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Na busca pelo corpo perfeito e escultural, muita gente investe em malhação intensiva, e cada vez mais cedo. O caso da pequena blogueira fitness Anna Clara Mansur, de nove anos, de Goiânia, causou polêmica nas redes sociais pelas fotos de sua rotina de atividades físicas na academia. Nessa semana, caiu nas redes sociais um vídeo do menino romeno Giuliano Stroe, de dez anos de idade, com um corpo musculoso. Mas será que criança deve praticar exercícios físicos nessa intensidade? Especialistas ouvidos pelo R7 condenam e dizem que atividades de força muscular na infância podem prejudicar o crescimento físico e acarretar em problemas psicológicos
Reprodução/Youtube e Divulgação/Facebook - Foto: Montagem R7
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Entre os prejuízos físicos, o pediatra Tadeu Fernando Fernandes, presidente do departamento de Pediatria Ambulatorial da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), explica que a malhação sem supervisão de um profissional pode deixar a criança mais baixa.
— Isso ocorre porque há o fechamento prematuro das cartilagens de crescimento dos ossos, prejudicando a altura e o desenvolvimento normal da criançaReprodução/YouTube
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Além disso, o pediatra Marco Aurélio Sáfadi, da Santa Casa de São Paulo, afirma que “frequentar esse ambiente [academias] não é recomendado antes dos 14 anos”.
— Neste momento da vida, a criança está em fase de crescimento e a musculatura do corpo não está preparada para levantar peso ou praticar as atividades propostas na academia. Além do aspecto físico, ela também pode desencadear prejuízos psicológicos porque cria uma dependência da aparênciaReprodução/YouTube
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Segundo Fernandes, a prática de exercícios é dividida por faixa etária, ou seja, a partir dos cinco anos, estão liberados os esportes individuais, como balé e judô, e também os coletivos, como futebol e vôlei.
— Nas cidades grandes, enfrentamos grandes problemas de segurança, assim as crianças precisam se movimentar em locais fechados, como academias. Dos sete anos em diante, elas podem praticar atividades aeróbias com supervisão do profissional de educação física. Isso incluiria caminhar na esteira, andar de bicicleta e nadar. Só após os 12 anos, os exercícios de força muscular com pesos mais leves são permitidos.
De acordo com a professora da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo), Claudia Lúcia Forjaz, o início precoce de atividades físicas e até de competição, como no caso de Giuliano, antes dos sete anos, podem acarretar prejuízos emocionais e psicológicos na criança, que “ainda não são capazes de entender os motivos que a levaram a ganhar ou perder o jogo”Divulgação/Facebook
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Claudia diz que a criança deve acumular 300 minutos por semana de atividade física, o que representa uma hora por dia.
— Isso não significa exercício programado. O importante é a criança ser ativa, como andar de bicicleta ou brincar. Esses movimentos já contam para as horas diáriasThinkstock
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Funcional X Malhação
Após as polêmicas nas redes sociais, a mãe da pequena Anna Clara afirmou que a menina praticava atividade funcional e, por isso, não haveria prejuízos à saúda da menina. Claudia explica que os exercícios funcionais são movimentos do “nosso cotidiano”, portanto, não são contraindicados para crianças, desde que realizados com carga, frequência e intensidade adequadas.
— A atividade é qualquer movimento que aumente o gasto energético, como brincar e andar. Já exercício é qualquer atividade física programada, estruturada e com objetivos definidos. Por ser um treino que motiva e é divertido, se difundiu e agora se aplica a outras faixas etárias. Não há contraindicação desse tipo de treinamento para crianças, mas é preciso dosar intensidade, carga e frequênciaThinkstock
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A professora explica que o ideal é que a criança execute diferentes tipos de atividade para desenvolver o repertório motor. A prática de um único exercício físico pode limitar esse desenvolvimento.
— Quanto mais nova for a criança, mais diversificado deve ser o tipo de exercício. Assim, depois de experimentar tudo, a criança tem condições, inclusive cognitivas, para escolher o exercício que mais lhe agrada, em torno dos 14 e 15 anosThinkstock
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Desde que realizados de forma correta, o exercício na infância tem como objetivos o desenvolvimento motor, a melhora do sistema cardiorrespiratório, a prevenção de doenças crônicas — obesidade, diabetes e hipertensão —, além de ajudar no crescimento e ainda estimular a socialização, cita o médico da SBP.
Outro benefício da atividade física para os pequeninos é “reduzir as horas na frente do videogame, computador, tablet e outros eletrônicos”, lembra SáfadiThinkstock