O mosquito Haemagogus é o transmissor da febre amarela silvestre no Brasil
Reprodução/Portal FiocruzUm estudo realizado pelo Instituto Adolfo Lutz e Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP (IMT-USP) publicado na revista científica Scientific Reports revelou que o vírus da febre amarela, que provocou a última grande epidemia da doença no país, teve origem no Pará, nos anos 1980.
Dali, ele se expandiu para o Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais até o ano 2000. Quatro anos depois, chegou à Venezuela, e cinco, à ilha caribenha de Trinidad e Tobago.
Em 2010, já estava presente em Roraima, no extremo norte do País, e também no Rio Grande do Sul, extremo sul, onde cepas semelhantes foram encontradas. Chegou a São Paulo em 2013, onde provocou uma epidemia e atualmente é endêmico.
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Desde 2016, quando a epidemia teve início, o país registrou 2.245 casos confirmados da doença e 764 mortes, segundo o Ministério da Saúde.
Os pesquisadores isolaram o vírus da febre amarela do tecido de 67 macacos mortos pela doença e sequenciaram seus genomas, comparando com genomas de vírus de surtos anteriores, ocorridos entre 1980 e 2015 no Brasil e em países vizinhos.
A doença foi detectada em 3.403 macacos, entre bugios, macacos-prego e saguis mortos no centro-sul do país, desde 2016. Cerca de 90% são bugios, espécie mais suscetível à febre amarela.
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No Estado de São Paulo, estima-se que 2,5 mil bugios, de uma população de 40 mil, morreram entre julho de 2016 e janeiro de 2018 devido à doença, segundo o Centro de Vigilância Epidemiológica.
Um outro achado da pesquisa foi que algumas espécies de sagui do Estado de São Paulo são resistentes ao vírus da febre amarela. "Eles morrem com o vírus, mas nao do vírus. Eles não têm lesão no fígado", afirma a veterinária Mariana Cunha, do Instituto Adolfo Lutz, uma das autoras do estudo.
Os animais são da região Noroeste do Estado, mais precisamente de São José do Rio Preto. "Estamos estudando ainda qual seu papel no ciclo, pois têm baixa carga viral. Ainda não sabemos se são capazes de se infectar e se são reservatórios, ou seja, se passam o vírus para adiante", explica.
Os resultados desse estudo ajudaram a desvendar a trajetória evolutiva do vírus. Pesquisas semelhantes estão sendo desenvolvidas pelo mesmo grupo sobre a chamada segunda onda da epidemia de febre amarela, que se refere de julho de 2017 a junho de 2018, e a terceira onda, iniciada em julho de 2018 e que terminará com o fim do período das chuvas e a chegada do inverno, quando a reprodução dos mosquitos praticamente é interrompida, segundo os pesquisadores.
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Os resultados desse novos estudos devem mostrar se a circulação do vírus acima da média no Estado de São Paulo está chegando ao fim e se o vírus continua se alastrando entre as populações de macacos, o que pode resultar em uma nova epidemia.
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