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"Ser mãe é uma maravilhosa roubada": mulheres abrem o jogo sobre ter filhos

Quatro mães deixam de lado o romantismo e narram a difícil rotina da maternidade

São Paulo|Caroline Apple, do R7

A dona de casa Juliana Reis, de 25 anos, teve seu perfil no Facebook bloqueado após publicar um texto sobre sua vida sendo mãe de primeira viagem. Na publicação, Juliana expôs suas frustrações e medos que, mesmo compartilhados por muitas mulheres, incomodaram e geraram uma avalanche de críticas, mas também de mensagens de apoio.

O R7 foi atrás do depoimento de mães que não têm medo de expor o lado ruim da maternidade e que sabem que isso não anula o lado bom, como as brincadeiras, as fotos posadas e o amor incondicional. São mulheres que não negam as dificuldades, mas se negam a romantizar a vida de mãe, enxergando nos problemas a chances de serem mulheres melhores.

Confira os relatos:

Larissa e seu filho Gael, de 5 anos
Larissa e seu filho Gael, de 5 anos Larissa e seu filho Gael, de 5 anos

Larissa Amaral, 26 anos, fotógrafa – mãe do Gael de 3 anos

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“Ser mãe é uma maravilhosa roubada”

"Eu nunca quis ser mãe. Descobri que estava grávida aos dois meses de namoro. Passei por muito problema financeiro. Não comprei uma roupinha para Gael na gestação toda, nem um par de meia, e isso me faz chorar até hoje.

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Meu pós-parto foi um lixo. Eu estava sozinha e não sabia lidar com um bebê que só chorava. Uma noite eu pedi ajuda para o pai dele e ele fez um enorme ‘xiuuuuuuu’ e disse que queria dormir. Passei o pós-parto na casa da minha mãe, porque eu sabia que teria o que comer e, à noite, ela poderia me dar dicas e me fazer um cafuné. Quando eu voltei para casa, me vi mais sozinha do que eu já estava. O pai do Gael dizia que precisava sair, porque ele tinha que ter um tempo para ele.

Me separei quando ele tinha 8 meses. Fiquei um tempo sem pensão e cuidando da cria com a ajuda da minha mãe. Pensei em voltar a trabalhar, mas como eu iria fazer para cuidar dele? Coloquei o pai dele na Justiça e hoje ele paga uma pensão de R$ 350. Quase nunca em dia, bem raro. Consegui colocar ele na creche pública com um ano e meio. Mas e aí? Que trabalho eu arrumo? Uma vez por mês ele não tem aula e todo dia ele sai às 16h. Tem dias que eu choro, porque por mais que o ame muito, sei que a gente não vive só disso. Somos felizes, mas fico triste, porque não consigo nos bancar ainda.

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Acabo sempre perdendo boas oportunidades de trabalho por falta de opção de ter com quem deixá-lo. Ele é meu grande companheiro. Moleque gente fina. Mas essa anulação é cansativa. Sonho sempre que temos a nossa casa, que não dependo de ninguém.

Eu amo o Gael mais que tudo nesta vida. Mas acho que a maternidade não deve ser imposta. Tem que ser mãe quem quer. Porque é difícil segurar a bronca. Ser mãe é uma maravilhosa roubada”.

A jornalista Cuca Fromer com seu filho Bernardo, hoje com 34 anos
A jornalista Cuca Fromer com seu filho Bernardo, hoje com 34 anos A jornalista Cuca Fromer com seu filho Bernardo, hoje com 34 anos

Cuca Fromer, 57 anos, jornalista — mãe do Bernardo, de 34 anos

“Ser mãe era um papel importante, mas não o único que eu queria desempenhar”

“Minha gravidez foi uma escolha planejada quando eu tinha 24 anos. Tinha claríssimo que queria ser mãe ou que queria ter um filho. Tive uma gravidez normal, tranquila e bem-disposta. O Bernardo nasceu de parto normal, meio complicadinho, mas foi tudo bem.

Tive uma depressão pós-parto razoável e, naqueles tempos, não se falava disso, então, eu que era superanimada e positiva, estava apavorada com aquele serzinho, que eu adorava, mas não dava conta. Foi um período complicado, mas cuidei do Bernardo sozinha e com bastante atenção e amor.

Sempre olhei o Bernardo como uma pessoa que eu deveria me esforçar muito para conhecer e descobrir. Sempre achei que tinha a minha vida e que ser mãe era um papel importante, mas era um dos papéis que queria desempenhar, não o único. Assim, no decorrer de toda a nossa vida em comum, o Bernardo sempre teve seu espaço, sua vida, suas coisas independentes de mim e vice-versa. Considero a maternidade um dos papéis que não falhei demais, mas ela não é o centro do meu ser. Hoje o Bernardo tem 34 anos.

