Mudanças de luminárias foi feita em agosto do ano passado
Tiago Queiroz/Estadão ConteúdoNas ruas do centro, não são só para iluminar que servem os postes. Muitos deles — 1.524, para ser preciso — são resquícios da São Paulo da primeira metade do século 20. O Ilume (Departamento de Iluminação Pública) os chama de "unidades ornamentais". A substituição dos globos de 45 deles no viaduto do Chá, em agosto do ano passado, entretanto, passou a incomodar aqueles que lutam pela preservação histórica.
É o caso, por exemplo, do arquiteto e urbanista Ayrton Camargo e Silva, colaborador da Associação Preserva São Paulo e professor da Faculdade de Arquitetura da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas.
— Os novos são transparentes, menores, mais baixos e com outro desenho. Ao contrário do globo original, o coroamento deste não é piramidal, mas achatadinho. Se a ideia era modernizar, trocar o vapor metálico pelo LED, por que não manter o desenho original? Isso é um desprezo com a paisagem e com a memória de São Paulo.
Questionado, o Ilume confirmou que a substituição fora necessária por causa da instalação das lâmpadas de LED. Na primeira nota enviada pela assessoria de imprensa, o órgão relatou que "a substituição foi necessária porque os antigos globos eram leitosos, o que impediria a luminosidade proporcionada pelas lâmpadas". Ainda ressaltou que "foram mantidas todas as características dos globos antigos".
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Quando o jornal O Estado de S. Paulo insistiu que os formatos eram diferentes, o Ilume enviou nova resposta, admitindo que os novos globos são "ligeiramente menores que os anteriores". O órgão frisou que tudo foi feito em "concordância com o DPH (Departamento do Patrimônio Histórico)".
A Secretaria Municipal de Cultural, responsável pelo DPH, confirma. "Apesar de não haver uma resolução sobre tombamento dos postes denominados São Paulo Antiga, a Ilume sempre consulta o DPH", informou. "Há consenso entre os órgãos que os postes fazem parte do centro da cidade."
Histórico
Silva defende o valor histórico das luminárias.
— Essa discussão é muito importante, porque a área central de São Paulo foi tratada de maneira especial em relação ao restante da cidade desde os anos 1920, quando a Light [The São Paulo Tramway, Light and Power Company Ltda] era a concessionária responsável pelo serviço. Toda a área central teve a fiação enterrada e, em comum acordo com a prefeitura, a empresa definiu o padrão da luminária, com as colunas ornamentais.
O arquiteto calcula que, no total, tenham sido cerca de 2.000 os postes do tipo instalados — muitos acabaram removidos por causa de obras nas vias e instalações de estações de Metrô.
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Esta não é a primeira descaracterização das luminárias, segundo ele.
— Nos anos 1990, começaram a substituir as de vidro por plástico. Pelo menos, naquela ocasião, respeitaram o desenho. O argumento, à época, era de que o vidro não suportava a trepidação do viário, por conta dos veículos do centro, essas coisas.
Ele conta que em 2013 enviou uma carta para o Ilume, mas não teve resposta.
Avaliação
A reportagem pediu para que o arquiteto Rafael Leão, presidente da Asbai (Associação Brasileira de Arquitetos de Iluminação), analisasse as novas luminárias do viaduto do Chá. Ele é mestre pela USP (Universidade de São Paulo) com uma dissertação sobre iluminação no centro histórico.
— Eles substituíram o globo leitoso pelo prismático, ou seja, translúcido. Trata-se de um modelo mais recente, moderno. Só que o conjunto óptico que eles instalaram é ruim: causa ofuscamento, 'ruído' na visão. Ou seja: caminhar no viaduto do Chá hoje é menos confortável do que antes.
O especialista ressalta que a sensação de segurança é outro problema.
— Não adianta aumentar a quantidade de luz se você compromete todo o resultado com um conjunto mal resolvido. É preciso uma emissão mais controlada de luz. Da maneira como está, há um brilho muito grande no campo visual dos pedestres. É como um carro dando luz alta no sentido contrário - não se enxerga o entorno, porque as pupilas se contraem. Assim, quem anda por ali à noite tem mais dificuldade para reconhecer o rosto das pessoas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.