Para quem pertence ao grupo de risco da covid-19 — como é o caso de idosos, pessoas com cardiopatia, diabetes, pneumomatia, doença neurológica, doença renal, imunodepressão, obesidade, asma, doença hematológica, doença hepática e síndrome de Down — a sensação de ansiedade diante da pandemia tende a ter impactos maiores.
Iniciando a vigésima nona semana de gestação, a microempreendedora Regina Lucana Rodrigues, de 32 anos, tem trabalhado cerca de 12 horas diárias em casa para fechar no azul as contas de sua empresa de eventos, enquanto divide a rotina de cuidados com o filho Tomás, de 1 ano e 9 meses, ao lado do marido e sócio, Victor Rodrigues. Oficialmente parte do grupo de risco da pandemia de coronavírus desde o dia 9 de abril, a empresária tem enfrentado sintomas de ansiedade e dores na barriga durante a gravidez.
"O único conforto é estar perto da minha família. Mas tenho medo do dia de amanhã. Como empresária, tenho contas para pagar na empresa. Não estou recebendo para pagar o trabalho dos outros, nem para meu plano de saúde."
O psiquiatra Henrique Bottura explica que quando estamos sob esse impacto de preocupação, ficamos mais vigilantes sobre nossas manifestações. A ansiedade tem manifestações piscossomáticas, o que pode gerar um agravamento de sintomas para quem tem doenças crônicas.
Entendo as pessoas que precisam trabalhar%2C mas é desesperador
É o caso do professor de Educação Física Rafael Manço, de 36 anos. Durante as primeiras semanas da pandemia, Rafael teve que lidar com a internação da filha Manuela, de 2 anos, e viu seus sintomas de asma se intensificarem. Segundo o educador físico, observar o clima de despreocupação nas ruas enquanto a filha estava no hospital trazia uma sensação ainda maior de frutração e ansiedade.
"Quando você pega o carro para fazer coisas básicas, sente que as pessoas não levam muito a sério o vírus. Entendo as pessoas que precisam trabalhar, mas é desesperador ver algumas situações, especialmente depois do apuro que passei com a Manu. Meu psicológico ficou muito abalado", diz Rafael.
Não sou só um número. Não escolhi ter uma doença
Quem também se sentiu frustrada ao ver a desperocupação de conhecidos com o decreto de quarentena foi a engenheira civil Karla Moraes, de 43 anos. Diagnosticada com esclerose múltipla desde 2015, ela conta que ficou especialmente desapontada com comentários em grupos de WhatsApp no estilo "só morre quem é grupo de risco."
"Eu não sou só um número e não escolhi ter uma doença. Eu também tenho família e trabalho. É muito triste ver gente levando na brincadeira"
A psicóloga Triana Portal aponta que a mudança nos relacionamento durante a pandemia é uma realidade "até para os mais resilitentes."
"Comentários desse tipo afetam porque reafirmam o medo e aumentam o desespero. É como se estivéssemos encurralados, sem saída. Fato é, que grupo de risco ou não, todos nós saíremos diferentes dessa pandemia."