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Sindicatos ligados à polícia criticam operação que dobra agentes nas ruas de SP: 'vai oficializar o bico'

Policiais atuarão durante folgas. Jornadas extras causam exaustão e põem profissionais e civis em risco, alertam entidades de policiais

São Paulo|Guilherme Padin e Gabriel Croquer, do R7

Grupos defendem que solução é contratar mais policiais e remanejar agentes de outras áreas
Grupos defendem que solução é contratar mais policiais e remanejar agentes de outras áreas Grupos defendem que solução é contratar mais policiais e remanejar agentes de outras áreas

Sindicatos e associações ligadas à atividade das polícias de São Paulo lançaram nesta sexta-feira (6) um manifesto contra a Operação Sufoco, do governo de São Paulo, que visa o combate aos assaltos realizados por falsos entregadores.

Desde quarta-feira (4), o estado praticamente dobrou o número de policiais nas ruas, de 5.000 a 9.700 agentes, a fim de enfrentar crimes contra o patrimônio, golpes de Pix, furtos e, principalmente, os roubos com falsos motoboys. A operação vai durar por tempo indeterminado.

Essa estratégia, somada à morte do jovem Renan Loureiro, motivou a decisão de Rodrigo Garcia (PSDB), que justificou as ações dizendo que elas são “o que a sociedade está esperando”. “Bandido que levantar arma para polícia vai levar bala”, afirmou o governador no anúncio da operação, em fala observada por especialistas em segurança pública como bravata política.

Ao todo, segundo as associações, 3.000 PMs e 500 policiais civis ‘venderão’ suas folgas e vão receber para trabalhar no período de descanso, a fim de aumentar o efetivo presente nas ruas. Um agente com jornada de 12 horas por 36 horas de descanso poderá fazer até 10 horas extras.

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Na explicação do governo estadual, o aumento do efetivo será possibilitado pelo aumento das vagas em programas que permitem jornadas diárias extras aos policiais. A cada mês, os agentes poderão trabalhar no máximo em dez dias que seriam de folga. A gestão Garcia prevê investimento mensal de R$ 41,8 milhões para manter o efetivo inflado nas ruas. 

No manifesto dessa sexta, os órgãos apontam que, diante do déficit de policiais no estado, a medida gerará sobrecarga de trabalho a uma categoria afetada pela escassez de profissionais, além de se tratar de um plano “paliativo que já começa falho ao ignorar os demais setores que serão impactados com aumento de prisões e apreensões que devem resultar da ação”. 

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Neste caso, são citados policiais civis e militares, peritos criminais, médicos legistas e policiais penais.

Ao R7, a presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), Raquel Gallinati, avalia a medida como uma “completa trapalhada”, em que o único objetivo é marketing político.

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“Ele [Rodrigo Garcia] vem com uma proposta milagrosa de se apropriar do horário de lazer dos policiais, fazendo com que eles, que já estavam em jornada exaustiva de trabalho, não tenham nem o direito de descansar em casa. Uma estratégia equivocada, sacrificando ainda mais os profissionais”, diz Gallinati, ao ressaltar que a exaustão mental pode colocar vidas e o andamento das operações em risco. 

Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e especialista em segurança pública, também vê intenção política na operação, uma tentativa de resposta do governo, segundo ele, em um ano eleitoral.

“Mas é necessário que as polícias se organizem e deem uma resposta a isso. A possibilidade disso de fato gerar resultados positivos para as pessoas ruas, não acho tão provável, na medida que o problema é muito mais complexo do que apenas colocar a polícia na rua”, pondera. 

"Essa é a resposta que sempre se dá: botar mais polícia na rua, botar mais polícia na rua. Mas a gente não tem um efetivo tão grande e acaba colocando mais estresse no policial. Então a gente precisaria urgentemente de contratação e trazer mais gente para as polícias."

No manifesto, as entidades afirmam que existem cerca de 4.100 agentes de escolta e vigilância prisional, treinados para segurança das muralhas de penitenciárias e deslocamentos de presos, que também poderiam ser aproveitados para aumentar o efetivo nas ruas e diminuir a carga nos policiais já na ativa.

"O governo deveria priorizar chamar os policiais que já foram aprovados em concursos e aguardam na lista de espera pra assumirem seus cargos. Da mesma forma, deveriam chamar os agentes de vigilância penitenciária que aguardam pra tomarem posse nos cargos e funções", comenta o advogado especialista em segurança pública e direitos humanos Ariel de Castro Alves. 

"Muito temerária essa iniciativa de que os policiais não terão mais folgas. Muitos inclusive já não tem folgas em razão dos “bicos” que fazem na área de segurança privada."

Outro lado

Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) afirmou que a operação foi articulada para combater a criminalidade e aumentar a sensação de segurança. Também disse que investe continuamente na valorização, ampliação e recomposição do efetivo policial. A pasta citou como exemplos o reajuste salarial de 26% para as forças de seguranças públicas e a contratação de 12.880 policiais desde o início da gestão.

"Outros 3.293 estão nas academias das Polícias, passando por curso de formação. Além disso, já foram autorizadas 5.639 novas vagas para as forças de segurança do Estado. (...) Somente na atual gestão, foram aplicados R$ 190,4 milhões na compra de 95 mil novas armas e coletes balísticos em licitações internacionais", completou o governo. A secretaria citou ainda a entrega de 6 mil novos veículos, em investimento de pouco mais de R$ 455 milhões, além do R$ 1 bilhão direcionado para o pagamento de bônus para os policiais. 

Sobre o trabalho nas folgas, a pasta esclareceu que os programas de jornada extra são opcionais e reafirmou que o limite de oito horas de trabalho por dia e dez diárias por mês foram fixados para preservar a saúde física e mental dos agentes. A SSP não respondeu ao R7 se existem outras alternativas para aumentar o número do efetivo nas ruas além do expediente em dias de folga.

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