Um dos centros de referência em atendimento gratuito contra o câncer, o Instituto do Câncer Doutor Arnaldo Vieira de Carvalho, em São Paulo, vai restringir o atendimento de pacientes pela metade a partir de segunda-feira (10). A instituição, que atende somente pacientes encaminhados pelo SUS (Sistema Único de Saúde), cortará as cirurgias pela metade. Segundo o presidente do instituto, Sérgio Luiz Innocenzi, o motivo da decisão é a crise financeira.
— Desde janeiro deste ano, estamos com uma dívida de R$ 5 milhões, mas continuamos com os salários em dia e o atendimento de todos os pacientes ocorre normalmente. Nos últimos oito meses, com a crise financeira que aumentou o desemprego, muitas pessoas deixaram de ter plano de saúde e migraram para o SUS. Por isso, passamos a atender o dobro de pacientes de um ano atrás, sem reajuste na verba do Ministério da Saúde.
Innocenzi explica que o SUS paga R$ 782 mil pelo atendimento de 130 internações cirúrgicas. Com o aumento da procura, o instituto chegou a atender 460 cirurgias, com média de 264 atendimentos — o que acarreta prejuízo de cerca de R$ 1 milhão por mês.
— Contamos com doações e diversos apoios, porém, não dá para mais manter esse número de atendimento com qualidade. Somos referência na cidade de São Paulo em tratamento de quimioterapia, radioterapia e cirurgia de alta complexidade, e recebemos aproximadamente mil novos pacientes todos os meses, sendo que a maioria é caso cirúrgico.
Os pacientes atendidos no instituto são encaminhados pelo SUS após serem diagnosticados com a doença nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Até agora, todos os pacientes que chegam ao Doutor Arnaldo Vieira de Carvalho são atendidos. A partir de segunda-feira (10), assim que a cota de 130 internações cirúrgicas for batida, o paciente receberá uma carta do instituto o auxiliando a procurar a regulação na Secretaria Municipal de Saúde, segundo Innocenzi.
— E seguiremos assim até que a situação seja resolvida. Estive com o secretário municipal de saúde, Wilson Pollara, para confirmar que ia diminuir o serviço. Ele pediu junto ao Ministério da Saúde, o complemento de R$ 1.726.000,00 por mês. Também estive duas vezes com o ministro da saúde fazendo a solicitação. Ele simplesmente disse para parar de atender. Não vamos autorizar mais esse impacto financeiro porque já chegamos ao limite.
Em nota, a SMS (Secretaria Municipal da Saúde) de São Paulo informa que está ciente da decisão do instituto e estuda um redirecionamento de verbas para poder rever o contrato de atendimento SUS da unidade. “A SMS irá direcionar esses atendimentos para outras unidades de referência. Os demais atendimentos se dão de demanda espontânea de pacientes”.
Também em nota, o Ministério da Saúde informou que os repasses federais para o Estado de São Paulo têm sido feitos regularmente. “Sobre o Instituto Arnaldo Vieira de Carvalho, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, recebeu nessa quinta-feira (06), em Brasília, os diretores da unidade para entender quais as dificuldades financeiras enfrentadas pela instituição atualmente e avaliar formas de garantir a continuidade dos serviços prestados”.
Ainda segundo a pasta, o instituto é de gestão municipal. “Contudo, cabe informar que, conforme determina a Constituição Federal, a gestão do SUS e o seu financiamento é tripartite e compartilhada entre a União, Estados e Municípios”.
Quem quiser ajudar o Instituto do Câncer Doutor Arnaldo Vieira de Carvalho pode fazer doações pelo site da instituição.
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