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Concentrada, a pequena Ana, de dois anos e dez meses, seleciona a mobília da casinha de brinquedo que escolheu entre a infinidade de itens disponíveis à sua volta. Como não é possível que sua boneca durma em uma cadeira, ela diz, a menina sai em busca de uma caminha adequada para a "nenê". Suzana Maria Della Lucia, mãe de Ana, é cuidadosa e segue os passos da filha, já que, desde que começou a apresentar os sintomas do tumor no cerebelo que a levou à mesa de cirurgia em abril deste ano, a menina frequentemente perde o equilíbrio e cai, correndo o risco de se machucar.
Ana é um dos milhares de pacientes que se beneficiam da estrutura do Graac (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), na Vila Mariana, em São Paulo. A menina de três anos e seus pais recebem atendimento e suporte emocional de voluntários da instituição diariamente, desde que deram início ao tratamento de combate à doença
Texto e entrevista: Marcella Franco, do R7Eduardo Enomoto/R7
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Desde que a filha Ana foi diagnosticada com meduloblastoma, Suzana, professora universitária do Espírito Santo, se mudou com o marido para São Paulo, onde se instalaram em um apartamento emprestado por um amigo. Este tipo de câncer é uma das neoplasias do sistema nervoso central mais frequentes na infância, com 20% a 30% de incidência.
Uma pesquisa realizada entre 1990 e 2000 no Departamento de Pediatria do Hospital do Câncer de São Paulo apontou que o sexo masculino sofre com 57,7% dos casos, e que a idade média das crianças acometidas pelo meduloblastoma é de seis anosEduardo Enomoto/R7
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No Graac, os pais de Ana acompanham o tratamento totalmente gratuito da filha, e encontram também apoio nos profissionais que, sem receber qualquer tipo de remuneração, dedicam seu tempo a pacientes e acompanhantes
A Culpa É das Estrelas: voluntários da vida real garantem que os grupos de apoio fazem “milagres”Eduardo Enomoto/R7
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Suzana se emociona ao descrever a importância da presença das voluntárias.
— Elas ajudam em tudo, desde coisas pequenas, como pegar um brinquedo, até dando suporte emocional quando a gente precisa. Elas nos escutam quando a gente precisa desabafar. E elas têm um carinho tão grande com as crianças que, de pacientes passam a ser filhos delas tambémEduardo Enomoto/R7
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Para se dedicar em tempo integral à recuperação de Ana, os pais precisaram deixar a filha mais velha, uma adolescente de 14 anos, com a avó, em Minas Gerais
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Tudo aconteceu muito rápido na vida da família de Ana. Dos primeiros sintomas — que incluíam os problemas motores e também dificuldades para enxergar — até a viagem a São Paulo, onde consultariam um neurocirurgião, foram apenas poucos dias.
— Após a operação, ele de pronto nos encaminhou para os médicos do Graac, e estamos aqui desde entãoEduardo Enomoto/R7
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Assim como Suzana, outras centenas de mães e pais encontram nos braços e nas palavras dos voluntários do Graac o apoio que precisam para continuar esperançosos durante o tratamento dos filhos, e também para conseguir, eles próprios, passar força às crianças, naturalmente fragilizadas por todo o processo
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A dona de casa Cleonice Vicente passou anos levando a filha Maísa, de cinco anos, todos os dias às instalações do Graac. A menina teve um tumor no olho diagnosticado quando tinha apenas nove meses, e precisou fazer quimioterapia até se recuperar completamente da doença. Agora, as duas, que moram em Franco da Rocha e precisam pegar um ônibus e um metrô até a Vila Mariana, vão ao grupo apenas uma vez a cada quatro meses.
— Aqui, somos tratadas tão bem que não tenho absolutamente nada de que reclamarEduardo Enomoto/R7
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Fundado em 1991, o Graac é uma instituição sem fins lucrativos, criada para garantir a crianças e adolescentes com câncer o direito de alcançar todas as chances de cura com qualidade de vida. O hospital realiza cerca de 3.000 atendimentos anualmente, entre sessões de quimioterapia, consultas, procedimentos ambulatoriais, cirurgias, transplantes de medula óssea e outros
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A voluntária Lea Della Casa Mingione foi uma das criadoras da instituição, ao lado de Sérgio Petrilli, chefe do setor de Oncologia do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina, e do engenheiro voluntário Jacinto Antonio Guidolin
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O moderno hospital do Graac tem nove andares e dois subsolos, em um total de 4.200 m². Desde 2008, o voluntariado do Graac é certificado com o ISO 9001. Mesmo sem remuneração, a procura para trabalhar na instituição é tanta que há uma lista de espera com 500 candidatos
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