Nos últimos meses, pelo menos duas quadrilhas foram presas suspeitas de fraude no Bilhete Único. Os grupos agiam de formas parecidas: cobrando um valor menor do que a condução nos trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), do Metrô e dos ônibus. O usuário pagava a passagem e passava pela catraca com o bilhete do criminoso. Desta forma, as quadrilhas tinham lucro de 100%. De acordo com denúncias de usuários, a SPTrans (São Paulo Transporte) estaria diminuindo as cotas dos bilhetes mensais comum e de estudante para evitar novas fraudes, sem nenhum aviso.
A auxiliar de escritório Geane Feitosa, de 23, teve problema com a cota do seu Bilhete Único Mensal Comum. A jovem mora na Bela Vista, na região central de São Paulo, e pega quatro ônibus para ir e voltar do trabalho, no Jardim Aricanduva, na zona leste da capital. Todo dia 8 ela recarrega R$ 140 para usar apenas ônibus durante 31 dias corridos. Porém, a cota do cartão dela acabou três dias antes.
— No dia 6 [de agosto], eu peguei o ônibus às 6h, mas o cartão não passou e apareceu “sem crédito” [na catraca]. Eu tive que pagar em dinheiro. Já no Terminal Parque Dom Pedro, aconteceu a mesma coisa.
Já para o Alan Ricardo Grecco, de 26 anos, o barato saiu caro. Com o intuito de economizar, o estudante passou a utilizar apenas ônibus para se descolocar entre a casa dele, na região de Itaquera (zona leste), o trabalho, no Tatuapé (zona leste), e a faculdade, no centro de São Paulo. Como tem direito ao Bilhete Único Mensal Estudante, ele poderia fazer todos estes trajetos durante 31 dias, pagando R$ 70 por mês. Depois de não conseguir usar o cartão, ele também ficou no prejuízo.
Durante o dia, o estudante acaba fazendo mais de dez viagens tranquilamente, já que, com o bilhete, podia pegar até 20 ônibus diferentes — informação que consta no site da SPTrans. Porém, no dia 20 de agosto, ele pegou o nono coletivo, mas o cartão não funcionou acusando insuficiência de saldo na catraca. Alan contestou o cobrador, mas foi obrigado a pagar a passagem novamente em dinheiro.
Na última quinta-feira (2), Alan foi novamente em um posto da SPTrans, onde o funcionário trocou o cartão alegando que havia um defeito no chip. O problema persistiu por mais duas semanas, sempre após a oitava viagem.
— Quando acabava a cota, aparecia a mensagem “limite de cota excedido”. Agora, aparece sem saldo e o cobrador acha que eu não quero pagar. É um constrangimento.
Novamente em outro posto da empresa, o estudante foi informado por um funcionário que a empresa tinha diminuído a cota dos cartões a fim de impedir as fraudes. O funcionário também teria dito que estas medidas seriam tomadas apenas por alguns dias, por isso, a empresa não teria autorizado que a mudança fosse divulgada para o público.
Transtorno
Ficar sem crédito no meio da rua já causou transtornos para Geane.
— O cartão não funcionou e eu tive que descer do ônibus no meio da rua à noite.
A auxiliar de escritório precisou pedir ajuda ao marido, que é taxista. Ele não pode buscar a mulher e acabou recorrendo para um colega. O bilhete só voltou ao normal quando ela o recarregou novamente, no dia 8. Agora, Geane anda munida com o comprovante de recarga aguardando a fim de evitar novos aborrecimentos.
Alan se diz indignado com a situação, pois acabou gastando bem mais do que pretendia.
— No fim das contas, já gastei mais de R$ 100, só que não sou obrigado a ficar me explicando e pagando do meu bolso. É um absurdo que os cidadãos sejam penalizados por causa das fraudes dos outros, que continuam a todo vapor próximos aos terminais de ônibus e em pontos de recarga piratas.
Informações desencontradas
No site da SPTrans, na aba “Bilhete Único” consta a informação de que tanto o Bilhete Único Mensal Estudante quanto o Bilhete Único Mensal Comum dão direito a 20 viagens diárias durante 31 dias, a partir do momento da recarga. No entanto, nas páginas de “Dúvidas”, a empresa afirma que os cartões dão direito a dez viagens e 15 viagens por dia, para estudantes e cidadãos comuns, respectivamente. Em todo caso, os usuários não estão sendo atendidos pelo serviço que contrataram.
A SPTrans nega ter diminuído a cota nos bilhetes mensais. De acordo com o diretor de gestão econômica e financeira da SPTrans, Adalto Farias, devido às fraudes foi suspensa a venda do Bilhete Único Anônimo, diminuindo o número de ocorrências. Os demais cartões não sofreram alterações. Ainda segundo ele, o validador do ônibus informa quando vai extinguir o saldo.
— É necessária uma análise mais profunda dos casos apresentados porque pode ter ocorrido algum problema nos cartões. Se a pessoa colocou algum outro crédito eventualmente sem saber, de alguma fonte não oficial, isso pode ter afetado o funcionamento do cartão
Farias ainda ressalta que os usuários devem sempre comprar créditos em lugares oficiais. No site de SPTrans, há uma lista com todos os endereços, como estações de Metrô, terminais de ônibus. Também é possível recarregar com aplicativos de celular e em agências do Banco do Brasil. Caso o usuário apresente problemas no cartão, como perda, roubo ou furto, ele pode entrar em contato com o 156 ou procurar um dos postos de atendimento da empresa.
A empresa ainda se colocou à disposição dos usuários ouvidos pela reportagem para resolver a questão. Quanto à informação desencontrada sobre o número de viagens, Farias esclareceu que houve falha na atualização do site.