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O médico que com uma semana de vida já trilhava caminho no Incor

Gabriel Liguori, de 29 anos, foi submetido a cirurgia aos 2 anos; hoje sonha em construir um coração em laboratório

Saúde|

Pesquisador doutorando da USP quer construir um coração completo até 2030
Pesquisador doutorando da USP quer construir um coração completo até 2030 Pesquisador doutorando da USP quer construir um coração completo até 2030

Em uma sala de cursinho pré-vestibular, Gabriel Liguori mirava na mesa o adesivo que ele mesmo havia tirado da roupa depois de uma consulta médica. Estava escrito “Instituto do Coração”, um lugar que conhecia desde recém-nascido e de onde não queria sair. Deu certo. Aprovado em Medicina na Universidade de São Paulo (USP), em 2009, foi no Incor, do Hospital das Clínicas, que ele passou de paciente a médico e pesquisador.

Enquanto gesticula para explicar seu ambicioso projeto de pesquisa na USP, as unhas arroxeadas dão a pista. O doutorando de 29 anos tem uma má-formação no coração. Condição que, se o limitou na infância e adolescência, também o levou a descobrir o caminho da cardiologia. Hoje, ele quer fazer história ao ser o primeiro a “imprimir” um coração humano em laboratório.

“O coração é o meu órgão”, diz ele, com carinho, sobre a própria trajetória - da infância à universidade. Quando pôs os pés na USP, não foi difícil reencontrar o caminho até o Incor. Para lá, foi levado pela primeira vez com uma semana de vida nos braços dos pais, assustados depois da primeira consulta com o pediatra. “Auscultava, auscultava, auscultava. Até que eu perguntei: doutor, tem alguma coisa?”, lembra a mãe, a professora aposentada Elaine Liguori, de 55 anos.

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Tinha. “Uma das artérias principais do meu coração não é formada e, dessa maneira, a oxigenação do sangue não é boa”, diz Liguori e logo emenda palavras difíceis para detalhar o próprio problema. Os médicos esperaram o menino completar dois anos para submetê-lo a uma operação. No centro cirúrgico, foram seis horas - “intermináveis”, segundo a mãe - até receber a notícia de que havia sido um sucesso.

Apesar de contornado o defeito de nascença, os pais sabiam que teriam de voltar ao hospital. Na infância, Liguori fez cinco cateterismos - para examinar as veias - e outras dezenas de exames e consultas. Procedimentos pelos quais passava sem se dar conta da gravidade. Do ambiente hospitalar, lembra da brinquedoteca do Incor e do sagu de uva.

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Aos 19 anos, a aprovação em Medicina foi celebrada pela família, mas a opção pela carreira não surpreendeu. “Desde pequeno falava que queria ser médico”, conta ele - e a informação é confirmada pela mãe, que via o menino entretido sempre que apareciam imagens de cirurgias na televisão. Liguori não sabe dizer por que, mas a experiência em hospital, ao contrário de causar repulsa, despertou interesse.

Na faculdade, se envolveu com ligas de estudantes e ajudou a fundar a primeira delas voltada à cirurgia cardíaca pediátrica. Para o Incor, foi às pressas certa vez, à noite - não por causa do seu problema - mas para acompanhar, como estudante de Medicina, um transplante em uma criança. “No final, tive a oportunidade de entrar para auxiliar, tocar o coração.” E ali confirmou a veia para a cardiologia.

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A pesquisa

Para fazer o doutorado na USP, adiou por um tempo a especialização em cirurgia cardíaca. Para o futuro, quer construir um coração completo em laboratório - feito que, se alcançado, será inédito em todo o mundo. “O cirurgião é a razão pela qual estou aqui hoje. Mas, quando der certo (a pesquisa), vou poder salvar milhares de pessoas ao mesmo tempo.”

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Ele e outros cientistas testam um gel com proteínas que pode levar à diferenciação de células-tronco, e, dessa forma, ser usado para construir tecidos humanos. Ainda faltam muitas etapas - por enquanto, o que se tem são pequenos “retalhos” de um coração -, mas a pesquisa já ganhou o Prêmio Nacional de Cirurgia Cardíaca.

A proposta, diz ele, é usar as células dos próprios pacientes para a confecção do coração em laboratório, evitando incompatibilidades. “Temos 30 mil pessoas aguardando um transplante”, diz. “E ainda que os pacientes sejam transplantados, há o risco da rejeição.” Gabriel espera tornar o projeto uma realidade até 2030.

Entre uma atividade acadêmica e outra, poucos passos o separam do consultório médico, que ele visita todo ano para garantir que está tudo bem com o próprio coração. Mas agora vai sozinho. Já a mãe “ganhou alta” do cargo de acompanhante depois que ele entrou na faculdade e, ao contrário de Liguori, não tem planos voltar a por os pés no Incor. “Estou feliz de saber que ele está fazendo o quer, realizando um sonho. E no lugar mais seguro que poderia estar.” 

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