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A presidente Dilma Rousseff (PT) acorda nesta quinta-feira (1º) consciente da árdua missão que lhe aguarda pelos próximos quatro anos. Governar um País com a dimensão e as complexidades do Brasil não é tarefa fácil. O R7 entrevistou especialistas de diferentes áreas para mapear os principais desafios a serem enfrentados na próxima gestão. Veja nas imagens a seguir quais são eles
Reportagem: Érica Saboya, do R7Arte R7
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Economia foi um dos temas mais abordados durante a campanha eleitoral deste ano e ainda é a principal pedra no sapato do governo Dilma. O baixo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) — soma de todas as riquezas produzidas no País — e a alta da inflação são situações que têm preocupado os especialistas da área e deverão ser combatidas nos próximos anos
Arte R7
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Após fechar 2010 com expansão de 7,5%, o PIB brasileiro tem crescido a passos lentos nos últimos anos. A previsão oficial indica que o crescimento em 2014 será de 0,9%, enquanto instituições financeiras como o FMI (Fundo Monetário Internacional) não esperam um avanço superior a 0,3%. Para o professor Ramon Garcia Fernández, do curso de economia da UFABC, os investimentos, tanto públicos quanto privados, precisam ser estimulados o mais rápido possível.
— O setor público tem uma série de investimentos, como o PAC, que estão saindo muito devagar. Eles têm que ser alavancados, porque são essenciais para estimular o investimento privado e o País voltar a crescerThinkstock
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A alta da inflação também é objeto de críticas ao atual governo. No início de setembro, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que a inflação oficial atingiu 6,51% nos últimos 12 meses, encerrados em agosto, acima do teto do governo que é de 6,5%. O índice se reflete, principalmente, no poder de compra da população.
Alguns economistas avaliam que o controle da inflação será ainda mais desafiador no ano que vem por causa da necessidade de reajuste de preços que são controlados pelo governo. Em 2015, deverão sofrer aumento energia, transporte público e combustíveis, por exemploDivulgação
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Outro desafio difícil de ser superado há diversas gestões é a reforma tributária. Os impostos elevados trazem ônus à população e diminuem a competitividade dos produtos nacionais. Para o professor Garcia Fernández, no entanto, será muito difícil a conclusão da reforma na próxima gestão.
— Isso está travado desde o governo FHC [Fernando Henrique Cardoso]. É uma complicação tão grande que ninguém tem conseguido fazer. Precisa de apoio político firme e isso será ainda mais difícil com um Congresso dividido como está agora. Acho que tirando pequenos reajustes, vai ser bem difícil implementar essa reforma nos próximos anosGetty Images
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Uma das bandeiras mais levantadas durante as manifestações de junho de 2013, a saúde pública no Brasil tem um longo caminho a percorrer até que seja considerada “Padrão Fifa”. Os atuais gastos com a saúde pública no País ficam muito abaixo do que é investido por nações que também oferecem o serviço gratuitamente, como Reino Unido, Alemanha, Canadá e Espanha
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Os gastos públicos em saúde hoje representam menos de 4% do PIB, porcentagem insuficiente na avaliação de especialistas na área. O SUS (Sistema Único de Saúde) está subfinanciado, o que vai gerando uma deterioração da qualidade do serviço, da capacitação dos funcionários e da estrutura física das unidades de atendimento.
A professora da FGV/Ebape Sonia Fleury, especialista em saúde pública, diz que o problema acaba se refletindo na qualidade do serviço privado também.
— As pessoas da classe média migraram para os planos privados, mas quem dá o padrão é o serviço público. Se ele paga pouco, isso se reflete no funcionamento do serviço privado, que vai se dispor a pagar pouco tambémMary Leal/Agência Brasília
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A questão dos leitos também é preocupante. De acordo com informações do CFM (Conselho Federal de Medicina) divulgadas na última semana, quase 15 mil leitos de internação ― aqueles destinados a pacientes que precisam permanecer num hospital por mais de 24 horas ― foram desativados na rede pública de saúde desde julho de 2010.
