Momento em que Edilson pula o muro e é mordido por cães no terreno
Reprodução Record TVO pizzaiolo Edilson, de 20 anos, ainda se emociona ao falar da tentativa de resgate de Luiz Fernando Teixeira de Santana, de 10 anos, do ataque de seis cães em um terreno em Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, no dia do Natal. "A única coisa que eu queria era tirar ele de lá com vida", afirmou o jovem nesta sexta-feira (27) em frente à delegacia do Jabaquara.
Edilson tem um filho de 5 anos e quando ouviu uma mulher dizer "vai matar ele", se aproximou do muro e viu a criança deitada já com os cachorros em cima mordendo. "Quando vi a criança, imaginei se fosse meu filho, um parente meu. Toda criança quer brincar, empinar pipa, às vezes, ele nem sabia que tinha cachorros lá", revelou a testemunha.
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Ele ainda avisou a polícia, mas decidiu subir no muro para tentar retirar o garoto da área, mas não teve ajuda. Edilson aproveitou o momento em que os cães foram para o fundo do terreno e pulou o muro, mas os animais retornaram rapidamente e o cercaram. "Se os policiais não atirassem [nos animais], eu também não teria conseguido sair porque eu já tava perdendo as forças", contou.
Ele foi mordido na perna ao tentar deixar o terreno e ainda apresenta arranhões nas mãos. Edilson foi levado pelos bombeiros para o Hospital Municipal Dr Arthur Ribeiro de Sabóia, onde foi encaminhado para a sala de sutura e tomou vacina antitetânica.
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O estudante foi buscar a pipa em um terreno na rua Manoel Soares de Oliveira e se deparou com os animais por volta das 14h30 desta quarta-feira (25). Ele estava com amigos. Eles pularam o muro, que é baixo, mas Luiz não conseguiu voltar como as outras crianças. Os animais o teriam arrastado. O terreno também não apresenta placa com sinalização de "animal feroz".
A delegacia do Jabaquara investiga o caso. Depoimentos já foram feitos e o proprietário do terreno procurou a polícia e deve ser ouvido nos próximos dias.
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Há denúncia de que os mesmos cães já tinham matado um poodle há 8 meses. O cachorro chamado de Max passeava pelo bairro com o casal, quando foi arrastado e passou pelas grades do terreno.
Luiz Fernando era o caçula de 5 irmãs e iria realizar um sonho: conhecer o Rio de Janeiro. "Se eu sonhava que ele vinha para cá [terreno], eu não ia deixar porque eu nunca deixava ele sair sozinho", revelou a mãe do garoto, Rita de Cássia. Ela cobra explicações: "eu quero justiça. Cadê o dono do terreno? Cadê o dono dos cachorros?".
A Polícia Civil solicitou exame para avaliar se houve maus-tratos aos animais e apura eventual omissão de cautela na guarda dos cães.
O caso
De acordo com a Polícia Militar, Luiz Fernando pulou o muro para tentar pegar uma pipa que caiu em um terreno baldio, próximo a uma feira livre. No local viviam seis cachorros - quatro pitbulls, um rottweiler e um vira-lata - todos de grande porte, que eram usados para segurança. Ainda segundo a PM, um segurança ia duas vezes por semana ao local para dar água e comida para os cães.
No momento em que o menino entrou no terreno, foi atacado pelos cachorros. Edilson tentou salvar a criança, mas também foi atacado pelos animais. Ele foi mordido nas pernas e não conseguiu socorrer o menino.
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A Polícia Militar foi acionada. Quando os policiais chegaram, conseguiram entrar pelo portão principal do terreno. No momento em que a equipe entrou, a criança ainda estava sendo atacada pelos cães.
Os policiais, então, atiraram em direção aos cachorros e um foi atingido. Os outros cães se assustaram com o barulho dos disparos e correram em direção às baias, no fundo do terreno.
Logo em seguida, quatro equipes do Corpo de Bombeiros e o helicóptero Águia da Polícia Militar chegaram e tentaram reanimar o garoto. Naquele momento, os cachorros novamente foram em direção às equipes para atacá-los e os policiais militares atiraram novamente. Ao todo, três cães morreram e um ficou ferido.
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O menino teve o corpo todo mordido, principalmente a cabeça, e morreu no local. Luiz Fernando foi enterrado nesta quinta-feira (26) no Cemitério de Campo Grande, na zona sul de São Paulo.
Cães
A DVZ (Diretoria de Divisão de Vigilância de Zoonoses) mobilizou uma equipe composta pelo diretor da unidade, três agentes de zoonoses e três veterinários para resgatar os animais nesta quarta-feira (25).
O órgão fica responsável pelo atendimento à saúde dos cães e poderá autuar o proprietário por maus-tratos. A equipe vai também acionar a delegacia de proteção de crime contra os animais.
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Os três cachorros sobreviventes foram removidos. Um deles tem um ferimento na pata e foi encaminhado para o Hospital Público Veterinário da zona leste, mas não corre risco de morte. Os outros dois cães estão em tratamento na DVZ.