Cláudio começou a apresentar os sintomas 20 dias depois da vacina
Reprodução/Record TVUm homem de 41 anos pode ter desenvolvido a síndrome de Guillain-Barré por causa da vacina contra a febre amarela.
De acordo com familiares, o serralheiro Cláudio Rogério Bonafé tomou a vacina no posto de saúde do bairro Vila Mirante, na zona Norte de São Paulo, no dia 22 de janeiro.
A irmã do paciente, Claudia Bonafé, conta que ele começou a sentir muita dor em algumas partes do corpo vinte dias depois, no domingo (11), mas pensou que “seria apenas cansaço”.
Na segunda-feira (12) a dor se espalhou para as costas e, na terça-feira (13), Cláudio não conseguiu mais ficar em pé — foi quando decidiu ir ao hospital.
O paciente foi atendido por médicos no pronto-socorro de Pirituba, realizou exames, mas teve alta. O serralheiro voltou para casa, mas a dor continuou cada vez mais forte.
Bonafé acordou com um quadro visivelmente pior na quarta-feira (14). Segundo Claudia, “ele não conseguia mexer as pernas”. O homem voltou ao hospital, fez exames de sangue, e a médica constatou que se tratava de reação à vacina da febre amarela.
Saiba o que fazer em caso de reação à vacina contra a febre amarela
Na quinta-feira (15), depois de mais exames, foi confirmado que o paciente tinha desenvolvido a síndrome de Guillain-Barré. Desde sábado (17), Cláudio Rogério Bonafé está internado em uma Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Municipal do Tatuapé.
Segundo Cláudia, ele não consegue movimentar as pernas e os braços e está sedado. A família teme que a doença evolua e comprometa o sistema respiratório.
A irmã de Bonafé reconhece a importância de tomar a vacina contra a febre amarela, mas agora está com medo: “Fazem campanha, tomamos a vacina, mas depois não sabemos o que vai acontecer. Será que eu vou morrer se eu tomar?”
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que o paciente está internado na UTI, mas apresenta um quadro estável e os médicos ainda investigam a relação da síndrome de Guillain-Barré com a vacina.
É preciso levar em consideração que uma reação mais grave à vacina é extremamente rara. A proporção é de um caso para cada 450 mil vacinados. Mas, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, é possível que em um número maior de vacinados, ninguém sofra uma reação. Desde janeiro, quase 3,5 milhões de pessoas foram vacinadas contra a febre amarela no estado de São Paulo. A campanha foi prorrogada até o dia 2 março.
Relação entre febre amarela e Síndrome de Guillain-Barré
O médico infectologista César Barros, que faz parte do Comitê de Emergência da Sociedade Brasileira de Infectologia, diz que casos em que a síndrome está envolvida com a febre amarela não são comuns. "É raro, mas não é impossível. É mais comum a síndrome acontecer após infecções por bactérias e outros vírus, como Campylobacter Jejuni, Epstein-Barr ou Citomegalovirus”, explica o médico.
Barros afirma que, quando se tem uma ampliação da faixa de vacinação, como ocorre neste momento na capital paulista, há um aumento do aparecimento de eventos. "Complicações neurológicas são plausíveis, apesar de serem raras”, diz.
A presidente da Sociedade Brasileira de Imunização, Isabella Ballalai, explica que a síndrome de Guillain Barré normalmente se desenvolve depois de o paciente ter uma infecção viral - que pode ser desde uma gripe até a febre amarela. No entanto, não existe comprovação de que a vacina contra a febre amarela possa causar a síndrome.
"Existem poucos casos descritos, onde a pessoa desenvolveu a síndrome depois de tomar uma vacina, mas a relação não foi comprovada cientificamente", explica Ballalai.
Outros casos
Pelo menos um caso como este já foi registrado no Brasil. Em 2009, o pedreiro Claudinei Saggin, 33 anos, desenvolveu a Síndrome de Guillain-Barré depois de tomar a vacina contra a febre amarela no município de Marau, na região Norte do Rio Grande do Sul.
Na época, o governo gaúcho organizou uma campanha por causa de um surto da doença. Quase 4 milhões de pessoas foram vacinadas.
Claudinei começou a apresentar os primeiros sintomas da síndrome cinco dias depois de se vacinar. O pedreiro ficou meses internado no Centro de Terapia Intensiva de um hospital da região, com progressiva perda muscular. A esposa, Maria José Saggin abandonou o emprego para cuidar do marido, que morreu após três paradas cardiorrespiratórias.
Por causa da morte de Claudinei, em janeiro de 2013, o Tribunal Regional Federal do Rio Grande do Sul condenou a União, o Estado e o município de Marau a pagar uma indenização de 300 salários mínimos (R$ 203 mil em valores da época) por danos morais, R$ 3,6 mil por danos materiais, além de uma pensão de 1 salário mínimo para a viúva e o filho de 11 anos.
Síndrome de Guillain-Barré
A síndrome pode comprometer o sistema respiratório
ReproduçãoÉ uma doença autoimune caracterizada por uma reação inflamatória exagerada que atinge o sistema nervoso periférico – que atua nos membros superiores, inferiores, tórax e abdome. A inflamação causa a perda de força muscular progressiva, normalmente começa nos braços e pernas e pode chegar até a atingir a musculatura respiratória.
Os primeiros sintomas são dormência e fraqueza nas pernas e braços, dificuldade para respirar e engolir.
A síndrome pode apresentar diferentes graus de manifestação, desde leve fraqueza muscular em alguns pacientes ao quadro raro de paralisia total dos quatro membros.
O neurologista do Hospital Sarah, em Brasília, Eduardo Uchôa, explica que a síndrome é uma reação autoimune do corpo. O organismo começa a combater um microorganismo, como vírus ou bactéria, e acaba atacando a si próprio.
Não existem formas de evitar a doença e as informações sobre a origem são controversas. “Por algum motivo, nosso corpo produz, através de suas células de defesa, anticorpos contra o nosso nervo periférico”, explica o especialista.
Segundo Uchôa, dois terços dos casos da síndrome de Guillain-Barré são precedidos por quadros de gripe ou diarreia e todos os sintomas aparecem em até quatro semanas após os primeiros sinais.
“No quadro inicial, o paciente, geralmente, apresenta alterações de sensibilidade, tem formigamento, sintomas um pouco inespecíficos. Isso vai progredindo para um quadro de fraqueza, chamada de paralisia flácida ascendente, que costuma começar nas pernas e vai subindo. Isso tende a evoluir ao longo de até quatro semanas”, explica Uchôa.