Mayra Rodrigues teve um prejuízo de mais de R$ 7,5 mil
Arquivo pessoalA tatuadora Mayra Rodrigues, de 26 anos, é dona de um pequeno estúdio de tatuagens em Santo Amaro, na zona Sul de São Paulo. O estúdio é a realização de um sonho empreendedor e sua única fonte de renda.
Há cerca de um mês, ela viu este sonho ruir após terem sido furtados quase todos os objetos e materiais de trabalho do seu estúdio, um prejuízo de mais de R$ 7,5 mil. O crime deixou May, como é conhecida, e seus amigos tatuadores indignados.
Uma garota de 23 anos chamada Roberta Louise Ribeiro se aproximou dela pelas redes sociais e começou a frequentar o estúdio.
"Ela falava super bem, elogiava o meu trabalho e dizia que também fazia tatuagens e piercing. Ela contou que já tinha viajado para vários países e feito muito dinheiro com tatuagem", relembra May.
Como tinha planos para ampliar o negócio, May pensou em convidar a Roberta para trabalhar como freelancer no estúdio. "Certa vez, após uma festa, junto com outros amigos meus, ela também foi dormir na minha casa", disse May. A garota era expansiva, contava muitas histórias e fez amizade com vários amigos da May.
"Em pouco tempo, ela já era uma amiga. Ia na minha casa. Um dia ela chegou lá dizendo que iria me acompanhar para abrir o estúdio. Mas antes, tinha que encontrar com um tio dela que estava perto da minha casa. Eu estava terminando o café da manhã e não queria chegar atrasada, mas daí ela disse para eu esperar ela lá em casa que ela voltaria logo", disse.
Na verdade, a Roberta aproveitou de um descuido e furtou a chave do estúdio. Em vez de ir para o suposto encontro o tio, Roberta se dirigiu ao estúdio e tirou tudo de dentro.
"Estranhei que ela estava demorando muito para voltar e eu mandei várias mensagens, mas ela parou de responder de repente. Liguei para um vizinho do estúdio e ele contou que ela tinha acabado de sair de lá com várias sacolas e mochilas cheias. Esse meu amigo até perguntou para ela o que estava acontecendo e a Roberta respondeu que estava indo fazer uma tatuagem a domicílio", contou.
Mayra foi correndo para o estúdio e fez um boletim de ocorrência no 11º DP de Santo Amaro. No mesmo dia, 16 de junho, ela fez um texto e postou num grupo de tatuadores e donos de estúdios de tatuagem chamado "Clube dos Tatuadores", com mais de cem membros.
"É um grupo filantrópico que discute vários assuntos relacionados ao ramo. A gente sabe o duro que é manter um estúdio. Todo mundo ficou indignado e logo surgiram várias histórias de tatuadores que também foram enganados pela Roberta. O grupo então ficou em alerta para tentar ajudar", disse Fernando Diz, tatuador e um dos administradores do grupo.
A união dos tatuadores foi fundamental para a localização da ladra. Roberta fez oferta de venda de alguns objetos da May e chegou a dar de presente para um tatuador as canetas especiais de tatuagem que ela furtou. "Pelo menos umas 15 pessoas disseram no grupo que já tinham sido vítimas de golpes e reconheceram a Roberta. Ela deu golpes no Rio de Janeiro e no Guarujá", disse May.
No dia seguinte, um dos membros do grupo conseguiu convencer a Roberta a ir encontrá-lo no estacionamento de um supermercado em Itapevi, na região metropolitana. Na hora marcada, estavam lá a Mayra, o pai dela e alguns tatuadores.
Roberta estava usando, inclusive, um boné que era parte da decoração do estúdio. Ela foi ao encontro acompanhada com uma namorada de 17 anos e a mãe dessa menina.
"Eu falei para o meu pai ligar logo para a polícia porque a gente não sabia se ela estava com mais cúmplices. Os seguranças do supermercado ajudaram a segurar a Roberta até a chegada da polícia. Com ela não tinha nem um terço das coisas que sumiram do meu estúdio", disse May.
Com a chegada da polícia, o grupo todo foi levado para a delegacia onde registraram a ocorrência. A mulher e a garota que estavam com a Roberta disseram que não sabiam de nada. "Para elas, a Roberta disse que estava indo emprestar os equipamentos para um amigo. Elas, provavelmente, seriam as próximas vítimas da Roberta", disse May.
Na data do primeiro BO, a tatuadora registrou uma lista parcial dos objetos que tinham sumido do estúdio. Os itens mais caros eram uma televisão e uma câmera fotográfica. "Depois eu vi que tinham sumido muito mais coisas. Até objetos da minha casa sumiram, como o controle de um videogame, camisetas e fone de ouvido", disse.
A polícia recuperou 13 agulhas e parte do equipamento de tatuagem, porém, não permitiram que a vítima fizesse uma lista atualizada dos objetos furtados.
Outro lado
A reportagem do R7 entrou em contato com a Roberta por meio de mensagem de texto e áudio. A princípio a jovem disse que queria contar a sua versão da história, mas antes iria consultar o advogado e um tio que seria corregedor da polícia. Ela contou que estava sendo perseguida e difamada nas redes sociais, porém, não negou o furto.
Ela contou que é acusada em outros dois processos judiciais. "Todo mundo só julgou sem saber de nada. As pessoas só souberam me apontar", disse. Roberta não respondeu mais as mensagens do R7 e não mandou um posicionamento sobre o caso.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo confirmou o registro da ocorrência no dia 16 de junho e que a suspeita foi detida em 18 de junho, em Itapevi. Segundo a nota, "Roberta Louise Cruz Ribeiro, de 23 anos, foi formalmente indiciada e liberada, pois não houve flagrante do crime, conforme prevê a legislação. Parte dos objetos foi devolvida pela autora, mas ela não passou informações sobre os outros equipamentos".
"A única maneira da Roberta ser punida pelos crimes que cometeu é se as outras vítimas também denunciarem e registrarem os BOs. Eu ainda não sei onde é que estão as minhas coisas, mas quero recuperar tudo. Não adiantava nada dar uma surra nela. A gente tem que fazer a Justiça funcionar dentro da lei", disse May.
Tortura no ABC
No dia 9 de junho, na região do ABC, um menor de 17 anos de idade foi torturado por um tatuador e por um pedreiro por conta de uma suposta tentativa de furto de uma bicicleta, que pertencia a um deficiente físico.
Ronildo Moreira de Araujo (o pedreiro) e Maycon Wesley Carvalho dos Reis (o tatuador) foram presos no dia 10 de junho, após as imagens gravadas pelos dois durante a sessão de tortura terem sido divulgadas. Maycon, que também é conhecido como Tato Reys, escreveu "Sou ladrão e vacilção" na testa do adolescente.
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