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R7 Brasília

Ocorrências de incêndios em vegetação quase quadruplicaram no DF entre 2023 e 2024

Número saltou de 23 para 89 ocorrências, segundo dados exclusivos levantados pelo R7; especialistas comentam impactos

Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília

Ocorrências de incêndio aumentaram 286% no DF CBMDF/Divulgação - arq

O número de ocorrências de incêndios em vegetação, matas e florestas no Distrito Federal quase quadruplicou entre 2023 e 2024. Segundo dados exclusivos levantados pelo R7 com a Polícia Civil, os números saltaram de 23 ocorrências para 89. No período, 22 pessoas foram presas em flagrante e 38 foram indiciadas pela polícia ao fim da investigação (veja dados abaixo).

A maioria dos crimes se enquadrava no artigo 41 da Lei 9.605/98, de provocar incêndio em floresta ou em demais formas de vegetação, com pena de dois a quatro anos e multa.

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Para a professora do Departamento de Ecologia da UnB (Universidade de Brasília) Isabel Belloni Schmidt, vários fatores podem ter contribuído para o aumento dos números.

“Primeiro tivemos em 2024 um ano muito extremo, com uma seca prolongada e condições propícias para um incêndio se propagar rapidamente. Mas o que a gente precisa lembrar é que todo incêndio em período de seca é causado por ação humana. O fogo natural no Cerrado só acontece por raios, quando estamos na estação chuvosa”, explicou.


Número cresceu 286% entre 2023 e 2024 Arte R7/Luce Costa

A especialista avalia que o descuido também pode ter causado parte dos incêndios. Ela lembra que, em muitos casos, pessoas colocam fogo de propósito, por exemplo, para se vingar de alguém ou queimar uma área nativa. Isso causou uma notificação maior.

“Mas também tivemos casos de descuido. Porque nesse período, qualquer ação de usar o fogo de forma incorreta pode ter gerado um incêndio”, alertou.


Isabel pontuou ainda que o DF sofre com um sistema “mal estruturado” para o recebimento de denúncias. “Eu mesma tentei denunciar alguns incêndios e não conseguir, porque um órgão fica jogando para o outro e pedem exigências impossíveis”, lamentou.

Características do Cerrado

A professora explicou que, embora o Cerrado seja um bioma propício ao fogo, as chamas causadas pelo ser humano resultam em danos irreparáveis.


“Depois que o fogo passa pelo Cerrado, alguns dias depois a população já pode ver plantas brotando, o que causa uma impressão que o Cerrado sempre vai resistir. No entanto, precisamos saber que no bioma temos áreas de florestas, como mata de galeria e mata ciliar, que não queimam naturalmente, e quando passa um incêndio provocado pelo homem nessas regiões elas são muito afetadas e dificilmente conseguem se recuperar sozinhas”, observou.

A especialista explicou que é necessário um planejamento para recuperar essas áreas afetadas.

“É preciso retirar plantas invasoras, após o incêndio e replantar algumas árvores para tentar recuperar o que foi perdido. Esses incêndios deixa as áreas do Cerrado cada vez mais abertas, o que permite mais invasão de plantas exóticas e tem impacto na fauna”, declarou.

Isabel acrescenta que os danos também são altos para os animais.

“Mesmo o animal que consegue fugir do fogo, ele sofre com o incêndio. Porque as chamas destroem o habitat e deixam um local muito difícil para o animal viver depois. Como ele vai se alimentar se o fogo atingiu uma grande área?”, questionou.

Dificuldade para punir os responsáveis

Apesar do alto número de ocorrências de incêndios criminosos, punir os responsáveis é um desafio. O advogado Enzo Fachini explica que a obtenção de provas concretas da origem do incêndio e a identificação dos responsáveis nem sempre são possíveis.

“Isso porque esses crimes, na maioria das vezes, ocorrem em regiões remotas e de forma clandestina, sem a presença de testemunhas ou instrumentos tecnológicos capazes de identificar a atitude criminosa. Além disso, a própria natureza do fogo destrói rastros que poderiam levar aos criminosos”, pontuou.

Para o especialista, é necessário otimizar as investigações dos incêndios criminosos e atuar principalmente na prevenção, usando tecnologia de monitoramento.

“Como uso de drones e satélites que sejam capazes de identificar rapidamente o início dos incêndios. Além disso, aumentar o efetivo das equipes terrestres que devem fiscalizar as áreas de conservação seria importante na proteção do meio ambiente”, opinou.

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