Para o presidente do CFM, Carlos Vital, a falta de leitos para internação é considerada a principal causa da superlotação e do atraso no diagnóstico e no tratamento, que, por sua vez, aumentam a taxa de mortalidade.
Já o Ministério da Saúde explica que a diminuição dos leitos se deu “pela saída dos pacientes atendidos pela saúde mental dos chamados manicômios. Soma-se a isso, a tecnologia que diminuiu o tempo de internação dos pacientes. Alia-se a esse processo, um grande número de hospitais de pequeno porte espalhados pelo Brasil, que deixaram de realizar internações e passaram a adotar procedimentos ambulatoriais, com objetivo de adequar a escala de produção e financiamento dessas estruturas"Bittencourt/04.02.2013/Estadão Conteúdo
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A professora Sonia Fleury destaca a importância da próxima gestão concentrar esforços na área, já que é uma das principais reivindicações da população.
— Não há duvidas de que os protestos de junho foram em torno da baixa qualidade do serviço público. A população incorporou a noção de que têm direitos. Se não acontecer, as ruas vão voltarDivulgação/ Secretaria de Saúde
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Um dos principais desafios para a próxima gestão na área educacional é o início da implementação do PNE (Plano Nacional de Educação) aprovado em 2014. Entre as metas a serem cumpridas nos próximos dez anos está a destinação de 10% do PIB para o setor. Atualmente, de acordo com o Ministério da Educação, são investidos 6,4%. Além disso, o Brasil ainda precisa combater uma taxa elevada de analfabetismo
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Outra meta que o plano prevê é a universalização, até 2016, da pré-escola para as crianças de quatro a cinco anos. Apesar de ser responsabilidade dos municípios, o governo federal tem que dar suporte. Paralelo a isso, o ensino escolar também deverá ser universalizado para a população entre 15 e 17 anos. Todas essas mudanças vão gerar uma demanda alta pela criação de vagas e construção de novas unidades educacionais
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Para o professor da UFRGS Juca Gil, especialista em políticas educacionais, outro importante desafio será a valorização dos professores.
— Muitos professores que dão aula no ensino médio público não são formados. As universidades estão formando um número relativamente suficiente de profissionais para atender à demanda, mas muitos não vão para a sala de aula porque a atratividade é ruim, tanto pelos baixos salários quanto pela falta de um plano de carreira.
Juca Gil avalia que a situação do ensino médio é a mais grave porque as salas estão superlotadas. Segundo ele, o governo federal precisa aumentar o investimento nas redes estaduais para o aprimoramento dos salários e das condições físicas das escolasPaulo Liebert/14.11.2012/Estadão Conteúdo
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Além dos problemas estruturais, o Brasil precisa combater uma elevada taxa de analfabetismo. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que 13 milhões de pessoas com 15 anos de idade ou mais não sabem ler nem escrever no País. O número corresponde a 8,3% da população.
O professor Juca Gil afirma que o governo precisa de ações mais eficazes para combater um problema dessa magnitude.
— Existem hoje várias ações muito pequenas e muito pouco eficazes. Precisa ter mais docentes formados especificamente para isso, com remuneração atrativa. Nos centros urbanos, os analfabetos estão dispersos, então não compensa para os municípios criarem salas específicas para isso porque elas não lotamArquivo/Agência Brasil
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Conflitos no campo e o déficit habitacional no País são apontados como dois grandes desafios para o Planalto na área social
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O déficit habitacional no Brasil ainda é bastante elevado. De acordo com dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em 2012, faltavam cerca de 5,24 milhões de habitações no País, apesar dos fortes investimentos em programas de moradia popular nos últimos anos
Daia Oliver/R7
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Os conflitos no campo continuam sendo um desafio importante. A demarcação das terras indígenas precisa continuar em curso, mas muitas delas são ocupadas por produtores rurais, setor que responde por 23% do PIB e tem força no Congresso Naconal
J. F. Diorio/Estadão Conteúdo
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Apesar de ter ganhado pouco espaço na campanha eleitoral, a questão ambiental deverá ser uma preocupação nos próximos anos. Minimizar o impacto das obras de infraestrutura é um dos principais desafios do País, na opinião da coordenadora política e direito socioambiental do Isa, Adriana Ramos.
