Em ano de crise, a parada do orgulho LGBT de São Paulo, considerada uma das maiores do mundo, também sofre. De um financiamento previsto em R$ 2,1 milhões para o evento neste ano, a prefeitura vai pagar apenas R$ 1,3 milhão, corte de R$ 800 mil. A parada acontece no próximo dia 7 de junho na avenida Paulista.
A informação foi repassada pelo coordenador de política LGBT da Prefeitura de São Paulo, Alessandro Melchior, durante coletiva de imprensa tensa e na qual ficou claro a relação desgastada entre o poder público e a APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo).
— O valor do Orçamento da Prefeitura de São Paulo foi atualizado e, por consequência, todas as áreas sofreram cortes orçamentários e isso impacta na política LGBT. A nossa previsão orçamentária para 2015 das políticas LGBT do município era de R$ 8 milhões. O que a Câmara Municipal aprovou foi R$ 3,4 milhões, menos da metade.
Com um aporte menor, Melchior afirma que foi preciso fazer escolhas nos eventos. Uma delas foi retirar, neste ano, o camarote do desfile que abriga cerca de 800 pessoas, incluindo as autoridades.
A tradicional Feira Cultural LGBT, que reúne um público de 100 mil pessoas, também sofreu cortes. O evento será realizado no dia 4 de junho no Vale do Anhangabaú das 10h às 22h, mas não terá aporte da Prefeitura de São Paulo. A organização teve que recorrer ao Governo do Estado.
Sem dar muitos detalhes, a coordenadora de política para diversidade sexual do governo, Heloisa Alves, apenas informou que o Estado irá apoiar, mas não informou o tamanho do aporte.
— O Estado, no que ele está podendo apoiar, principalmente com relação a feira, a gente está tentando.
A prefeitura garante que a redução não irá afetar o número de trios ou a segurança do evento.
— O público não perde em absolutamente nada porque a parada continua com a mesma estrutura.
Já a associação critica a postura da prefeitura e diz que faltou organização por parte do órgão. O diretor-sócio fundador da APOGLBT Nelson Matias afirma que, a 20 dias do evento, não foram realizados encontros para discutir a infraestrutura no dia da parada.
— Vieram em março avisar que não iriam apoiar a feira porque não tem recurso. Fomos atrás do Governo do Estado que deve apoiar, mas foi em cima da hora e não pode fazer licitação. Somente dia 30 de abril autorizaram a realização na avenida Paulista. O evento é dia 7 de junho e está no calendário da cidade de São Paulo.
Para colocar mais lenha nesta caminhada que parece estar com as pernas bambas, Nelson diz que a prefeitura não vai investir na feira cultural, mas dias depois apoiará o Festival Juventude LGBT.
— Para a nossa surpresa, fomos pesquisar e a prefeitura está chamando o evento uma semana depois que tem a mesma estrutura de feira.
Melchior rebate as críticas de que a prefeitura estaria gastando o dinheiro em outra iniciativa de tamanho e custos iguais.
— Foi uma demanda que a gente recebeu de coletivos de jovens LGBT que nos solicitaram apoio para esta atividade. É uma estrutura igual a do show da caminhada lésbica, que é um palco de pequeno porte, duas tendas. O festival de juventude LGBT que a gente está apoiando não tem nenhuma semelhança com a feira. É uma estrutura bem menor.
Show de encerramento
O show de encerramento, que começa no início da noite e segue até as 21h, deve ser realizado no Vale do Anhangabaú e não mais na República. Isso porque o local daria mais acessos a estações de metrô e facilitaria a montagem de um esquema de segurança. A avenida Paulista tem que ser liberada às 18h.
O efetivo policial no ano passado superou os 2.400 agentes. Em 2015, a parada concorre com outras atividades de peso, como um jogo do Palmeiras, o que pode impactar no número de profissionais. O esquema de segurança ainda não foi divulgado.
Dentre as atrações, estão previstos os shows de Valesca Popozuda, Wanessa Camargo e Aline Rosa. A 19° Parada do Orgulho LGBT vai defender o respeito. O lema deste ano é: "eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim: respeitem-me".