Rian já havia ido a Centro Xamânico
Reprodução/FacebookA polêmica sobre a morte de Rian Brito, de 25 anos, neto de Chico Anysio e filho de Nizo Neto, não ficou restrita ao meio artístico. Correntes ligadas à psiquiatria iniciaram um amplo debate sobre as práticas xamânicas, baseadas em chás e rituais que utilizam bebidas derivadas de plantas como a ayahuasca (o Santo Daime), com o objetivo de trazer desenvolvimento espiritual aos participantes.
As controvérsias tiveram início a partir do momento em que a mãe de Rian, Márcia Brito, insinuou pelas redes sociais que as práticas do Porta do Sol, Centro de Estudos Xamânicos de Expansão da Consciência teriam sido responsáveis pela morte do filho, cujo corpo foi encontrado no último dia 3 em praia de Quissamã (RJ), após comunicação de pescadores. Informações dão conta de que, em 2014, Rian foi quatro vezes ao centro, dirigido pela atriz Leona Cavalli, que deverá entrar com um processo contra Márcia.
O psiquiatra forense Guido Palomba, membro emérito da Academia de Medicina de São Paulo e diretor da Associação Paulista de Medicina, acredita que seja plausível a influência desses rituais na morte do jovem, que, segundo a mãe, ingeria os chás.
— Ele pode sim ter se matado. Não há dúvida disso, é uma coisa muito estranha. Quando eu soube do que aconteceu, o lugar onde foi, as circunstâncias, concluo que ele pode ter se matado ou sido vítima de uma viagem psicodélica que dão essas drogas, causando um acidente. Quantos casos a gente não conhece disso? Às vezes, a pessoa acha que é pássaro e se joga pela janela. No fundo, isso é uma droga consentida e as pessoas entram nesses rituais que são verdadeiras psicoses coletivas.
Palomba considera que o aspecto curativo atribuídos a esses rituais são, na verdade, prejudiciais. E que tais plantas deveriam ter o consumo proibido.
— Faz muito mais mal, desencadeando quadros psicóticos e deixando as pessoas entorpecidas quando voltam para a vida normal. É mascarado com termo de seita, mas, no fundo, não passa de psicose. Quando essa ayahuasca é ingerida, as pessoas acabam entrando em quadro psicótico de ruptura com a realidade. Aí falam que viram isso, aquilo, abriram a mente...são viagens iguais àquelas de quando foi sintetizado o LSD. Esse rapaz, provavelmente, caiu em uma situação dessas, se for confirmado que ele fazia uso dessas drogas.
Legalizada para rituais
Na opinião do psiquiatra Jair Mari da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), qualquer tipo de associação entre a morte de Rian e uma utilização de substâncias nesses rituais não tem fundamento.
— Acho que é difícil isso acontecer. A planta é usada em um ritual, em determinada circunstância, tanto é que é aprovada legalmente. As pessoas não usam essa planta fora do contexto religioso. E o que se toma da planta fica circunscrito à ação naquele momento, não tem um efeito duradouro. É muito difícil isso induzir a um surto psicótico e explicar o comportamento dele.
Para Mari, não há qualquer evidência que possa relacionar esse tipo de ritual à morte do rapaz e uma opinião deste tipo, nesse momento, é muito mais baseada no trauma emocional da mãe. A ayahuasca é legalizada para o uso em rituais religiosos, algo que, segundo Palomba, não deveria acontecer. Mas o psiquiatra Mari discorda.
— Fazer essa relação [da morte com o ritual] é difícil do ponto de vista psicofarmacológico. A ação da droga passa, depois o indivíduo vai fazer as coisas dele. Ela [a mãe] está querendo achar um culpado por essa situação, mas é difícil explicar por este motivo.
Pesquisa estuda potencial de tratamento da ayahuasca com dependentes químicos
Palomba afirma que rituais do tipo do Santo Daime, ao se basearem em plantas como a ayahuasca, estão utilizando alucinógenos, como a mescalina e a psilocibina, e que o efeito não necessariamente é restrito ao ritual.
— Tome um mundo de ácido lisérgico e, depois que você sair, veja se você não passa dias, meses ou, às vezes, a vida inteira tendo flashbacks ou depressões! Isso não é assim inócuo, principalmente nos predispostos. Pode ser desencadeado ou criado um núcleo depressivo e delirante que a pessoa não tinha ou que estava adormecido.
Ao se defender pelo Facebook, a atriz Leona Cavalli, lamentando a morte do rapaz, disse que faz parte do Centro de Estudos Xamânicos de Expansão da Consciência e que a entidade é idônea e regularizada, inscrita no Conad (Conselho Nacional Antidrogas). Ela também diz que é membro da ONG Paz sem Fronteiras.
— Rian foi ao Centro de Estudos, em 2014, apenas por 4 vezes, uma delas com sua mãe [que não conheci, pois não estava nesse dia, mas respeito muito sua dor, e até mesmo o fato desta senhora estar escrevendo meu nome, neste momento de sofrimento]. Depois nunca mais o vi, nem tive nenhum tipo de relação com ele. Agradeço a todos a compreensão, e peço por favor que respeitem o silêncio, para não tornar o sofrimento um sensacionalismo. Muita LUZ e PAZ a todos.
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