Mercado precisa passar a capacitar os contratados
Renata Ferguson/PexelsLíderes de quatro grandes empresas foram convidados pelo movimento Afro Presença, nesta quinta-feira (1º), para debater a permanência de jovens negros no mercado de trabalho. O painel, que vai até amanhã, é gratuito e online, é fruto de uma parceria entre o MPT (Ministério Público do Trabalho) e o Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas).
Os entrevistados discutiram a importância dos programas de desenvolvimento para que mais pessoas negras possam chegar a cargos de liderança e falaram sobre como ações de impacto podem diminuir os efeitos do racismo estrutural dentro das empresas. A mediação ficou por conta da jornalista Cloris Akonteh, da Record TV.
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“É necessário garantir a entrada de pessoas negras, mas também o desenvolvimento delas. As pessoas precisam ter um ambiente para compartilhar experiências e segurança psicológica dentro da empresa. Diversidade não é política do coitadinho”, disse Eduardo Lacerda, diretor vice-presidente comercial da Ambev.
Estereótipos de contratação
Luciana Paganato, vice-presidente de Recurso Humanos da Unilever, chamou a atenção para os estereótipos de contratação, que é quando as empresas levam mais em consideração a formação acadêmica do candidato e deixam em segundo plano sua experiência profissional e de vida.
“É repensar o que são esses estereótipos e o que é uma boa formação, que vá além de títulos. A principal competência é continuar aprendendo, então é começar a olhar mais a história das pessoas e buscar um ambiente de trabalho em que isso seja valorizado. Tem algumas competências técnicas que, enquanto organização, a gente busca dar o suporte”, avalia.
Evento teve a mediação da jornalista Cloris Akonteh, da Record TV
Reprodução/Afro PresençaJá Daniel Arouca, diretor de Recursos Humanos da Colgate no Brasil, apontou a problemática da exigência do domínio de inglês na hora das contratações. Para ele, é preciso levar em conta a realidade brasileira e a dificuldade do acesso à educação. Como exemplo, citou iniciativas como a de disponibilizar bolsas de estudo ao invés de exigir um segundo idioma já no momento da contratação, prática já adotada pela Ambev, por exemplo.
“Precisamos trabalhar em conjunto o ponto de inclusão e de contratação. Mesmo o idioma não sendo usado em determinadas funções, as empresas colocam isso nas exigências e isso acaba afastando as pessoas. Agora algumas empresas estão comprometidas em dar um voto de confiança à esses candidatos e colocam como plano de ação para que as pessoas se desenvolvam melhor dentro das companhias”, disse.
Desigualdade salarial
Cloris Akonteh chamou a atenção dos estrevistados para a diferença salarial no mercado de trabalho, em que funcionários negros recebem 45% a menos que brancos. “Aos meus colegas negros que estão em cargos de destaque, peço para que abram espaço para que outras pessoas negras também possam chegar lá”, disse a jornalista.
Em resposta, o presidente da Avon Brasil, Daniel Silveira, apontou que uma das saídas é capacitar os trabalhadores. “Quando o problema é estrutural, medidas homeopáticas não resolvem. A gente precisa acelerar isso, impulsionar os profissionais, dar capacitação e oportunidades para acelerar essas lideranças”, disse.
Eduardo Lacerda, da Ambev, relacionou a falta de representatividade dentro das empresas como um dos causadores dessa desigualdade. “O ponto é ter um ambiente correto para que os negros possam se desenvolver e chegar aos cargos de liderenças, para assim acabar com essa desigualdade que a gente tem”, encerrou.