Nova York, 25 out (EFE).- A confirmação do primeiro caso de ebola em Nova York gerou grande preocupação na 'Big Apple', onde os cidadãos se dividiram entre o medo do vírus e a raiva das autoridades por saberem que o médico infectado voltou a rotina habitual após retornar da África.
"Acho que não deveriam tê-lo deixado vir, a princípio. Se há uma quarentena de 21 dias, deveriam mantê-lo lá e depois deixá-lo voltar", explicou à Agência Efe Jeanette Curet, paciente que visitou nesta sexta-feira o hospital Bellevue, onde Craig Spencer, a primeira pessoa diagnosticada com a doença em Nova York, está internado.
Para Marlene Aguilar, que trabalha na região, é um erro permitir que pessoas que estiveram em países africanos afetados pela doença viajassem sem restrições aos Estados Unidos.
"Não sei por que têm que vir. Estas pessoas deveriam ser impedidas de viajar porque vão contagiar outras", declarou.
Esse sentimento coincide com a raiva expressada através das redes sociais por grande parte dos nova-iorquinos, que questionam sobretudo o fato de o médico infectado ter usado o transporte público e ido a um restaurante antes de se sentir mal.
Alguns especialistas também criticaram que não haja uma devida atenção para os profissionais de saúde que voltam aos Estados Unidos após cuidar de pessoas com ebola na África, como o caso de Spencer.
O diretor de ética do centro médico Langone, da Universidade de Nova York, Art Caplan, afirmou nesta sexta-feira ao jornal local "Daily News" que as autoridades deveriam oferecer alojamentos especiais em casos como esse, pelo menos para tranquilizar a população.
Da mesma forma que o "Daily News", outro grande tablóide nova-iorquino, o "New York Post", dedicou sua capa ao caso da doença, com uma imagem de dois agentes com máscaras protetoras e um cartaz escrito:"Ebola Here!" ("Ebola Aqui!", em tradução livre).
Por outro lado, especialistas e autoridades insistem que os riscos da doença se espalhar na cidade sejam pequenos.
"É uma doença que assusta, não há dúvida, mas as probabilidades de que alguém a contraia são mais remotas", disse o diretor do Centro Nacional de Prevenção de Desastres da Universidade de Colúmbia, Irwin Redlener.
Em declaração a jornalistas feita na porta do hospital Bellevue, Redlener defendeu que os americanos não têm motivos para deixar de voltar à rotina e advertiu que é necessário que as pessoas como Spencer sigam viajando para a África, a fim de combater a doença.
"Não resolveremos o ebola nos Estados Unidos sem resolvê-lo na África Ocidental", ressaltou.
Devido à situação, as autoridades locais iniciaram um grande dispositivo de comunicação para tentar passar confiança ao público.
Em menos de 24 horas passadas desde que se confirmou o primeiro caso, o prefeito Bill de Blasio concedeu duas entrevistas coletivas para deixar claro que não há motivos para alerta.
Muitos cidadãos, no entanto, não esconderam seu medo quando perguntados sobre a doença nas imediações do hospital Bellevue, que amanheceu cercado pela imprensa.
"Tenho medo porque trabalho nesta área. Inclusive, na quarta-feira, tive uma reunião aqui no hospital", explicou à Efe Aguilar, que não espera voltar ao centro médico nos próximos dias.
"Espero que não aconteça nada, porque isso dá muito medo. Dizem que não temos que nos preocupar, mas não há como evitar", insistiu.
Marta Banegas, que acompanhava sua filha em uma consulta, reconhece que as pessoas em sua casa estão aflitas e disse que pretende se prevenir contra a doença.
Outros, enquanto isso, mostravam muito mais confiança na gestão do vírus, como o caso de Epifanio Carmona, nova-iorquino de origem porto-riquenho.
"Não tenho medo nem preocupação, porque temos a melhor equipe no Bellevue. Eu vivo na vizinhança, mas não tenho preocupação porque eles sabem mais ou menos o que tem que fazer e como tratar o ebola", concluiu. EFE
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