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Vila Mariana lidera em número de condutores habilitados em SP

Dados do Detran revelam desigualdade na capital: quatro dos cinco bairros mais populosos não aparecem nem no top 100 em CNHs

São Paulo|Gabriel Croquer, do R7

Avenida Rubem Berta, na Vila Mariana. Bairro lidera em CNHs registradas
Avenida Rubem Berta, na Vila Mariana. Bairro lidera em CNHs registradas Avenida Rubem Berta, na Vila Mariana. Bairro lidera em CNHs registradas

Apesar de a Vila Mariana não estar entre os bairros mais populosos da capital, essa região da zona sul é campeã em número de CNHs (Carteira Nacional de Habilitação) registradas na cidade, segundo um recente levantamento do Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo).

Estão habilitadas a dirigir na Vila Mariana 67.901 pessoas, o que deixa o bairro à frente de outros do centro expandido. Perdizes fica em segundo lugar, com 56.263, seguido de Bela Vista (48.450), Jardim Paulista (43.953) e Pinheiros (43.411). Em toda a capital, há 6,8 milhões de condutores.

O fato de esses bairros apareceram à frente dos mais populosos é um sintoma da desigualdade econômica entre as regiões da capital. Dos cinco distritos mais populosos da cidade (Grajaú, Jardim Ângela, Sapopemba, Capão Redondo e Jardim São Luís), os quatro primeiros nem figuram na lista dos 100 bairros da capital com mais CNHs. Somente o Jardim São Luís aparece na 75ª posição, com 14.227 condutores.

No entanto, os bairros com mais CNHs não têm obrigatoriamente percentual maior de habilitações em relação ao total de moradores. Na Vila Mariana, o segundo distrito mais populoso do centro expandido, apenas 19,7% dos moradores estão habilitados. Já Perdizes lidera, com 50,6% da população habilitada, índice parecido ao da Bela Vista.

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Universitários

Além do poder aquisitivo dos moradores da Vila Mariana, donos de autoescolas no bairro apontam a quantidade de universitários na região, que mantém alta a demanda em comparação com outros bairros da capital.

"Tem muito jovem que vem tirar carta aqui e que não é daqui, é do interior, de outros municípios. Eles vêm estudar, fazer faculdade, moram em repúblicas e fazem a CNH para depois, talvez, voltar para sua cidade”, diz a diretora de ensino da autoescola Javarotti, Vanessa Petrillo. 

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A procura vem caindo substancialmente desde a última década, segundo diretores de autoescolas ouvidos pelo R7. Os profissionais apontam a chegada de aplicativos de transporte como Uber e 99 como um dos principais motivos. 

Roberta Matos, responsável pela autoescola Machado de Assis, estima que a procura pela unidade diminuiu em cerca de 50% desde 2015. “Os jovens, hoje, não têm mais interesse em tirar [...]. Antigamente, antes de completarem 18 anos os jovens já queriam saber como faziam, se podiam fazer. Agora mudou bastante”, relatou. 

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As estatísticas confirmam a visão dos diretores. Segundo o Detran, nos últimos seis anos a procura caiu 10,5% entre jovens no Estado de São Paulo, diminuindo de 4,8 milhões em junho de 2015 para 4,3 milhões no mesmo período em 2021 na faixa etária dos 18 aos 30 anos. 

Com a chegada da pandemia da Covid-19 e o fechamento das autoescolas por meses, a demanda por carteiras ainda engatinha em alguns estabelecimentos. "O movimento ainda não voltou ao normal, talvez devido ao aumento do desemprego que a pandemia acabou provocando", diz o diretor da Exata, Antonio Jairo Batista.

Mobilidade urbana

Apesar da baixa procura da habilitação entre os jovens, o número de veículos na cidade de São Paulo ainda é de 8,7 milhões, o equivalente a 72% da população. Nesse quesito a região central volta a liderar, com Bela Vista no topo (291.315 veículos registrados), seguida por Campos Elíseos (286.508), República (260.557), Pinheiros (185.845) e Brooklin (135.145).

O transporte por veículo individual, no entanto, deve perder ainda mais o protagonismo nos próximos anos na capital paulista, afirmam especialistas. Além do desinteresse de boa parte dos jovens, acidentes, poluição atmosférica e prejuízos gerados pelos veículos pesam contra esse tipo de transporte.

O engenheiro Sérgio Ejzenberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), diz que a expansão do transporte sobre trilhos, ainda insuficiente na Grande São Paulo, é outro fator futuro que pode diminuir ainda mais a procura pela habilitação. 

"Em comparação com Londres ou Nova York, precisaríamos aumentar em sete vezes nossa rede de trilhos para igualar o serviço prestado. Quando falta transporte de massa adequado, o resultado é o uso exacerbado do automóvel", comenta. 

O doutor em engenharia com foco em mobilidade urbana Luiz Vicente F. de Mello Filho aponta também soluções tecnológicas que, a médio e longo prazo, vão diminuir o número de motoristas habilitados.

"O que vai acontecer é que a tecnologia vai fazer com que os carros comecem a ser autônomos, então o motorista não será mais necessário. Com a tecnologia 5G, que vai aumentar muito a transferência de dados na cidade, isso vai poder ser viabilizado de forma muito rápida", comenta.

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