27 de Maio de 2016
Doce experiência leva ao maior consumo e consequentemente à dependência
O veto a fabricação e a comercialização de cigarros aromatizados no Brasil foi uma medida de saúde pública, feita pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para, sobretudo, afastar crianças e adolescentes do consumo desses produtos. Além de evitar que os jovens ganhem uma doce memória de suas primeiras tragadas, tirar esses exemplares do mercado pode também diminuir os sérios riscos à saúde que a população corre ao fumá-los cotidianamente.
Isso porque, pesquisas mundiais mostram que o consumo dos cigarros com sabor tende a causar dependência mais rápida do que os cigarros tradicionais. Tese defendida pelos especialistas consultados pelo R7.
Segundo a presidente da comissão de tabagismo da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, Maria Vera Cruz de Oliveira Castellano, o aditivo presente no cigarro camufla o gosto amargo habitual fazendo com que o consumo seja agradável e, por consequência, mais intenso. Some a isso, os efeitos que os próprios aditivos têm de disfarçar inconveniências do produto, e bingo: o consumidor logo se vicia.
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- Os mentolados, por exemplo, têm um efeito anestésico que irrita menos a garganta que a inalação da fumaça pode causar, podendo também aumentar o consumo. Já o açúcar aumenta o potencial de dependência da nicotina, que também pode elevar o consumo.
O uso dos produtos de tabaco provoca a morte de 5 milhões de pessoas a cada ano no mundo. No Brasil, são 200 mil mortes anuais. Ao todo, são 25 milhões de fumantes no país, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva).
Gosto doce, saúde amarga
Além desses detalhes, a adição de sabores pode ainda causar sérios problemas de saúde, já que se unem as mais de 4.000 substâncias tóxicas contidas dentro de um só cigarro, ressalta a pneumologista.
- O açúcar inalado tem potencial cancerígeno, o chocolate tem ação bronquiodilatadora, que pode aumentar a absorção de nicotina pelo organismo e o cravo, quando inalado, pode causar hemorragia pulmonar.
Nos cigarros saborizados, há ainda a presença da nicotina, a grande responsável pela dependência e pelas doenças cardiovasculares. Por ser vaso constritora, seu consumo diário aumenta o risco de infarto, derrame e de se desenvolver a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), diz Maria Vera Castellano.
Junte tudo isso às substâncias oxidantes que estão relacionadas ao envelhecimento precoce da pele, a alteração dos níveis de estrógeno nas mulheres, que causam a menopausa e a osteoporose precoce, e ao potencial cancerígeno do alcatrão, fortemente ligado aos tumores no pulmão, na laringe e na bexiga, para entender que ainda é possível deixar o que era muito ruim para a saúde, se tornar ainda pior.
De acordo com o coordenador da comissão de Combate ao Tabagismo da AMB (Associação Médica Brasileira), Antônio Pedro Mirra, o número de doenças causadas pelo cigarro está cada vez maior.
Além das já citadas, o fumo pode ainda causar problemas digestivos, piorando úlceras e gastrites, problemas no aparelho reprodutivo, como esterilidade em homens e mulheres, aumento do risco de ter câncer no colo de útero e de mama, de aborto e, se mantido na gravidez, pode alterar o peso e o tamanho da criança ao nascer, resultando ainda em problemas de aprendizado na medida em que ela cresce.
- Crianças que nascem de mães fumantes podem trazem problemas pulmonares mais precocemente e ter um déficit no aprendizado 30% maior do que as crianças que nasceram de mães não fumantes.
ENQUETE: Você é a favor ou contra a proibição de cigarro com sabor?
Por que os jovens “caem de boca”?
Por mais que a indústria afirme não ter foco no público jovem, a pneumologista crê que o comércio dos cigarros aromatizados se volta a esse público. Opinião que vai de encontro com a das entidades médicas e da Anvisa.
- Geralmente quando o jovem experimenta o cigarro, o gosto amargo e o cheiro forte não lhe agradam. Quando vem com sabor, e hoje eles são ainda mais variados, essas barreiras são derrubadas.
Variedade concretizada em números. Enquanto havia 21 marcas de cigarros com sabor e 188 tradicionais no país em 2007; em 2010, elas já somavam 40, ante 144 das tradicionais, cita a médica. Dado que sugere “uma estratégia de marketing para atrair o público jovem como forma de compensar a redução de consumidores na população adulta – 30% na década de 80 e 17% nos dias atuais”.
Uma pesquisa divulgada pela ENSP- Fiocruz (Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz), no mesmo dia da decisão da Anvisa , mostrou que os jovens brasileiros que começam a fumar realmente preferem o cigarro com sabor. E isso mesmo tendo facilmente acesso aos cigarros tradicionais, conforme apontou o levantamento A Situação do Tabagismo no Brasil, lançado no ano passado pelo Inca, para celebrar o Dia Nacional de Combate ao Fumo. O livro reúne dados de pesquisas do Sistema Internacional de Vigilância do Tabagismo da OMS (Organização Mundial da Saúde) realizadas no Brasil, entre 2002 e 2009.
De acordo com a pesquisa do Inca, a maioria dos menores entrevistados afirmou nunca ter sido impedida de comprar um cigarro. Em Maceió, esse percentual chegou a 96,7%, enquanto em Fortaleza foi de 89,9% e em Salvador, 88,9%. Outra informação preocupante, segundo os profissionais de saúde, é que o tabagismo entre os adolescentes não diminuí na mesma velocidade que ocorre entre os adultos.
Segundo Mirra, a maioria dos fumantes do Brasil está concentrada nas camadas de baixa renda e pouca escolaridade, fruto da falta de informação sobre os malefícios do cigarro.
Como se livrar do vício?
A dificuldade de largar o vício cresce quanto maior for o tempo de dependência. Por isso é perigoso se começar cedo, enfatiza Mirra. Ter força de vontade e admitir a necessidade de ajuda são as maneiras mais eficazes de abandonar o cigarro, de acordo com o especialista.
A dica é procurar os centros de tratamento credenciados na rede pública de saúde, ou clínicas especializadas, que possuem equipes multidisciplinares formadas por psicólogos, pneumologistas, enfermeiros e nutricionistas, atuantes no tratamento psicológico e com medicamentos.
- Fazer exercícios físicos também é importante porque quando você o faz não pensa em fumar.
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