Polícia determinou prisão de 38 pessoas
Geraldo Bubniak/Agb/Estadão ConteúdoA Justiça Federal no Paraná determinou o bloqueio de até R$ 1 bilhão em contas e bens de investigados na Operação Carne Fraca, deflagrada nesta sexta-feira (17).
A megaoperação da Polícia Federal apura irregularidades em grandes frigoríficos brasileiros. As acusações envolvem desde venda de carne estragada até pagamento de propina a agentes públicos e lavagem de dinheiro.
Em um despacho que determina prisões, busca e apreensão e bloqueio de bens, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva destaca que o [Mapa/PR] Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Paraná “foi tomado de assalto - em ambos os sentidos da palavra - por um grupo de indivíduos que traem reiteramente a obrigação de efetivamente servir à coletividade”.
O magistrado se refere ao suborno de fiscais para permitir que frigoríficos de todos os tamanhos produzissem e vendessem carne sem certificação de qualidade e, muitas vezes, vencida ou adulterada.
Silva determinou o cumprimento de 309 mandados judiciais nesta sexta-feira (17), na maior operação já realizada pela Polícia Federal. Ao todo foram 27 prisões preventiva (sem prazo) 11 temporárias.
Entre as 40 empresas investigadas estão pequenos e médios frigoríficos, mas tabmém gigentes do setor, como a JBS (dona das marcas Friboi, Seara e Swift) e a BRF (dona da Perdigão e da Sadia).
"O exame dos indícios que emergem das centenas de horas de ligações telefônicas captadas ao longo de mais de um ano de incessante investigação, dos relatórios policiais e do cruzamento de dados bancários e fiscais realizado minuciosamente pela Receita Federal apontam para a perturbadora conclusão acerca da presença de uma organização criminosa há muito enraizada em diversos escalões da unidade do Mapa/PR", diz o despacho.
As investigações apontaram o envolvimento de mais de uma dezena de funcionários do ministério em ilegalidades.
"A quantidade de crimes cometidos diariamente por esses investigados e as trocas de 'favores' ao longo de tantos anos é tão grande que, simplesmente, não se pode imaginar que o mero afastamento cautelar de suas funções seria suficiente para se evitar o cometimento de novos crimes. Em realidade, trata-se de crimes praticados em série e que evidenciam a contaminação não apenas da estrutura interna do órgão como o envolvimento direto de uma quantidade expressiva de empresários inescrupulosos", acrescenta o magistrado ao justificar prisões.
Ao longo da investigação foi apurado que frigoríficos pequenos e grandes, como Seara e BRF (Sadia e Perdigão) cometeram diversas irregularidades. Porém, o despacho judicial destaca que (nem todos cometem todas as irregularidades adiante): reembalagem de produtos vencidos; excesso de água; inobservância da temperatura adequada das câmaras frigoríficas; assinaturas de certificados para exportação fora da sede da empresa e do Mapa, sem checagem in loco; venda de carne imprópria para o consumo humano; uso de produtos cancerígenos em doses altas para ocultar as características que impediriam o consumo pelo consumidor.
Outro lado
A JBS diz que três unidades (duas no Paraná e uma em Goiás) foram alvos da operação de hoje. Um veterinário da empresa, cedido ao Ministério da Agricultura também teve ordem judicial expedida contra ele.
"A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos. A companhia destaca ainda que possui diversas certificações emitidas por reconhecidas entidades em todo o mundo que comprovam as boas práticas adotadas na fabricação de seus produtos", diz a multinacional em nota.
Ainda no comunicado, a empresa afirma que "repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos – seja na produção e/ou comercialização - e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos".
A BRF informou por nota que "assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua". A companhia ainda declarou que está colaborando com as autoridades e que "possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas".
Operação Carne Fraca: Justiça determina bloqueio de até R$ 1 bilhão em contas de investigados