. A promessa é que as obras terminem daqui 36 meses, em 2022. A obra foi anunciada por R$ 307 milhões, sendo que R$ 123 milhões serão pagos pela Inova e R$ 184 milhões pelo Estado, por meio de um financiamento com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
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A mudança de endereço do Pérola Byington faz parte das ações prometidas por Estado e município para tentar revitalizar a Cracolândia. Tentativas para resolver o problema fracassam desde o início dos anos 1990. No bairro, também estão sendo construídos edifícios residenciais para trazer mais moradores para a área.
“Para a construção do hospital, dezenas de pessoas foram despejadas, inclusive proprietários de imóveis. Os pequenos comerciantes têm sofrido dura perseguição, com os estabelecimentos sendo constantemente emparedados”, denuncia a ONG. “Por isso, se torna cada vez mais evidente a intenção do governo e da prefeitura em fazer ações policiais violentas para espalhar e esconder a Cracolândia”, acrescenta.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de São Paulo não confirmou o fechamento das unidades do Atende, mas disse que o serviço que é prestado no local será incorporado no SIAT (Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica) – o processo faz parte da segunda fase do programa Redenção, criado por Doria enquanto prefeito da capital paulista.
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“A transferência dos Atende’s faz parte desse processo. Portanto, as unidades I e III foram incorporadas ao SIAT (Serviço Integrado de Acolhimento Terapêutico”, na rua Porto Seguro, para funcionamento de forma integrada com serviços de saúde”, informou.
O órgão público disse, ainda, que a população já está fazendo uso do serviço no novo endereço. “As pessoas abordadas no SIAT I serão encaminhadas, de maneira totalmente voluntária, humana e respeitando a singularidade de cada caso, ao SIAT II”, diz – os usuários serão levados de vans e acompanhados pelos profissionais.
A meta da mais rica prefeitura do país é reduzir em 80% o número de usuários de drogas em logradouros públicos e oferecer 600 novas vagas em locais específicos e capacitados para atendimento humanizado em saúde e assistência social para essas pessoas, e possui orçamento de R$ 276 milhões.