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Mesmo empoderada, mulher de 50 anos tem vergonha de falar sobre incontinência urinária até com os médicos

Problema é mais comum depois da menopausa, mas tem tratamento

Saúde|Dinalva Fernandes, do R7

A incontinência urinária é comum após menopausa
A incontinência urinária é comum após menopausa A incontinência urinária é comum após menopausa

A nova mulher de 50 anos é apontada por especialistas como empoderada, dona de si e mais autoconfiante. As mulheres falam de diversos assuntos, até então considerados tabus, mas ainda se sentem envergonhadas com um problema natural, que ocorre principalmente após a menopausa: a incontinência urinária. A maioria não aborda o assunto com amigas, muito menos com os médicos, e o problema pode afetar a autoestima, a sexualidade e até a vida social dessa mulher, segundo o ginecologista e obstetra José Bento.

— As mulheres vão à consulta e falam sobre diversos assuntos, como pênis do marido, orgasmo, dor ao transar, que não está dormindo etc. Porém, não falam se escapa um pouco de xixi quando dão risada, por exemplo. No meu consultório, todas as minhas pacientes com mais de 40 anos passam com uma fisioterapeuta, que vai ensiná-las a exercitar o assoalho pélvico, é com ela que elas abordam o assunto, não comigo. A incontinência urinária é um processo natural porque a vagina perde colágeno depois da menopausa. É natural, mas não é normal e tem tratamento.

De acordo com o ginecologista, uma em cada quatro mulheres com mais de 40 anos sofrem com incontinência urinária ou bexiga hiperativa — quando a pessoa tem urgência em urinar. Na faixa acima dos 60 anos, o percentual chega a 50%. Muitas mulheres que tiveram filhos por parto normal também sofrem com incontinência.

— É por isso que o governo francês oferece dez sessões gratuitas de fisioterapia para mulheres que acabaram de ter filhos, pois 80% dos partos feitos lá são normais ou naturais.

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Para a antropóloga e escritora Mirian Goldenberg, a maioria das mulheres se sente envergonhada para falar de determinados assuntos, enquanto que para outros são desinibidas, porque há diferença grande entre o discurso e o comportamento.

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— Há uma distância enorme entre o que a gente fala e o que a gente faz, e o mais difícil de mudar são os valores, a mentalidade, que pode demorar séculos. A gente acha que é moderna, mas nossos valores e nossa cultura não são tão modernos assim. A mulher dentro de cada uma de nós tem vergonha do próprio corpo, que foi muito reprimido.

A especialista explica que se as mulheres entenderem que existe essa ambiguidade sofrerão menos.

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— Vivemos em uma cultura que valoriza a juventude. Se a gente entender que não somos fracassadas porque não somos as únicas a fazer xixi quando damos risada ou que estamos engordando, a gente sofre menos. Grande parte da nossa vergonha e sofrimento não é um fracasso individual, mas parte da cultura. Na Alemanha, por exemplo, mulheres de 70 anos não falam de velhice porque lá as pessoas só são consideradas velhas quando não conseguem fazer o que costumavam fazer. Não é questão da aparência do corpo. Aqui, mulher de 30, 40 anos já está sofrendo.

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A incontinência urinária é natural, mas tem tratamento
A incontinência urinária é natural, mas tem tratamento A incontinência urinária é natural, mas tem tratamento

Mirian ainda conta que muitas mulheres deixam de fazer atividades do dia a dia com medo de passarem constrangimento na rua.

— Essas mulheres não vão ao teatro, ao cinema, por exemplo. Elas se protegem tanto que acabam ficando só em casa. É por isso que as amigas são tão importantes para que elas possam falar sobre o assunto.

Mas quem é essa mulher de 50 anos?

Para a antropóloga e escritora Mirian Goldenberg, atualmente, a mulher na faixa dos 50 anos pertence à geração “nem nem”. Ela não é mais jovem, mas também não é velha.

— Essa mulher está em um limbo e sofre muito por isso. A idade é uma ruptura, com muitas transformações corporais, e ela ganha um rótulo que é social. A primeira coisa que de reclama é da invisibilidade. “Não me veem como mulher, sou transparente” e isso gera um sofrimento grande, é como se fosse uma morte simbólica.

A mulher de 50 anos também costuma passar pela crise do “posso, não posso”, segundo a especialista.

— “Será que posso usar cabelo comprido, franja, minissaia que usei a vida inteira, biquíni, short etc.”. É uma crise de identidade. Na minha pesquisa, 96% das mulheres disseram que precisam mudar alguma coisa, mesmo sem saber exatamente o que.

A terceira maior queixa de mulheres dessa faixa etária é a decadência do corpo e as faltas.

— “Não consigo mais emagrecer, flacidez, tudo dói, insônia, ressecamento”. É terrível. Outra coisa que incomoda bastante são as faltas. Falta tempo porque ela sempre está cuidando dos outros para agradar, falta homem, falta reconhecimento, atenção, intimidade. Elas estão muito insatisfeitas e falam muito de profundo cansaço e exaustão. A mulher brasileira é a maior consumidora de remédio para dormir, para emagrecer e para ansiedade.

Depois de se entender com a nova faixa etária, as mulheres costumam se libertar de certas amarras, garante a especialista.

— As mais novas invejam a liberdade dos homens, mas, depois que as mulheres passam dos 50, elas começam a se libertar. Primeira coisa: “o tempo é para mim. Não vou mais desperdiçá-lo tentando agradar aos outros. Vou cuidar de mim. ” Depois elas aprendem a dizer não e fazem faxina existencial, que é jogar deletar da vida todas as pessoas que não fazem bem, que não querem mais em suas vidas, mesmo que sejam amigos antigos. E, por último, elas aprendem a ligar o botão do “f...”. “Vão achar que sou uma velha ridícula ou sem noção porque eu gosto de minissaia, porque uso biquíni na praia ou porque gosto de namorar homens mais jovens? F...”. O mais importante é aprender a brincar a rir, principalmente, de si mesma.

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