— Há uma lacuna grande de cumprimento das regras e das condições que são estabelecidas no processo de licenciamento ambiental e uma pressão cada vez maior para enfraquecer esse processoArte R7
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Para Adriana, o exemplo de Belo Monte é o mais impactante. Ela cita o barramento do rio Xingu como um dos principais problemas trazidos pela obras na região. Segundo a especialista, há negligência no cumprimento das compensações ambientais acordadas para reduzir o impacto na cidade de Altamira, que tem quase 100% do seu esgoto jogado no rio.
— Uma das condicionantes da obra foi fazer o esgotamento sanitário da cidade de Altamira. Só que estão fazendo com três anos de atraso e sem fazer conexão com as casas. Vão deixar a conexão por conta de cada morador. Mas a maior parte da população não tem condições de fazer, o que vai gerar um impacto ambiental imensoABr
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O País tem orgulho da fonte prioritariamente limpa, mas ainda sofre com a falta de incentivos e de infraestrutura nesse setor. De acordo com o presidente do Grupo CPFL Energia, Wilson Ferreira Jr., 82% da fonte de energia brasileira é renovável, mas faltam acordos com metas concretas de ampliação dessas fontes e incentivos transnacionais.
— A União Europeia tem metas fixas de ampliação das fontes limpas para 2020. O Brasil tem crescimento previsto para 86% de energia renovável. Apenas a exploração da matriz eólica deve crescer para 25,5% ao ano. No entanto, falta linha de transmissão dessa energia geradaDivulgação/Cemig
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A falta de investimentos em infraestrutura ainda é um gargalo que merece muita atenção no Brasil. O tamanho reduzido da malha ferroviária, a situação precária das rodovias e a falta de interligação dessas vias com os portos são problemas a ser combatidos para que o produto nacional ganhe competitividade
Arte R7
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Apenas 12% das rodovias do País são pavimentadas segundo estudo da CNT (Confederação Nacional do Transporte). Foram analisados 98,4 mil km de rodovias em todo o Brasil, o que equivale a toda malha federal e os principais trechos estaduais pavimentados do País.
O porcentual de estradas que apresentaram problemas diminuiu de 63,8% em 2013, para 62,1% neste ano, mas, de acordo com o diretor executivo da CNT, Bruno Batista, a melhora não representa um avanço significativo na qualidade da malha rodoviária. Ele avalia que seria necessário o investimento de R$ 293,8 bilhões por ano nas rodovias do País para sanar os problemasSergio Castro /Estadão Conteúdo
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Dados divulgados pelo IBGE em 2013 mostram quem mais de 70% dos municípios brasileiros não têm política de saneamento e quase 50% não fiscalizam a qualidade da água. O governo estuda medidas para estimular a expansão dos investimentos no setor
Celso Junior/16.07.2009/Estadão Conteúdo
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O governo federal também terá que se empenhar nos próximos dois anos na preparação do Rio de Janeiro para as Olimpíadas 2016. O atraso nas obras chegou a ser criticado pelo vice-presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), John Coates, que afirmou que os preparativos para a competição no Brasil são os "piores" que ele já viu na história recente dos jogos
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O ponto que mais preocupa é a construção do Complexo Esportivo de Deodoro, que vai receber 11 modalidades olímpicas e quatro paraolímpicas durante os Jogos de 2016. As obras foram inauguradas em julho deste ano. Na ocasião, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, admitiu o atraso e disse que o complexo será entregue “em cima do laço”
Ale Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo