Relatos mostram os desafios de ser pedestre na capital paulista
Divulgação PMSPO deslocamento diário a pé dos paulistanos este ano cresceu em relação a 2020, subindo de 41% para 57%, segundo uma pesquisa da Rede Nossa São Paulo realizada em setembro. O processo, no entanto, nem sempre é acompanhado de uma melhoria na infraestrutura para pedestres, dando lugar a queixas em relação a calçadas estreitas e esburacadas, falta de faixas e faróis e cruzamentos que não possuem tempo hábil para travessia de pessoas com deficiência ou idosos.
É o caso do aposentado Anselmo Cícero, de 72 anos, que tem uma deficiência em uma das pernas e precisa usar bengala para se locomover com mais facilidade. O idoso mora em uma região periférica na Brasilândia, zona norte de São Paulo, e relata o drama de andar pelo bairro. “Perto de onde eu moro, por exemplo, tanto a rua quanto a calçada são estreitas e, às vezes, os vizinhos ainda ficam do lado de fora conversando, o que acaba impedindo a passagem por ali. A única opção é desviar e usar a rua”, afirma.
O aposentado conta, ainda, que tem o hábito de caminhar, apesar da deficiência. “Quando a calçada tem muito degrau ou buraco, prefiro andar no cantinho da rua, mas sempre atento aos carros”, comenta.
Já Andressa Silva, de 30 anos, mãe de duas crianças, uma de nove anos e outra de apenas seis meses, diz ao R7 que não tem problemas com as calçadas, mas que já passou mutio “perrengue” com alguns faróis perto da estação Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. “Tem um farol que não fecha por nada, o motorista não tem a coragem de parar para o pedestre atravessar, se a pessoa não passar na frente correndo, o carro pega. Eu, com criança pequena, é só por Deus”, desabafa.
Para o administrador e especialista em urbanismo pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), Mauro Calliari, a mobilidade a pé é “meio que deixada de lado pela prefeitura”, já que existem órgãos como a CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) e a STM (Secretaria Municipal de Transportes) que são responsáveis por motoristas e meios de transportes, mas não respondem diretamente pelo pedestre.
Mauro Calliari, que é um dos fundadores da ONG Cidadeapé, que tem como objetivo defender o direito dos pedestres e influenciar políticas públicas na cidade, destaca o fato da desigualdade também estar presente na questão da mobilidade. “Quando você vai à Biblioteca Municipal, no centro da cidade, por exemplo, existe aquela calçada enorme, ótima, mas, ela é exceção. Quando você vai para outros bairros é outra realidade e, em algumas periferias, nem tem”.
Questionado sobre os faróis para os pedestres, Calliari explica que existe uma velocidade média para que o cidadão possa atravessar, mas pode variar dependendo da extensão da via. O especialista acredita que a CET poderia melhorar a comunicação com o pedestre nesses faróis. “Você começa a atravessar e quando está no meio da faixa [de pedestre], o farol fica vermelho piscante. Eles [a CET] informam que a partir daí ninguém mais deveria sair, mas o problema é que quando você está no meio e vê a luz vermelha piscando parece que você vai ser atropelado e acaba dando um certo nervoso”, finaliza.
Em entrevista ao R7, a arquiteta e urbanista Hannah Arcuschin explica a importância de se priorizar as políticas públicas aos pedestres. “Andar a pé, de bicicleta ou de transporte público são as formas mais sustentáveis e saudáveis de se deslocar na cidade. Os benefícios levam a uma convergência de agenda. Primeiro, melhora a qualidade do ar, diminuindo a poluição. Segundo, diminui as lesões e mortes no trânsito porque são as formas mais seguras de deslocamento e por fim, diminui o sedentarismo na população. Então, tudo isso é uma mobilidade sustentável que também beneficia a saúde”, relata.
A gerente sênior de programas relacionados a cidades saudáveis da Vital Strategies diz, ainda, que a prefeitura deveria investir em infraestrutura para o pedestre. “Pode ser um gasto da área de desenvolvimento urbano, mas significa uma economia na outra ponta, que é na área da saúde. Então, você terá um aumento de prática de atividade física, uma melhoria na qualidade do ar e uma diminuição de lesões no trânsito, o que gera menos gasto ao SUS”.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que até dezembro de 2020 mais de 1.651.813 m² de calçadas foram instaladas em toda a cidade. A região que mais recebeu os serviços de requalificação em calçadas foi a zona leste, com 790.913,12 m².
Na zona sul foram 372.893,87 m²; na zona norte 260.785,90 m²; na zona oeste foram 173.821,16 m2 e, na região central, foram 53.398,47 m².
"As obras contemplaram as 32 subprefeituras e os reparos impactam positivamente a população em toda a cidade. Também foram construídas 4.000 rampas de acesso para cadeirantes, além da implantação de pisos táteis para deficientes visuais", informaram.
Sobre os cruzamentos, a prefeitura ressalta que a população pode indicar situações de zeladoria como semáforos com falhas, buracos na via ou na calçada e diversas outras solicitações por meio do telefone 156. Com o registro, é gerado um número de protocolo para acompanhamento do serviço solicitado. O munícipe ainda pode ter acesso a orientações quanto à regularização de sua calçada no site.
No sábado (4) de dezembro, a Prefeitura enviou uma nova nota ainda com mais detalhes:
A Prefeitura Municipal de São Paulo definiu em 2019 rotas e vias a serem requalificadas pelo Plano Emergencial de Calçadas. Foram executados pela Secretaria Municipal das Subprefeituras, até dezembro de 2020, mais de 1.651.813 m² de calçadas em toda a cidade, com investimento de R$ 140 milhões, por meio do Plano Emergencial de Calçadas (PEC).
A região que mais recebeu os serviços de requalificação em calçadas foi a Zona Leste, com 790.913,12 m². Na Zona Sul foram 372.893,87 m²; na Zona Norte 260.785,90 m²; na Zona Oeste foram 173.821,16 m2 e, na região central, foram 53.398,47 m².
As obras contemplaram as 32 subprefeituras e os reparos impactam positivamente a população em toda a cidade. Também foram construídas 4.000 rampas de acesso para cadeirantes, além da implantação de pisos táteis para deficientes visuais.
Mapa digital da cidade
Para dar transparência ao plano, a Prefeitura disponibilizou no segundo semestre de 2019 as informações com as regiões contempladas no Plano Emergencial de Calçadas na plataforma GeoSampa – o mapa digital da cidade. A camada “Calçadas”, elaborada pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento e a SP Urbanismo, traz diversas informações sobre os aproximadamente 65 milhões de metros quadrados de calçadas do município, inclusive as rotas mapeadas no Plano Emergencial de Calçadas 2019 (PEC).
O Plano de Metas da Gestão 2021/2024, prevê a execução de mais 1.500.000 m² de calçadas por meio do PEC.
Vale ressaltar que a manutenção das calçadas particulares é de responsabilidade do proprietário do imóvel, conforme disposto na Lei Nº 15.442/2011.
Tempos dos semáforos
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informa que utiliza os critérios do Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito – Volume V – Sinalização Semafórica, do Contran/Denatran, de abrangência Nacional (resolução nº 483/2014) para a programação dos semáforos da cidade de São Paulo. São utilizadas, também, as recomendações de projeto do Manual de Desenho Urbano e Obras Viárias do Município de São Paulo, do ano de 2020.
A CET alerta para que as pessoas fiquem atentas ao significado da sinalização:
- A luz verde indica ao pedestre que ele pode dar início à travessia;
- O vermelho piscante informa que, para quem já iniciou a travessia durante o verde, há tempo suficiente para completá-la, com segurança, na velocidade normal de caminhada;
- O vermelho encerra o tempo para travessia para pedestres. Os motoristas, no entanto, de acordo com a legislação de trânsito, só devem iniciar o movimento, quando todos os pedestres tiverem concluído o percurso.
Vistorias atestam critérios legais
Em relação à reclamação sobre o tempo de travessia, como não foi informado pela reportagem o local exato, a CET realizou vistorias nas vias do entorno das referências dadas. Os tempos de travessia de pedestres nos cruzamentos vistoriados atendem aos critérios estabelecidos pela legislação e pelas normas de segurança. Ainda durante a vistoria, foi constatado que uma das botoeiras para pedestres apresentava problemas. A manutenção foi acionada para realizar o conserto.
Serviço:
- A população pode indicar situações de zeladoria como semáforos com falhas, buracos na via ou na calçada e diversas outras solicitações por meio do telefone 156. Com o registro, é gerado um número de protocolo para acompanhamento do serviço solicitado. A CET conta com o auxílio do R7 para divulgação do telefone SP 156.
- O munícipe pode ter acesso a orientações quanto à regularização de sua calçada no site: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/calcadas/index.php?p=36935
*Estagiária sob supervisão de Ingrid Alfaya