Candidatos se reuniram na noite de hoje em São Paulo
NILTON FUKUDA/ESTADÃO CONTEÚDOOito dos treze candidatos à Presidência da República participam na noite desta quinta-feira (9), em São Paulo, do primeiro debate para as eleições de outubro deste ano. O primeiro bloco foi marcado pelo confronto direto entre candidatos, com destaque para o duelo entre Guilherme Boulos (PSOL) e Jair Bolsonaro (PSL) e entre Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB).
Participam do debate na TV Bandeirantes os presidenciáveis Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede).
O encontro é marcado pela ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT. O mediador do debate, jornalista Ricardo Boechat, afirmou que Lula foi convidado. O petista, no entanto, não foi autorizado pela Justiça a deixar a sede da Polícia Federal em Curitiba (PR), onde está preso desde 7 de abril após condenação em segundo grau na Operação Lava Jato.
Economia
"Se eleito, que primeira medida tomará para estimular a contratação de trabalhadores? De onde virão os recursos?", questionou o mediador no início do primeiro bloco.
Apesar de ter sido alertado que os eleitores esperavam respostas "objetivas", Alvaro Dias não conseguiu responder à questão dentro do tempo, dedicando-se a falar sobre sua carreira.
"Essa é a questão central", declarou Alckmin. O tucano falou em redução de despesas e simplificação de impostos, além de abertura econômica e acordos comerciais internacionais.
Marina Silva disse que para ter emprego é preciso "credibilidade" e, para isso, é preciso ter "mudança profunda no país, e quem provocou isso não vai resolver o problema".
Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil precisa fazer comércio "sem viés ideológico". Alterar as leis "que desestimulam a criação de empresas". "Menos direitos e emprego ou todos os direitos e sem emprego?", questionou.
Boulos afirmou que irá revogar a reforma trabalhista, além do teto de gastos. "Nenhum país saiu da crise sem investimento público", disse. "Para isso vai ter que mexer nos privilégios dos mais ricos. Vamos ter que fazer uma reforma tributária. No Brasil, quem tem mais, paga menos. Vamos acabar com essa esculhambação que representam os privilégios em nosso país".
Ciro Gomes apresentou a proposta de gerar 2 milhões de empregos no primeiro ano de governo. "Queremos consertar os motores da economia. Vou ajudar o brasileiro a pagar suas dívidas. O empresariado está colapsado, vou descartelizar o sistema financeiro. Também vou destravar as obras que estão paradas", disse o presidenciável do PDT
Na sequência, cada candidato escolheu um oponente para responder a uma questão.
Bolsonaro questionado
Boulos questionou Bolsonaro se a política para ele é um negócio de família, elencando cinco apartamentos comprados pela família após entrar na política, apesar de ter apenas dois projetos aprovados em mais de 20 anos de Congresso.
"Quem é a Val?", perguntou Boulos. "A Val é a funcionária-fantasma que, junto do marido, cuida dos cachorros do Bolsonaro na casa dele em Angra dos Reis (RJ)", declarou. Para o candidato do Psol, Bolsonaro representa a "velha política". "Ele conseguiu comprar mais imóveis do que aprovar projetos", disse.
Bolsonaro não quis responder à provocação, dizendo que "absurdo" é o que faz Boulos, líder do movimento dos trabalhadores sem-teto, responsável por ocupações de imóveis em São Paulo.
Alckmin apertado por adversários
Ciro e Marina também escolheram Alckmin como alvo para suas perguntas.
Primeiro o candidato do PDT perguntou a opinião de Alckmin sobre a reforma trabalhista.
"Tínhamos um grande cartório, com 17 mil sindicatos no Brasil, sendo 11,5 mil de trabalhadores e mais de 5 mil patronais. Um verdadeiro cartório mantido por imposto sindical. Vamos sim prestigiar sindicatos que representam trabalhadores", afirmou Alckmin, defendendo a reforma aprovada em novembro de 2017.
"Nossa discordância é absoluta", disse Ciro na réplica. "Essa reforma produziu muito medo do futuro. Essa selvageria nunca fez país nenhum prosperar". Ciro citou países com alto salário para trabalhador e alta produtividade, como a Alemanha, chamando a reforma trabalhista brasileira de "aberração".
Já Marina aproveitou uma pergunta sobre saúde pública para duelar com o tucano.
A candidata da Rede ressaltou o SUS (Sistema Único de Saúde), mas disse que o preço é alto (pelos impostos) frente à qualidade baixa do serviço, afetando principalmente a população mais pobre e as mulheres. Ela defendeu reestruturação do sistema com mais recursos e melhor gerenciamento, com destaque para o Programa de Saúde da Família, de atenção básica e prevenção.
"Saúde básica é fundamental. Mas é interessante que entra governo e sai governo as promessas são as messas. Hoje uma boa parte das crianças não têm esgoto tratado. O PSDB não deu conta nem no Estado de São Paulo nem do Brasil", afirmou Marina.
A única mulher no debate também perguntou para Alckmin sobre sua aliança com o chamado "centrão", grupos de partidos que, segundo ela, é "responsável pelas mazelas da realidade brasileira". "Isso é fazer mudança?", questionou.
O ex-governador de SP disse que construiu aliança para aprovar no começo do governo as reformas que o Brasil precisa, como a simplificação tributária e a reforma previdenciária. "Temos de mudar rápido, sair do marasmo. E pra isso precisa ter maioria. (...) Em todos os partidos nós temos ótimas pessoas", disse o tucano.
"É o que todos dizem, porque as alianças são por tempo de televisão para se manter no poder ou para chegar a ele", retrucou Marina, dizendo que, em função do sistema de alianças partidárias, o Brasil não resolve problemas como saneamento básico. "É isso o que temos que acabar. Aqueles que criaram o problema não vão resolver o problema", repetiu ela.
Alckmin voltou a se defender afirmando que as alianças são "necessárias". "O problema não é ganhar eleição, mas governar bem", disse.
Alvaro Dias contra Meirelles
No final do bloco, Meirelles perguntou a Alvaro Dias os motivos para a economia ter desandado na gestão Dilma Rousseff (PT).
"O senhor que esteve lá é que deveria responder", afirmou Dias, em referência ao período em que Meirelles era presidente do Banco Central, entre 2003 e 2010, na gestão Lula. O candidato do Podemos criticou a alta de juros na gestão do emedebista no BC.
"A questão mais importante é de desinformação básica dos candidatos", retrucou Meirelles, ressaltando que não fez parte do governo da Dilma. O candidato do MDB disse que a dívida e os juros não subiram da forma que Dias apresentou.
O senador do Paraná disse que a dívida pública foi de R$ 37 bilhões por mês em 2016, R$ 39 bilhões em 2017 e R$ 55 bilhões em 2018. "Que administração de dívida é essa?", questionou.