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Mosquitos estão cada vez mais resistentes aos inseticidas e exagero no uso aumenta casos de doenças

Especialista relaciona uso exagerado de sprays à propagação de zika, dengue e chikungunya

Saúde|Ana Luísa Vieira Zucchi, do R7

No Brasil, mosquitos resistentes à ação dos inseticidas se reproduzem cada vez mais
No Brasil, mosquitos resistentes à ação dos inseticidas se reproduzem cada vez mais No Brasil, mosquitos resistentes à ação dos inseticidas se reproduzem cada vez mais

Se você apela para o spray inseticida ao menor sinal da presença de mosquitos, fique atento. O exagero pode levar à proliferação de doenças como dengue, zika e chikungunya, segundo afirma Ademir Martins, entomologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). De acordo com o especialista, a utilização indiscriminada de inseticidas, especialmente nas épocas mais quentes do ano, tem bem menos eficácia do que se supõe — além de favorecer a reprodução de mosquitos e pernilongos muito mais resistentes.

— Pelo princípio da seleção natural, os insetos que resistem aos inseticidas se mantém no ambiente e se reproduzem, passando à frente essa mutação genética que lhes permite sobreviver diante do inseticida. O resultado é um uma população de mosquitos e pernilongos cada vez mais tolerante aos produtos. As doenças como zika vírus, dengue e febre chikungunya, por sua vez, são transmitidas mais facilmente. Para piorar a situação, as opções de inseticidas disponíveis no mercado e certificadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) são poucas, e todas já muito usadas dentro das residências.

Segundo o especialista, a prioridade para reverter o quadro dramático devem ser medidas de prevenção — tanto contra os pernilongos como contra mosquitos como o Aedes aegypti. Os inseticidas devem ser encarados como o último recurso. Só em casa já dá pra fazer muita coisa antes de buscar ajuda nos sprays. O primeiro cuidado, é claro, é remover possíveis criadouros de larvas pelo menos uma vez por semana.

— Não basta retirar os recipientes com água parada uma vez por mês. O ideal é eliminá-los semanalmente, já que o ciclo de vida do Aedes — do ovo ao inseto adulto — leva de sete a 10 dias.

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Das barreiras aos repelentes

Investir em barreiras físicas — como telas nas portas e janelas — também é uma boa solução, já que elas impedem que os insetos entrem na residência. Mosquiteiras sobre as camas e berços são outras boas opções especialmente em relação aos pernilongos, que atacam durante a noite.

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No que diz respeito aos aparelhos elétricos — pastilhas ou recipientes com líquidos que são plugados na tomada —, Martins indica que o ideal é recorrer a produtos de ação repelente, e não inseticida.

— Os produtos de ação repelente simplesmente afastam os insetos, e não matam. Desta forma, não selecionam nenhuma população de mosquitos mais resistentes. Em relação aos cremes e outros repelentes aplicados sobre a pele, o importante é sempre comprar soluções de marcas confiáveis e usá-las segundo as instruções do fabricante.

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Técnicas caseiras, como queimar trapos de roupa ou velas de citronela e andiroba até funcionam, mas não são suficientes.

— A pessoa é livre para recorrer aos métodos que quiser. O problema é quando a população utiliza essas soluções — que não têm eficácia cientificamente comprovada — em substituição às medidas de prevenção.

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Em relação às vitaminas do complexo B — que muitos acreditam funcionarem como um repelente para quem ingere —, o especialista aponta que os resultados dependem muito da pessoa.

— O que acontece é que, no corpo humano, as vitaminas do complexo B favorecem a eliminação de odores que, muitas vezes, afugentam os mosquitos. Mas essas vitaminas são metabolizadas de forma diferente por cada indivíduo, e sua incorporação à dieta deve ser feita sempre com o acompanhamento de um médico, que pode dizer ao paciente as doses exatas a serem ingeridas. Lembrando ainda que complexo B é um medicamento — e tudo o que é medicamento, em excesso, pode também fazer mal à saúde.

Esforço conjunto

Remédios e medidas paliativas à parte, Ademir ainda ressalta que as ações de prevenção devem mobilizar tanto a população como os governos.

— Quando as administrações públicas não fazem nada a respeito da poluição nos rios, por exemplo, estão contribuindo para a reprodução dos pernilongos, que preferem águas ricas em matéria orgânica para se procriar. Irregularidades no abastecimento de água, por sua vez, podem colaborar para o aumento de criadouros de Aedes, já que as pessoas passam a armazenar água em baldes e tinas dentro de casa. O ideal é que o esforço seja conjunto com os cidadãos eliminando os focos em suas residências e os governos fazendo a sua parte nos espaços públicos.

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