Diagnosticado com leucemia, o pequeno Mateus Padetti, de cinco anos de idade, é o grande protagonista da página Liga do Super Mateus, que já tem mais de 2.700 seguidores no Facebook. Lá, é possível ver fotos do garoto visitando o hospital e fazendo sessões de quimioterapia vestido como um Jedi — classe de personagens da série de filmes Star Wars, da qual o menino é fã de carteirinha.
A Liga do Super Mateus foi criada pela mãe do menino, Carla Valezin, em agosto de 2016 para chamar atenção sobre a leucemia e angariar doações de sangue que pudessem ajudar seu filho. Deu certo: nos últimos oito meses, mais de 2.000 doadores já deram sua contribuição no banco de sangue do Hospital Santa Catarina, de São Paulo, onde ele está sendo tratado.
Carla garante que ele adora a brincadeira: “Faz bem até pra autoestima dele. Ele sabe da existência da página e pede para eu postar fotos e vídeos dele com mensagens para o público”, diz. O sucesso é tamanho que até o ator americano Mark Hamill — que interpreta Luke Skywalker, um dos principais personagens da saga — compartilhou uma foto do garoto nas redes sociais.
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Outro dos objetivos da campanha é incentivar a doação de medula óssea, já que Mateus vai precisar de um transplante para dar continuidade ao seu tratamento. Na página, Carla divulga informações sobre locais de doação de medula e demais informações úteis para os voluntários, além de dados sobre outros pacientes que precisam de ajuda. O esforço é pesado porque o processo para encontrar um doador compatível, infelizmente, não é fácil: dados do Redome (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea), órgão associado ao Inca (Instituto Nacional do Câncer), revelam que as chances de cada paciente encontrar um doador compatível fora da própria família são de 1 entre 100 mil pessoas. Em exames, Carla e o pai da criança já demonstraram incompatibilidade.
A oncologista pediátrica do Hospital Santa Catarina, Carlota Moraes, explica que a busca é realmente difícil, mas geralmente traz bons resultados.
— Esse número impressiona e não é um processo fácil, mas a maioria das crianças que precisa acaba encontrando um doador, já que existe uma rede internacional. O banco de medula do Brasil hoje é vinculado ao banco mundial, de forma que existe a busca de um voluntário pelo mundo inteiro. Então normalmente, apesar de difícil, a gente tem sucesso em encontrar desse doador.
Carla conta que Mateus foi cadastrado no Redome na semana passada. "A expectativa é de que, assim que for encontrado um doador compatível, o transplante se dê em cerca de quinze dias", afirma. A página no Facebook, por sua vez, deve continuar.
— Queremos mantê-la com o nome de Liga dos Heróis, até pra desvincular a iniciativa do nome dele. A ideia é continuar divulgando a causa, os locais de doação de medula óssea, as informações sobre como doar e ajudar em ações relacionadas à leucemia.
Câncer comum entre crianças e adolescentes
O primeiro diagnóstico de leucemia para Mateus, relata a mãe, veio em maio de 2015. Àquela ocasião, o garoto apresentou febre alta sem causa detectada por um mês. Ao fim do período, foi internado e a família recebeu a confirmação de que ele sofria deste tipo de câncer — que se origina na medula óssea e altera a produção de glóbulos brancos pelo organismo. Embora tenha passado por tratamento com quimioterapia e respondido bem por mais de nove meses, Mateus teve uma recaída no segundo semestre do ano passado, o que fez com que o transplante de medula óssea se tornasse a única opção viável.
Erros imprevisíveis explicam mutações que causam câncer
Segundo estimativa do Inca, devem ser diagnosticados cerca de 12.600 casos novos de câncer em crianças e adolescentes de até 18 anos no Brasil em 2017. O tipo mais frequente nestas faixas etárias, de acordo com o instituto, é justamente a leucemia — que totaliza aproximadamente 29% dos casos.
Saiba como doar
Para doar medula óssea, o Inca afirma que a pessoa deve ter idade entre 18 e 55 anos e não possuir nenhuma doença infecciosa ou incapacitante. O voluntário precisa se cadastrar em um hemocentro próximo — no site do instituto é possível encontrar uma lista com os principais centros em cada estado —, onde será retirada uma pequena quantidade de sangue. O volume coletado é analisado para a identificação de características genéticas que podem influenciar no transplante.
Os hemocentros cruzam os dados dos voluntários com os dos pacientes que precisam de transplante de medula óssea e, caso seja detectada a compatibilidade, os voluntários são contactados para a realização de exames e, posteriormente, a doação definitiva — que é feita em um centro cirúrgico, em um procedimento que requer internação de, no mínimo, 24 horas.