Se alguém se sentirá uma pessoa melhor romantizando o papel de mãe que o faça. Acho exagerado e maldoso o papel da sociedade nessa romantização. É muito difícil resistir a essa avalanche de ‘oh, como é maravilhoso ter filhos’ ou ‘oh, não há nada mais gratificante do quer ser mãe’. Acho opressivo. É muito legal ser mãe e não é nada fácil. No cotidiano, diria até que há mais trabalho e preocupações, principalmente preocupações, do que festa e diversão. No geral, ser mãe é mesmo uma delícia, mas não considero tarefa fácil e não acho bacana que tratem como uma viagem à Disney. A romantização é pouco saudável para as mães”.

A contadora Liliane Farias com a pequena Larissa, de 5 anos
A contadora Liliane Farias com a pequena Larissa, de 5 anos A contadora Liliane Farias com a pequena Larissa, de 5 anos

Liliane Farias, 29 anos, contadora – mãe da Larissa, de 5 anos

“Maternidade é achar que não vai conseguir, achar que não vai dar conta”

“A maternidade nos traz muitas experiências novas e nada é mais como antes, nem sequer o nosso banho é como antes. As coisas passam a acontecer quando dá e não mais quando a gente quer. Ser mãe é um recomeço todos os dias, uma surpresa, a gente nunca sabe o que o dia nos espera e nem se vamos passar a madrugada no hospital. Ser mãe é tudo muito intenso, tudo é demais ou de menos.

Amamos muito, nos dedicamos muito, muito trabalho, exigências, cobranças, isso sem contar os palpites, aquilo que você se matou para fazer, deu seu máximo, e vem alguém com uma maneira melhor que a sua para seu filho.

Maternidade é achar que não vai conseguir, achar que não vai dar conta de filhos, casa, marido, trabalho, mas chegar no final do dia e ouvir ‘mamãe te amo’ e perceber que tudo compensa.

Acho que mães que romantizam a maternidade estão expondo apenas um lado, não mensuram as dificuldades, porque, com certeza, passam por elas. Tive um pós-parto muito difícil, tudo era novo para mim, tinha medo e me sentia culpada por perder a paciência e ficar tão dependente ao ponto de não conseguir jantar. Chorava, sentia dor no peito. Outra coisa péssima é amamentar. O que tem de bom nisso? Dói demais, a criança não pode ficar 2 horas sem que você esteja por perto. Tem os dois lados e um não pode anular o outro”.

Natália tem duas filhas, a Alice, de 8 anos, e a Joana, de 7 anos
Natália tem duas filhas, a Alice, de 8 anos, e a Joana, de 7 anos Natália tem duas filhas, a Alice, de 8 anos, e a Joana, de 7 anos

Natália Tavernero, 30 anos, - mãe da Alice, de 8 anos, e da Joana, de 7 anos 

“Acho que medo é um sentimento perpétuo das mães”

“Engravidei aos 22 anos. Na época estava com a faculdade trancada e recém-chegada de um mochilão pelo Brasil. Era um momento da vida em que eu estava avaliando se queria realmente seguir a carreira que tinha escolhido. Eu queria um milhão de coisas, mas construir uma família nunca esteve nos meus planos.

Quando engravidei, eu não tinha um relacionamento sério. Me sentia completamente culpada pela gestação. Na minha cabeça, a responsabilidade de preservar a minha liberdade era minha, então me questionei se estava preparada para ser mãe solteira. Não dá para dizer que eu sabia o que vinha pela frente. Avaliei minhas possibilidades, entre elas o aborto. Sim, pensei nisso e duvido que qualquer garota na minha posição não pensaria, mas escolhi ouvir meu coração, me sentia menos preparada para um aborto do que para ser mãe solteira, sabia que minha família me daria apoio, decidi ser mãe.

Só voltei a ficar junto com o pai delas quando estava de cinco meses. Quando minha filha nasceu era estranho. Não me sentia mãe. Esse sentimento foi crescendo dentro de mim a cada dia. Fui aprendendo a cada noite sem dormir, cada vez que tirava meu peito já em carne viva para amamentá-la. Esse era um momento de muita dor. Foram nos momentos mais difíceis que aprendi a ser mãe: quando eu ficava louca de impotência com as cólicas de madrugada, na insegurança de estar fazendo tudo errado, quando o medo batia e eu chegava bem pertinho para ter certeza que ela estava respirando.

Quatro meses depois que a Alice nasceu, engravidei novamente. Desta vez, fiquei mais apavorada. Medo era tudo o que eu sentia. Eu tive que aprender a ser mãe de dois bebês ao mesmo tempo. Que loucura, tudo em dobro: choro, banho, fralda, cocô, mamadeira, competição por atenção, tudo! Tive que reprogramar minha vida, meus sonhos meus planos. Hoje minhas filhas estão com 8 e 7 anos e acho que está mais difícil agora, porque educar não é tarefa fácil. Continuo tendo medo. Acho que medo é um sentimento perpétuo das mães.”

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